terça-feira, 1 de novembro de 2011

As ciências humanas da USP: hipocrisia e atração pela delinquência

Tenho simpatia pela proposta de regulamentar o uso das drogas consideradas "leves", como a maconha. Ainda assim, repudio fortemente qualquer obstrução do trabalho policial de fazer cumprir as leis em vigor, as quais são muito claras na criminalização do porte de drogas. Se as leis atuais forem ruins, devem ser mudadas pelas vias constitucionais, não pela ação de traficantes que, aliados a militantes esquerdistas sem rumo e sem escrúpulos, afrontam a democracia e o estado de direito!


Um dos muitos pontos de atrito que eu tinha com os militantes do movimento estudantil nos anos 80, quando estava na graduação, dizia respeito justamente ao papel da polícia. Sempre que eu ficava sabendo por alunos de casos de violência no campus (e contava-se até sobre estupros!), falava na hora: "deviam ter chamado a polícia". E logo vinha a lenga-lenga: "não, veja bem, não é por aí...". Foi preciso o estudante Felipe Ramos de Paiva ter sido morto, recentemente, para que a reitoria da USP firmasse um convênio com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo a fim de permitir o policiamento do campus.
 
Foi uma medida altamente benéfica, mas a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP tinha que reagir com a obtusidade de sempre. O caso é que três alunos de geografia foram presos em flagrante por porte de maconha, os policiais que fizeram a prisão sofreram agressões físicas e seis viaturas foram depredadas; depois, um grupo de pessoas (estudantes e não estudantes) invadiu o prédio da administração da FFLCH e lá se encontram acampados; as reivindicações deles passam pela demissão do reitor (!) e pelo fim do convênio da USP com a PM.

O que a diretora da faculdade deveria fazer diante disso? Entrar imediatamente com um pedido de reintegração de posse daquele prédio público e, depois, tomar todas as medidas regimentais e legais cabíveis para punir os invasores. Mas as escolhas teóricas e ideológicas dos professores daquela faculdade são predominantemente de esquerda, o que levou a diretora e a própria Congregação da FFLCH a se colocarem ao lado dos invasores, pessoas que não representam os alunos e entre as quais podem muito bem estar traficantes interessados em ter novamente o espaço da USP liberado para o comércio de drogas!

Vínculo histórico

É fato bem sabido que a esquerda, desde o século XIX, apoia abertamente os movimentos insurrecionais que pareçam contestar a ordem capitalista e que tende a ser indulgente e até simpática com crimes comuns, os quais costuma encarar como formas "inconscientes" e/ou pouco eficazes de "resistência" ao capitalismo. O anarquismo bakuninista, por exemplo, sonhava em canalizar as ações criminosas para a realização de seus objetivos políticos (Hobsbawn, 1970). 

Hoje, essa simpatia pelas ações delinquentes pode ser detectada em militantes radicais e truculentos, como no caso de integrantes do Sindicato dos Trabalhadores da USP, e também em nossos intelectuais. Ainda assim, conforme as conveniências políticas do momento, tal simpatia é negada e escamoteada por eles. Vejamos esta afirmação de recente pronunciamento feito pela Congregação da FFLCH sobre os episódios comentados acima:
Como é tradicional em suas manifestações, a Congregação repudia com veemência o recurso a todas as formas de violência.
É pena que os professores representados por essa entidade não manifestem esse repúdio veemente nos trabalhos que publicam, nas salas de aula e em palestras. Afinal, quantos professores daquela unidade, marxistas de tendências variadas, já não externaram seu apoio à revoluções, regimes socialistas totalitários e às práticas violentas do MST? Falando português bem claro, o pronunciamento soa hipócrita à luz da produção acadêmica de certos professores representados pela Congregação. 

Há outras passagens do pronunciamento que valeria a pena comentar, mas não vou me alongar demais. Assinalar essa hipocrisia, por enquanto, já está bom.

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HOBSBAWN, E. J. Rebeldes primitivos: estudo sobre as formas arcaicas de movimentos sociais nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.

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