sábado, 2 de março de 2013

Viúvas e petralhas diante da corrupção sistêmica

Um leitor pediu que eu avaliasse, na área de comentários do post Dez anos de imposturas intelectuais e imprensa dependente, um texto publicado no Facebook. É um texto que só pode ter sido escrito por uma viúva da revolução ou por um petralha. A resposta ficaria muito longa, então achei melhor escrever um post. Vejamos o início do comentário: 

[...] apareceu hoje no facebook uma capa da Folha de São Paulo de 1998, em que a manchete dizia: "Deputado conta que votou pela reeleição por 200 mil" e a chamada ainda dizia que, segundo o deputado (do PFL) mais 4 também teriam recebido. Pois bem, abaixo desta capa da FSP de 1998, acompanha o seguinte texto [com o título] "MENSALÃO DE FHC COMPLETOU 20 ANOS".
Houve mesmo a denúncia de que deputados votaram a favor da emenda da reeleição por terem recebido propina. Será que isso é verdade? Não acuso ninguém sem provas, mas acho que deve ter acontecido, sim! Não ponho a mão no fogo por ninguém e, conforme sempre digo, procuro avaliar a corrupção de um ponto de vista institucional, não moralista. Faço isso porque julgamento moral, nesses casos, é chover no molhado. "Que vergonha! Tem que prender todo mundo", etc e tal.

E é por fazer uma análise institucional que sustento ser uma tremenda má fé comparar esse episódio com o mensalão! A diferença qualitativa entre os dois casos está no caráter sistêmico da corrupção durante o governo Lula. Conforme Roberto Jefferson denunciou - e foi corroborado pela CPMI "dos correios", pela denúncia do MPF (embora tecnicamente pífia) e pelo STF - funcionava nesse governo uma "sofisticada organização criminosa" que desviava dezenas de milhões de Reais de empresas estatais a fim de subornar parlamentares para que votassem a favor de propostas do governo. E isso sem mencionar o dinheiro que era desviado para o próprio PT, que, segundo Marcos Valério, chegou a R$ 350 milhões de Reais! O mensalão não foi um episódio isolado de pagamento de suborno para uma emenda constitucional, mas um meio de petistas ganharem dinheiro às custas do erário e ainda subornar dezenas de políticos para que votassem favoravelmente ao governo - a reforma da previdência, por exemplo, foi aprovada sob a vigência do mensalão.

Houve apenas um outro período na história do país em que apareceram evidências de corrupção sistêmica: o governo Collor, em que estourou a denúncia sobre o "esquema PC", a qual acabou levando esse presidente ao impeachment. Ainda assim, esse "esquema" movimentava bem menos dinheiro que a quadrilha do mensalão, envolvia muito menos pessoas e instituições e, ao contrário da quadrilha organizada por petistas, não envolvia o suborno de parlamentares, muito menos suborno em caráter permanente por meio de pagamentos recorrentes.

Em resumo, a má fé do texto reside no fato de equiparar a corrupção no governo Lula, que foi sistêmica, com um episódio de compra de votos que, segundo todas as evidências, teve caráter isolado. E reitero que não estou diferenciando os dois casos com base num falso moralismo, segundo o qual devemos fazer julgamentos morais comparando as quantias desviadas e a recorrência dos crimes. Não existe "meia moral", então, desse ponto de vista, é óbvio que os dois casos são equivalentes. Mas, quando se trata da questão institucional, que é o que importa para avaliar a qualidade da democracia e a eficiência do setor público, aí a quantificação faz toda diferença. Nesse sentido, não existe a menor dúvida de que o mensalão foi o pior crime cometido contra o Estado brasileiro, pelo menos desde a redemocratização! Noutros termos, a corrupção petista é a pior de todas, pois tem caráter sistêmico e atua em favor de um projeto de poder autoritário! 

O PT usa a imprensa

Ainda que se faça uma avaliação puramente ética do problema da corrupção, o PT sai bem pior na fita do que qualquer outro partido. Muito ao contrário do que ocorre no PT, as lideranças tucanas não costumam se ver às voltas com denúncias legítimas de corrupção. É por isso mesmo que os adversários do PSDB acabam se vendo obrigados a forjar provas para poderem fazer acusações de ordem ética contra os tucanos!

No post Um bode expiatório para os "aloprados" eu fiz uma pequena lista de fraudes que, desde os anos 1990, têm sido montadas para acusar políticos como FHC, Serra, Alckmin e o falecido Mário Covas de corrupção: o "dossiê Cayman", a "lista de Furnas", as investigações do MPF contra Eduardo Jorge, o suborno pago ao empresário Luiz Antonio Vedoin, a quebra dos sigilos fiscais de Serra e de seus familiares, etc. Se esses tucanos com décadas de vida pública andassem mesmo aprontando, tais fraudes não seriam necessárias.

Já no caso do PT, dá-se o contrário: Dirceu, Genoino, Delúbio, Silvinho "Landhover" Pereira, Henrique Pizzolato, João Paulo Cunha... sobre esses e muitos outros, já não existem só evidências ou investigações em curso, mas provas que os levaram à condenação! E ainda falta investigar as denúncias de Marcos Valério contra Lula, bem como o possível envolvimento deste com a quadrilha que fazia tráfico de influência junto às agências reguladoras, segundo investigações da PF. No caso de Lula e de outras estrelas do PT, não existem denúncias e indícios forjados, mas denúncias legítimas mesmo! E petistas condenados, como João Paulo Cunha e Sílvio Pereira, receberam dinheiro ou "presentes", ao invés de apenas negociarem com corruptos de outros partidos.

E isso tudo para não falar da diferença de tratamento que os partidos dão a seus corruptos. José Arruda e Demóstenes Torres foram expulsos do DEM antes mesmo de serem levados à justiça (no que o partido fez muito bem), ao passo que os petistas mensaleiros não foram expulsos do PT mesmo depois de condenados pelo STF!!! E ainda contam com a solidariedade dos companheiros, inclusive do Suplicy, que de bobo só tem a cara.

De um ponto de vista ético, portanto, não há dúvida de que o DEM vem agindo muito melhor do que o PT. Institucionalmente falando, o DEM também é superior, pois está excluindo de seus quadros as pessoas que podem fazer uso do partido para ocupar cargos públicos que lhes facultem realizar ações ilícitas.

Todavia, o texto publicado no Facebook repete a cantilena de que a imprensa é "comprada" e que, por isso, quase nada diz de corrupção entre os tucanos. A verdade é que os petralhas e seus aliados usam documentos falsos e testemunhos comprados para levar a imprensa independente a fustigar os adversários do partido, mas, quando são apanhados com a boca na botija, têm a cara de pau de dizer que os tucanos compram a imprensa para que nada seja dito...

Concluindo

O texto é tão cheio de mentiras cínicas que chega ao ponto de dizer que o mensalão pagava só 2 a 3 mil Reais por mês aos deputados só para eles trabalharem, quando todos sabem que petistas como os que eu citei também recebiam dinheiro e que o partido pagava para os parlamentares votarem a favor de projetos do governo, conforme revelou Roberto Jefferson! É por isso que Joaquim Barbosa, ao observar a questão de um ponto de vista institucional, afirmou que o mensalão foi um golpe na democracia.

Só há dois tipos de pessoas capazes de escrever coisas assim. Uma dessas viúvas da revolução socialista, como Marilena Chaui e Renato Janine Ribeiro, que estão se lixando para a democracia e preferem defender o partido a defender princípios; ou então um desses petistas que atuam nas redes sociais a soldo do partido. Sou mais a segunda hipótese.

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