Votei em Aécio Neves para presidente e, graças à virada que ele deu, já tenho candidato para o segundo turno - eu pensava em votar em branco. Não vou especular sobre as causas dessa virada, pois uma análise consistente exigiria uma batelada de dados de pesquisas de opinião qualitativas sobre as visões do eleitorado a respeito dos três principais candidatos, algo de que não disponho. Jornalistas tarimbados, como Augusto Nunes e Ricardo Setti, não conseguem ir muito além de apontar elementos subjetivos que podem ter contribuído, como a segurança demonstrada por Aécio Neves, que não se deixou abater diante da onda Marina.
E nem sei dizer quem poderia dispor de bons dados para uma análise mais profunda, tendo em vista que o Ibope e o Datafolha erraram feio, muito feio mesmo, nas pesquisas sobre a eleição presidencial e de diversos outros pleitos para governos estaduais e para o senado. Sendo assim, meu objetivo é fazer duas observações gerais com base em informações quantitativas mais seguras.
Difamar compensa
Foi só Marina assumir a liderança, e a máquina petista de difamações parou de disparar em Aécio e começou a alvejá-la. Blogueiros de aluguel, imprensa dependente de anúncios de estatais, sindicatos, "movimentos sociais", perfis falsos do Facebook, etc,, lançaram todo tipo de mentira descarada. A mais ridícula de todas foi dizer que Marina, um dinossauro socialista saído do pântano do PT há pouco tempo, pretenderia privatizar a Petrobrás e "acabar com o Bolsa Família" - que, por sinal, é uma herança de FHC...
Mas difamar funciona bem, pois Marina parou de subir e começou a cair logo depois de iniciados os ataques. É difícil dizer porque o voto oposicionista que estava com Aécio e migrou para a candidata "melancia" retornou para Aécio. Mas não há dúvida de que a máquina petista de moer reputações funciona muito bem. Aécio vai sobreviver a ela, agora que voltou a ser alvo?
Economia salvou Lula do "mensalão". Já Dilma...
Lula começou seu primeiro mandato com a popularidade nos píncaros da aprovação. Mas, já em 2005, estourou o escândalo do "mensalão" e, como era esperado, isso repercutiu numa forte queda de aprovação ao seu governo. Tanto que, alguns meses antes da eleição presidencial de 2006, pesquisas de opinião mostravam que José Serra estava na frente em intenções de voto. Mas o timing não ajudou Serra. Depois que as denúncias esfriaram, a popularidade de Lula voltou a crescer, até ficar mais ou menos no mesmo patamar de antes.
Lula se reelegeu, em grande parte, ou talvez até principalmente, graças ao bom desempenho da economia. Desempenho que se deu não graças à Lula, mas apesar dele. Tudo o que aquele populista mentiroso e cínico fez foi cuspir no prato em que comeu e dar continuidade à política econômica de FHC num contexto internacional extremamente favorável. O mundo cresceu rápido feito foguete, o preço das commodities exportadas pelo Brasil disparou e os preços dos produtos industriais que importamos baixou. Lula não fez nenhuma reforma significativa para aumentar a eficiência econômica - pelo contrário! - e os bons ventos internacionais mascararam a estagnação tecnológica da indústria brasileira.
E Dilma? Ela recebeu a herança maldita que ajudou Lula a construir, deu azar de assumir num contexto de desaceleração da economia mundial e fez burradas tão grandes ou ainda maiores do que as de seu predecessor - daí a estagflação, mesmo com represamento dos preços dos combustíveis e das tarifas de energia. Ainda assim, as políticas populistas de elevação do consumo continuavam surtindo efeito, de modo que sua popularidade rivalizava com a do padrinho: chegou a bater em 70%, até meados do ano passado.
O tombo veio em junho de 2013, quando explodiram as depredações fascistoides e as marchas contra a corrupção e mais um sem-número de outras reivindicações. A aprovação ao governo despencou para pouco mais de 35% (ver aqui), e nunca mais saiu de algo em torno desse patamar. Se a economia salvou a popularidade de Lula do escândalo do "mensalão", não foi capaz de fazer o mesmo com Dilma após a deflagração das badernas de rua e protestos.
Dá para Aécio ganhar?
Talvez. Quando Marina subiu, Aécio começou a bater um pouco mais pesado nas adversárias, e parece que isso surtiu efeito. O PSDB nunca fez oposição como deveria, então está na hora de começar a fazer isso agora. É preciso defender os valores modernos, não só pensando nesta eleição, mas em transformações de longo prazo (Cf.: Alberto Carlos Almeida trocou seu próprio livro por falso confronto regionalista).
E o grande obstáculo para ele é que a maioria do eleitorado não está atrás de um candidato comprometido com austeridade fiscal, eficiência econômica e valores democráticos. A onda Marina Silva, ainda que abortada, mostrou isso. Os pobres querem assistencialismo e boa parte dos mais escolarizados (cuja mentalidade tende a ser moderna, conforme pesquisa analisada no post acima citado) se encanta mesmo é com populistas de origem humilde e socialismo "melancia". Quando se trata de Aécio Neves, as mentiras petistas contra a racionalidade econômica - caso da independência do Banco Central e das privatizações - surtem muito mais efeito, pois o histórico do PSDB realmente mostra um maior compromisso com a racionalidade.
Como a mentalidade predominante no Brasil ainda é arcaica, já que este é um país de baixa escolaridade, a favorita continua sendo Dilma. Mas, uma vez que a economia está indo para o buraco, os escândalos de corrupção pululam por todos os lados, e Marina talvez apoie Aécio, transferindo-lhe votos importantes... pode ser que Aécio vire outra vez. Se isso acontecer, significa que Aécio acabou dando sorte no timing, ao contrário de Serra.
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Pensei em escrever um post no meu blog sobre a questão das pesquisas, mas nem sei se vale a pena: um fato que não é levado adequadamente em consideração é a questão da abstenção. Nesta eleição, ela ficou em aproximadamente 20%. Estes 20% que deixaram de votar, se comportariam dentro da média da população ou de modo diferente? A questão é que a abstenção é maior nas cidades pequenas que nas grandes cidades, o que mostra um viés que favorece o PT nas pesquisas e o desfavorece nas urnas. Porque a amostra, extrapolada pelo número de eleitores, apontará um favoritismo maior do PT nas pequenas cidades (porque mais pobres, não porque pequenas), onde a abstenção chega perto de 40%. Nas grandes cidades, onde a pobreza é menor, a abstenção ronda os 15%. Aí o PSDB e demais partidos de oposição fazem uma votação mais expressiva.
ResponderExcluirOutro fato relevante é que a abstenção é maior no nordeste que no sul. Isso também impacta nas hora de comparar a amostra extrapolada pelo número de eleitores com o resultado efetivo das urnas. Enquanto os institutos de pesquisa não corrigirem isto, continuaram com esta discrepância de 3 a 4 pontos percentuais a mais para o PT e a menos para o PSDB, o que no final dá quase 20 pontos de diferença quando a diferença real fica mais perto de 10 pontos. Isso é mais do que seria aceitável pela margem de erro (6 pontos).
Agora, de fato, a economia salvou Lula. Duvido que salve Dilma. Mas ainda assim, muito trabalho deverá ser feito. Nas grandes cidades do nordeste ela ganhou, mas não chegou a 50%. Acho que há espaço para o Aécio crescer nestas capitais. Mas a difamação será intensa! Ótimo texto, Luis! Abraço!.
Ótima análise, Fernando. É inquestionável que os grandes institutos de pesquisa têm feito um trabalho incompetente, já que os resultados das eleições extrapolam as margens de erro das pesquisas com muita frequência. Alguns andam pela internet bradando que as pesquisas são compradas pelo PT. Eu não descarto essa possibilidade, mas também não gosto de fazer acusações sem evidências concretas. Mas, uma vez que a incompetência está demonstrada, o mínimo que Ibope e Datafolha deveriam fazer era seguir a recomendação de Reinaldo Azevedo: proibir seus técnicos de ficar usando os dados das pesquisas para fazer análises políticas antes das eleições. E, enquanto isso, começarem a introduzir estimativas sobre a probabilidade de abstenção em seus cálculos. Abraço!
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