Concluindo o texto anterior (aqui), apresento as seis principais novidades do mundo rural brasileiro, tal como exposto por Zander Navarro na palestra que proferiu recentemente. Note-se que, à luz desse diagnóstico, a geografia rural e a geografia escolar são simplesmente patéticas!
1. A inédita, extensa e crescente monetarização das regiões agrícolas
Em parte, isso se dá pelo avanço da agricultura moderna, é claro. Exemplo: de 1996 a 2011, as exportações de soja para a China cresceram 400 vezes! Mas nota-se também um crescimento da circulação de dinheiro nas regiões rurais muito pobres. Na palestra, Navarro mostrou fotos tiradas em trabalhos de campo que revelam a expansão de bens duráveis, como TVs e antenas parabólicas, nesse tipo de região, bens esses que só podem ser adquiridos com dinheiro. Outra fotografia mostrava um trabalhador rural que, em vez de montar cavalo para pastorear vacas, usava uma moto.
2. Concentração da pobreza e da riqueza
Dos cerca de 5 milhões de estabelecimentos rurais do país, apenas 27.306 respondem por 51,19% da renda bruta agrícola! Navarro afirma que, de início, acreditou que isso era reflexo da elevada concentração fundiária brasileira, mas as comparações internacionais provaram que não: nos EUA e Europa, a produção se concentra em níveis muito semelhantes a esse encontrado no Brasil. Logo, a reforma agrária é inútil como forma de desconcentrar a riqueza no meio rural.
De fato, menos de 10% dos estabelecimentos rurais concentram 85% da riqueza, o que indica o pouco estímulo para a maioria dos ocupados na agricultura permanecerem nessa atividade. Daí a conclusão: no rumo atual do desenvolvimento agrário brasileiro, a tendência dos próximos dez anos é de um esvaziamento do campo.
3. O papel das inovações tecnológicas
A produtividade agrícola já não deve ser medida simplesmente com indicadores de produção por hectare ou por trabalhador, pois os métodos modernos de avaliação de eficiência se baseiam no índice de Produtividade Total de Fatores - PTF.
Esse índice cresceu com velocidade sem precedentes a partir de 2000 - mas não graças ao Estado, como visto no post anterior. Assim, a tecnologia é o principal fator responsável pela mencionada concentração da produção em poucos estabelecimentos.
4. As implicações que incidem no presente
A primeira implicação é a já comentada inutilidade do Programa Nacional de Reforma Agrária.
A segunda é a inexistência de alternativa técnica e produtiva para a chamada "agricultura convencional", baseada no uso intensivo de produtos químicos, maquinário e tecnologias de melhoramento genético de espécies.
Nesse ponto, Navarro é contundente: "a agroecologia não existe"! Os únicos modelos tecnológicos alternativos ao da revolução verde que mostram consistência são a agricultura biodinâmica, a agricultura biológica, a agricultura natural e a agricultura orgânica. Todavia, esses tipos de agricultura ecológica tendem a continuar restritos ao atendimento de nichos de mercado.
Segundo o autor, "nem há mais tempo para criar um caminho tecnológico radicalmente alternativo à agricultura moderna", como propõe a dita "agroecologia". Essa última corrente "é uma ficção", "não tem princípios estabelecidos" e consiste tão-somente de uma "ação política de contestação à agricultura moderna". Ideologia pura, enfim.
5. Termina a "oferta ilimitada de mão de obra agrícola" e começa o "novo mundo rural"
Essa tendência é resultado do esvaziamento do campo, o qual se reflete no envelhecimento das famílias rurais e noutros indicadores demográficos. A tendência à redução da oferta de mão de obra, por sua vez, reforça o incentivo econômico para a agropecuária continuar avançando na elevação da produtividade do trabalho.
6. É preciso mudar rápido para ainda "salvar" a agricultura de menor porte econômico
A questão social rural no Brasil de hoje não é mais a reforma agrária, mas sim ampliar o acesso dos estabelecimentos rurais de menor porte à tecnologia.
Mas antes que algum geógrafo faça uma interpretação torta dessa proposta, é bom destacar que, para o autor, trata-se aí de uma estratégia para auxiliar os produtores de menor porte, não de uma política que objetive resolver problemas gerais da agropecuária ou do conjunto da sociedade. Nas palavras de Zander Navarro: "é patética a oposição entre agricultura 'familiar' (produtores de menor porte econômico) versus agronegócio! Essa oposição não existe".
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No link para o livro está escrito "campitalismo" ao invés de "capitalismo".
ResponderExcluirValeu por avisar. Já corrigi. Abraço
ExcluirQue geografia agrária é essa que o doutor anda lendo? rsrs
ResponderExcluirA concentração de riquezas, a dependência dos agricultores em relação ao capital financeiro e a eliminação de pequenos e médios já não é novidade pra ninguém.
Que viagem!!!...
http://www2.fct.unesp.br/nera/atlas/estrutura_fundiaria.htm
E onde foi que você me viu escrever que a geografia rural ignora essas questões? rsrsrsrs...
ExcluirO que torna a geografia rural e a geografia escolar brasileiras patéticas não é ignorar a concentração da produção, mas o fato de falarem dessa concentração como se fosse ruim para a sociedade e de tentarem qualificar o processo concentrador como um efeito injusto da estrutura fundiária. A maior prova disso é o texto que você linkou, que, já nas primeiras linhas, se põe a falar em “questão da terra”.
Ademais, quando tratam da influência do capital financeiro e da questão ambiental, entre outras, os geógrafos rurais ficam o tempo inteiro raciocinando em termos da ridícula dicotomia agronegócio versus agricultura familiar, ideia que a pesquisa de Navarro, assim como o meu texto “Agricultura e Mercado no Brasil” (barra lateral deste blog) provam que é uma mistificação.
Isso deveria ter ficado claro comparando-se o primeiro com o último parágrafo do post acima, mas parece que você tem dificuldades com leitura.
Então não há nada de errado com a concentração das riquezas e o sacrifício dos pequenos? O problema está em quem não concorda com o modelo e fica "criando caso"?
Excluir...depois eu é que sou maluco.
Conforme está escrito no post acima, a concentração da riqueza é um efeito direto da concentração da produção e a concentração da produção é resultado do aumento da produtividade pela via da inovação tecnológica.
ExcluirPortanto, sem concentração da produção e da riqueza, o preço real dos alimentos não teria caído pela metade e, assim, O PROBLEMA DA FOME NÃO TERIA SIDO ELIMINADO!
Então você gostaria que as pessoas de baixa renda continuassem passando fome para que os pequenos produtores rurais pudessem ganhar um bom dinheiro mesmo produzindo pouca comida!?
Quanto aos pequenos produtores que não conseguiram acompanhar o desenvolvimento tecnológico, Zander Navarro propõe que sejam incluídos em políticas públicas que viabilizem o acesso deles à tecnologia, conforme também já escrevi neste blog, num post que você leu e comentou.
Então, fica claro que você não é maluco: é apenas alguém que defende os próprios interesses com argumentos hipócritas e que não tem competência em interpretação de textos.
Isso tudo deveria ser de fácil compreensão, mas a "dose" cavalar de preconceito marxista e anticapitalismo na formação do geógrafo cria uma densa névoa em suas cabeças: eles enxergam algo, mas não compreendem, é tudo difuso. E essa confusão é repassada aos alunos secundaristas. geografia crítica, concordam em pontos chaves com ela.
ResponderExcluirFácil compreensão para olhar de uma forma simplista.
ExcluirA crítica tem o papel de questionar e pra isso é preciso estudar muito. É óbvio que sempre vai ficar uma lacuna para os acomodados apontar o dedo e dizer que a crítica foi insuficiente. E isso para os canalhas é uma beleza, pois caem no mesmo paradigma que levantam ao dizer que para criticar tem que ter fundamento e qualquer falha invalida o argumento. Assim não é difícil concluir que é muito mais confortável não criticar, principalmente se se trata de algo grandioso e complexo.
Tem coisa que não dá pra publicar mesmo, né doutor!? rsrs
ResponderExcluirImagino se não tivesse descoberto que bastam as pessoas clicarem no meu nome pra verem estas respostas antes que o doutor as publique aqui no blog... e eu não seria otário para interferir nesse vespeiro político. hehehe
Aliás, os seus "libertários" até que comentam pouco aqui, hein! Seria falta de argumentos ou preguiça mesmo?
Conforme eu já expliquei faz tempo, mas você não conseguiu compreender, eu não me incomodo nem um pouco que você publique seus comentários nas redes sociais ou em qualquer outro lugar. Até porque, você mesmo já reconheceu que, quando eu desmonto os seus "argumentos" ponto por ponto, você não publica o que eu escrevo por lá, não é mesmo? rsrsrs...
ExcluirAgora, por que pessoas "libertárias" haveriam de ler e comentar o que você escreve? Seus textos são festivais de hipocrisia, pois você advoga em favor dos seus interesses econômicos particulares ao mesmo tempo em que proclama estar preocupado com o meio ambiente e a saúde das pessoas.
As únicas pessoas que têm algo a ganhar lendo o que você escreve são outros pequenos produtores que, assim como você, produzem pouco mas querem ganhar muito e, por isso, usam um discurso agroecológico hipócrita para pleitear subsídios estatais.
APAGUEI POR ENGANO O ÚLTIMO COMENTÁRIO DE FÁBIO BORGES. POR SORTE, EU TINHA O TEXTO DELE SALVO NO BLOCO DE NOTAS, COM MINHA RESPOSTA NA SEQUÊNCIA. SENDO ASSIM, PUBLICO O COMENTÁRIO DELE ENTRE ASPAS E, DEPOIS, MINHA RESPOSTA.
ResponderExcluir"Fácil compreensão para olhar de uma forma simplista.
A crítica tem o papel de questionar e pra isso é preciso estudar muito. É óbvio que sempre vai ficar uma lacuna para os acomodados apontar o dedo e dizer que a crítica foi insuficiente. E isso para os canalhas é uma beleza, pois caem no mesmo paradigma que levantam ao dizer que para criticar tem que ter fundamento e qualquer falha invalida o argumento. Assim não é difícil concluir que é muito mais confortável não criticar, principalmente se se trata de algo grandioso e complexo".
Onde foi que você me viu escrever que o problema com o que você escreve é que há "lacunas" mas suas críticas à agricultura moderna? O que eu escrevi, mas você não teve competência para entender, foi o seguinte:
a) Foi a agricultura convencional que acabou com a fome.
b) O uso adequado de agrotóxicos não faz mal à saúde.
c) A agricultura orgânica e outras alternativas ecológicas são bem-vindas, mas, como a produtividade dessas alternativas é muito baixa, elas não são capazes de substituir o modelo convencional como sistema predominante de produção agrícola. Ou seja, se toda a agricultura do mundo fosse orgânica, estaríamos todos desnutridos!
d) Você e outros produtores orgânicos que já deram as caras por aqui defendem que a produção de vocês deve ser subsidiada pelo Estado. Um disse que é assim porque, já que o Estado subsidia o sistema convencional, que mal faz subsidiar também o orgânico? Já você diz que a agricultura precisa necessariamente ser subsidiada e que só os produtores orgânicos devem receber dinheiro do governo, já que apenas o sistema orgânico é sustentável.
e) Portanto, SUAS CRÍTICAS SÃO HIPÓCRITAS, pois você difama um sistema de produção que beneficiou a imensa maioria da população com a conversa de que os grandes produtores querem ganhar dinheiro às custas do bem-estar coletivo com o objetivo de legitimar seu interesse de receber dinheiro do Estado para ter renda alta mesmo produzindo pouco!
Tente outra vez responder. Essa sua última tentativa é um texto completamente descolado do que eu escrevi.