domingo, 22 de setembro de 2013

PT meteu a mão até na Pesquisa de Orçamentos Familiares

O aparelhamento do Estado pelos governos petistas manifesta-se não apenas na ocupação de milhares de cargos públicos por militantes do PT e sindicalistas pelegos, mas também pela contaminação das pesquisas realizadas por órgãos públicos com propaganda governamental. Um bom exemplo disso é a Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF, do IBGE. A edição da pesquisa publicada em 2004, segundo ano do governo Lula, ainda manteve o perfil estritamente técnico que era a marca do Instituto até o final do governo FHC. A análise de resultados dessa pesquisa, com dados de estado nutricional para 2002-2003, comparados com os de pesquisas do mesmo gênero para os anos de 1975 e 1989, restringia-se a expor unicamente as conclusões derivadas da descrição dos fenômenos mensurados pelos instrumentos de pesquisa. Mas, pelas razões que já expliquei aqui, o governo Lula, inconformado com os resultados, decidiu meter a mão nas pesquisas sobre estado nutricional.

O resultado disso é que, na análise de resultados divulgada sobre a POF 2008-2009, os técnicos da instituição avançaram o sinal e embutiram propaganda dos projetos e ações do governo petista no texto! Vejamos esta passagem:
A Estratégia Global em Alimentação, Atividade Física e Saúde, aprovada em 2004 pela Assembléia Mundial da Saúde, com o firme apoio do governo brasileiro, chama a atenção para o aumento explosivo da obesidade e sobre o impacto desse aumento na incidência de várias doenças crônicas (como diabetes, doenças do coração e certos tipos de câncer), na expectativa de vida da população e nos custos dos serviços de saúde (IBGE, 2010, localização 77).
Independentemente de qualquer juízo positivo ou negativo que possamos fazer do diagnóstico e das propostas que constam da tal Estratégia da ONU - eu sou contra -, o fato é que o relatório da POF se transformou num instrumento de propaganda governamental, o que é incompatível com as funções que o IBGE deve exercer como órgão do Estado, o mesmo valendo para seus quadros técnicos. As medidas antropométricas permitem identificar problemas de desnutrição, de excesso de peso e de obesidade, mas os técnicos responsáveis pela análise das informações coletadas sobre tais fenômenos não têm nada que se posicionar, em documentos oficiais, sobre as medidas políticas que devem ou não ser tomadas para enfrentá-los. Eles podem até fazer isso em entrevistas à imprensa e em textos acadêmicos assinados que tenham objetivos explicativos mais amplos que o da pesquisa, mas jamais transformar o documento oficial de análise de resultados em propaganda do governo. Mas o pior vem num parágrafo pouco adiante:
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição - PNAN, ao direcionar esforços para a construção de uma agenda integrada da nutrição, não deixa dúvidas quanto à gravidade do problema representado pela obesidade em nosso meio. A PNAN reconhece, também, a natureza complexa da obesidade e define um conjunto de ações, no âmbito da Saúde e de outros setores, para assegurar ambientes propícios a padrões saudáveis de alimentação e nutrição para todos. Passos importantes nessa direção foram dados recentemente, como a inclusão de metas nacionais para a redução da obesidade no Plano Nacional de Saúde, a aprovação de diretrizes nacionais para alimentação saudável, o repasse de recursos federais para financiamento de ações específicas de promoção de alimentação saudável e de atividade física nos municípios, e a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária que regulamenta a publicidade de alimentos não saudáveis. No âmbito intersetorial, destaca-se a adoção de políticas de segurança alimentar e nutricional bem como a integração do Programa Nacional de Alimentação Escolar com a produção local de alimentos e a agricultura familiar, favorecendo a oferta de frutas e hortaliças nas escolas e comunidades (IBGE, 2010, localização 77).
Se fazer propaganda das ações de um governo já fere o espírito republicano que deve reger a atuação do IBGE, pior ainda é quando as referidas ações nem sequer encontram justificativa nos resultados da pesquisa! É o que se vê no final do parágrafo, quando é feito o elogio de medidas que visam privilegiar a produção local de alimentos e a agricultura familiar como fornecedores de merenda escolar. Ora, as medidas antropométricas e as informações sobre aquisição de alimentos dentro e fora do domicílio não são capazes de avaliar se o fornecimento local e a agricultura familiar têm qualquer relação que seja com alimentação mais saudável, uma vez que tais informações se referem apenas ao consumidor! 

Tais ações do governo derivam apenas de duas visões ideológicas que, embora alcancem larga influência política, e também nos estudos de sociologia e geografia rural, são completamente falsas. A primeira delas é a tolice de que as grandes empresas do setor agroalimentar não se preocupam em atender às "reais necessidades" da população porque visam gerar lucros, como se fosse possível alcançar esse objetivo, numa economia competitiva, sem atender às expectativas do consumidor. Já a segunda é o mito de que haveria uma "lógica da produção camponesa" segundo a qual o dito "camponês" tenderia a produzir alimentos de qualidade e de forma ambientalmente sustentável porque, em vez de lucro, visa reproduzir seu modo de vida. Já publiquei alguns textos neste blog que desmentem afirmações desse tipo (ver abaixo) e tratei detalhadamente da falsa dicotomia agronegócio versus agricultura familiar em meu último livro (Diniz Filho, 2013).

E isso sem mencionar o fato de que a tal regulamentação da publicidade de alimentos não saudáveis pode ter efeitos significativos de restrição das fontes de captação de recursos por parte da imprensa independente, ou seja, os jornais, revistas e sites de notícias cuja independência em relação ao Estado e ao poder econômico é garantida pela multiplicidade de seus anunciantes. Como é sabido, as empresas de alimentos estão entre os maiores anunciantes.

Postagens relacionadas:
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DINIZ FILHO, L. L. Por uma crítica da geografia crítica. Ponta Grossa: Editora da UEPG, 2013.

IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

18 comentários:

  1. Diniz, já leu a reportagem do link abaixo? Gosto de usá-la nas aulas de Agrária, como contraponto ao clichê "agricultura-familiar x agronegócio-comercial".

    http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0907/noticias/convertidos-ao-capitalismo-m0144528

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    1. Muito obrigado pela indicação. Assim que eu puder, vou ler!

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  2. Quando li os primeiros fragmentos desse autor pensei se tratar de alguma coisa séria que ainda conhecia em relação a geografia crítica, mas depois de ler esse blog estou certo de que não vale a pena dedicar tempo algum pra esse politiqueiro disfarçado de geógrafo. Isso é completamente sem fundamento! O que se vê aqui é uma profunda armargura política tentando se justificar pelos meios acadêmicos. Vais morrer louco se continuar por esse caminho ou vais deixar loucos todos os que acreditarem nisso.

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    1. Os fãs das teorias críticas do capitalismo são tão dogmáticos que, quando se deparam com refutações às suas ideias, supõem que o ator delas faz o que os teóricos críticos fazem (i.e., ideologia disfarçada de ciência) e que ele age assim por ser mal intencionado e/ou por ter sérios problemas emocionais. Rebati esse tipo de crítica ao debater com alguns professores de geografia, conforme se pode ler no texto "Debatendo a Doutrinação na Geografia Escolar", acessível na barra lateral deste blog.

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    2. Sua concepção é extremamente reducionista e eu já suspeitava que irias responder como todos aqueles que concebem como detentores da verdade absoluta os modelos cartesianos de cunho positivista, os quais partem do princípio da teoria da negação ideológica, como se isso existisse substancialmente. rsrs Afinal, é muito claro que todo o pesquisador limita sua visão até onde lhe convém enxergar. Além de licenciado em geografia e especialista em educação, sou antes disso, agricultor e técnico em agropecuária atuante como administrativo de pesquisas de campo na área das ciências agrárias e vejo claramente como funcionam as intenções dos trabalhos ditos isentos de ideologias. Grande parte deles são motivados por ideologias meramente economicistas.
      Vou lhe dar um exemplo do seu reducionismo na geografia quando tentas defender esse modelo de agronegócio que, de acordo com David Harvey, ajudou a quebrar o estado norte americano e vem fazendo estragos pelo mundo afora concentrando terras e poder econômico ao mesmo tempo que expulsa trabalhadores do campo promovendo aglomeração e caos urbano:
      A agricultura químico dependente que é a base desse modelo externaliza custos sociais e ambientais e os transfere principalmente ao Estado, tornando-os visíveis a qualquer observador que prestar um mínimo de atenção às suas dinâmicas. Pelo que vi em seus textos, você comporta como se nada disso existisse, inclusive os monopólios globais das grandes corporações do setor.
      Como um simples licenciado em geografia e especialista em docência superior, percebo que não podemos ser tão fragmentados assim e me assusta muito ver um doutor com essas concepções, enquanto a geografia necessita de multidisciplinaridade, devendo lançar mão de todas as áreas do conhecimento para tentar compreender aos diversos processos quais lhe compete e não apenas do que diz respeito à economia como queres.

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    3. O que você diz sobre as relações entre ciência e ideologia é o mesmo que dizem os professores com quem já debati sobre esse tema. Repito, então: leia o texto "Debatendo a Doutrinação na Geografia Escolar", acessível na barra lateral deste blog. E, para uma discussão desse tema no âmbito da pesquisa acadêmica e do planejamento, leia meu livro "Por uma Crítica da Geografia Crítica", devidamente referenciado no post acima.

      Já as coisas que você escreve sobre "reducionismo", "ideologias economicistas", sustentabilidade ambiental na agricutura e concentração de terras são repetições das críticas que vários geógrafos agrários me fizeram quando apresentei minha fala no XIX ENGA. Ver a respeito do texto "Agricultura e Mercado no Brasil", também acessível na barra lateral deste blog. Essa discussão é retomada também no livro citado.

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    4. Pensei que você nem publicaria esse último post. Aliás, achei que não publicasse nenhum deles.
      Já andei dando uma olhada nesses materiais, pois, não iria opinar sem conhecer. Mas, vou tentar ler todo ele para ter um entendimento melhor.
      Pensando bem, acredito que seu trabalho pode ser útil como alerta aos colegas que não fundamentam suas pesquisas com dados claros e amarrações históricas, aos que não cuidam o suficiente para terem todo o aparato exigido para a solidez dos trabalhos sérios e relevantes para a sociedade.
      É claro que você não está sem razão. Pelo menos dentro dessa concepção de progresso, mas peca quando omite a lógica de um liberalismo que se apropria do aparelhamento do Estado promovendo uma mercadorização irresponsável que contribui para a concentração do poder econômico com a uniformização dos sistemas de produção favorecendo aos especuladores que alcançam os artifícios de controle e manutenção desses sistemas. O que podemos entender é que tudo é criado pela necessidade de uma dinâmica a qual se naturalizou e não de uma dinâmica natural, como seria se as estruturas não fossem forçadas a favor da maximização dos lucros em detrimento da estabilidade. É certo que os consumidores aceitam essas dinâmicas, pois se ambientam a essa lógica, quando não há interesse da classe dominante a qual nunca forneceria subsídios para o equilíbrio da sociedade e suas interações em relação às atividades de produção e consumo. Tanto a produção quanto o consumo são controlados através de artifícios de acordo com interesses políticos de quem tem poder. Seria uma ingenuidade muito grande acreditar que os oligopólios não existem dando sustentação a esses sistemas.
      Um abraço. E me desculpe, por favor, qualquer indelicadeza. rsrs

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    5. Eu publiquei seus posts porque eles são exemplos que comprovam todas as refutações que eu faço à teoria social crítica, a saber:

      1. Presunção de superioridade intelectual e moral: você acha que todos que discordam de você têm problema de caráter ou emocional, conforme deixou claro ao falar de mim em seu primeiro comentário. Marxistas, fundamentalistas religiosos e nazistas também fazem suposições assim.

      2. Quando se deparam com dados que desmontam suas convicções, os intelectuais anticapitalistas misturam a visão marxista de ideologia (nas versões gramsciana e maxiana) com as críticas de tipo pós-moderno à "razão cartesiana" e à "objetividade da ciência". Isso é uma salada de visões contraditórias, pois a concepção marxista de ideologia se fundamenta no cientificismo! De fato, é a ciência marxista que serve de medida para qualificar esta ou aquela ideia como ideológica, ou seja, não científica!

      3. Já para quem trabalha com a visão pós-modernista, fica a pergunta: se não existe objetividade científica, como é que os intelectuais críticos do capitalismo provam que estão certos? Ah, é que eles estão do lado dos "dominados", como dizia o Vesentini nas aulas dele! Desse modo, voltamos ao dogmatismo, ao maniqueísmo e àpresunção de superioridade moral, como visto.

      4. Você admitiu depois que eu não estou sem razão e que as coisas que eu escrevo são úteis para corrigir aqueles que não se preocupam em usar dados e fazer amarrações históricas. Ao reconhecer isso, porém, você admite a objetividade dos dados estatísticos que eu uso e também dos fatos históricos, o que contradiz tudo o que você escreveu antes contra a objetividade científica e sobre o teor necessariamente ideológico do conhecimento científico.

      5. Do mesmo modo que os geógrafos rurais que me questionaram durante o XIX ENGA, você clama por um pensamento "complexo" e pela "multidisciplinaridade" quando alguém questiona suas ideias, mas pensa o capitalismo com base em causalidades bem simples: os interesses da "classe dominante" são antagônicos aos do conjunto da sociedade, ela controla tudo, e assim por diante.

      Há outras contradições e simplificações em seu texto, como a tese de que os consumidores são manipulados pelas grandes empresas através de "artifícios". Se fosse assim, grandes grupos empresariais nunca perderiam centenas de milhões de dólares lançando produtos que não caem no gosto dos consumidores, coisa que, na verdade, ocorre com frequência. E, quando fala no tal "equilíbrio da sociedade e suas interações em relação às atividades de produção e consumo" demonstra sua simpatia ou pelo modelo de economia planificada, que naufragou, ou por uma indefinível utopia de comunidade na qual a economia se estrutura em valores tradicionais em vez das relações impessoais do mercado. Uma utopia própria de conservadores românticos e de socialistas ingênuos, desde os séculos XVIII e XIX.

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    6. Acho que estava postando no lugar errado, mas, enfim, vamos lá.

      Também vou usar essa gíria. rsrs
      Na boa, Doutor! Saia do ar condicionado onde colecionas planilhas com estatísticas e teorias relativas e vá a campo pra ver se consegues enxergar alguma coisa diferente. É uma boa dica que tenho pra te dar.
      Eu não escrevi exatamente que são os marxistas aqueles que não se preocupam em usar dados e fazer amarrações históricas e quando escrevo sobre a importância da multidisciplinaridade fica implícito que não desprezo nenhuma forma de conhecimento e consequentemente, não há arrogância nisso. Pelo contrário, somos sensatos quando reconhecemos que a multidisciplinaridade é necessária, porque nenhuma metodologia única é capaz de nos levar à verdade absoluta, até porque somos humanos e definimos o que queremos da pesquisa no momento da escolha do que vamos pesquisar e, ainda assim, não são poucos os que ao deparar com os dados encontram resultados diferentes do que gostariam e decidem não publicar, mas refazer ou mudar sua pesquisa. Principalmente se houver pressão de quem financia para que o resultado seja favorável ao seu produto. E outra vez não me refiro especificamente a uma ou a outra linha(marxista ou seja lá o que for que você goste ou não).

      Outra coisa que eu não poderia deixar de observar é o quão ridículo é o seu entendimento do que seria um monopólio. rsrs

      Nesse último comentário, o senhor ironizou meu post com a seguinte frase: “Se fosse assim, grandes grupos empresariais nunca perderiam centenas de milhões de dólares lançando produtos que não caem no gosto dos consumidores, coisa que, na verdade, ocorre com frequência.”

      Ora! Se o monopólio fosse empurrar qualquer coisa guela abaixo, os McDonald's poderiam vender pedras no lugar de pães!
      Será que precisamos chegar a esse ponto para que alguns intelectuais pro capitalismo admitam que o poder econômico e político das grandes corporações é capaz de corromper estruturas para manter seus mercados?
      Será que tudo que vendem é realmente maravilhoso e saudável e o consumidor precisa tanto deles? ...Coca-Cola, Monsanto, Down Agrociences...

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    7. Agora você usou o único artifício retórico manjado que os intelectuais críticos costumam usar contra as estatísticas que derrubam suas teses que você ainda não tinha usado: essa conversa do "tem de sair do gabinete e ir lá ver".

      O argumento supõe que o IBGE devia ser fechado, já que gasta milhões de Reais e mobiliza um exército de pesquisadores para gerar informações que podem ser contestadas por uma única pessoa fazendo trabalho de campo aqui e ali. A verdade é que um pesquisador que se baseia em dados de pesquisas como a POF, a PIA e outras consegue fazer afirmações mais objetivas e generalizações muito mais acertadas do que pesquisadores que fazem estudos de caso e não os cotejam com as estatísticas nacionais. Tanto é assim que os marxistas se veem forçados a fazer manipulações mesmo em seus estudos de caso para poderem contestar as conclusões da POF (trabalho que eles nem consultam). Ver, por exemplo, o post: Capitalismo é a melhor solução para a fome, mas os marxistas não querem ver.

      Depois você diz: “Eu não escrevi exatamente que são os marxistas aqueles que não se preocupam em usar dados e fazer amarrações históricas [...]”. Ora, mas eu também não escrevi que você teria feito essa afirmação. Releia o item 2 da minha resposta para constatar que eu estou questionando o modo como você, tal qual os outros teóricos críticos, mistura o conceito marxista de ideologia, que é de base cientificista, com as críticas pós-modernas à objetividade científica. No item 4 da minha resposta, mostrei que você cai em contradição novamente quando reconhece que há objetividade nos dados que eu uso depois de ter feito aquelas refutações à objetividade científica. Mas você não deu resposta ao item 4.

      Na sequência, você faz um discurso sobre o óbvio no intuito de defender a multidisciplinaridade, o qual acaba sendo inútil, já que eu também não tenho nada contra a multidisciplinaridade em si mesma. Você apenas repetiu de novo o truque usado contra os meus argumentos no XIX ENGA, conforme eu já expliquei no texto Agricultura e Mercado no Brasil: fala-se que a questão é “multidimensional”, “complexa”, envole uma “multiplicidade de fatores”, etc., apenas para descartar as conclusões extraídas das estatísticas sem nem discuti-las. De fato, essas frases não contém nenhum argumento contra as conclusões das pesquisas sobre estado nutricional e produtividade agrícola.

      No final, você relativiza o poder dos pseudo monopólios dizendo que eles não são capazes de obrigar a população a comer qualquer coisa, mas indaga: “Será que tudo que vendem é realmente maravilhoso e saudável e o consumidor precisa tanto deles? ...Coca-Cola, Monsanto, Down Agrociences...”.

      A resposta é que sua pergunta já nasce equivocada pelo fato de você falar como se existisse “o consumidor”, quando na verdade existem “os consumidores”. De fato, como as necessidades, gostos e visões de mundo dos consumidores são imensamente variadas, as grandes empresas produzem tudo aquilo que tiver comprador. O melhor exemplo disso é o grupo Coca-Cola, que fabrica refrigerantes, água com sabor e sucos de frutas. Nesse sentido, não são os “monopólios” que decidem o que nós comemos; nós é que decidimos o que eles produzem.

      A verdade é que você julga as necessidades e gostos dos outros a partir dos seus próprios parâmetros, uma atitude extremamente arrogante e típica dos teóricos anticapitalistas. Como resultado, você supõe que, se pessoas como eu e centenas de milhões de outras bebem Coca-Cola, é por estarem sendo de algum modo manipuladas por supostos “monopólios”. Só gente como você é inteligente e bem informada o bastante para escapar das manipulações, não é mesmo?

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    8. Besteira minha perder tempo aqui. Você vai sempre distorcer minhas colocações.
      Você diz que se formos seguir o entendimento dos críticos, podemos fechar o IBGE e eu aproveito pra dizer que se só o IBGE conseguisse extrair tudo que precisamos para compreender as dinâmicas sociais e espaciais, poderíamos fechar as outras instituições de pesquisa, inclusive todas as universidades de ciências sociais.
      Continue então com suas planilhas e sua seleção de verdades pra ver até onde vai dar.
      Eu deveria ter estranhado no início a quantidade mínima de comentários publicados nesse blog. O certo é que o que você consegue distorcer, você publica. Os que te pegam, você apaga. rsrs
      Só mais uma coisa: é claro que à pretensa superioridade intelectual tem quem avalia a maioria dos trabalhos acadêmicos como inúteis e não quem consegue enxergar a apropriação do espaço por grupos dominantes. E mais uma vez você se contradiz na sua visão reduzida e afirma que a contradição é minha quando deixa claro que se essas empresas praticassem monopólios não precisariam de variedade de produtos. Ora! Pra ser monopólio tem que ser forçado em todos os sentidos?
      Percebo que pra você só existe substancialmente o monopólio da força e não pode existir monopólios de mercado, porque o mercado é capaz de se auto balancear acima de qualquer outra lógica, não aceita interferências a partir das dominações territoriais.

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    9. Não estou distorcendo coisa nenhuma do que você diz. No post acima, assim como em publicações científicas, eu demonstro com dados objetivos que a desnutrição foi praticamente eliminada (e antes do Fome Zero) mesmo sem a tal “reforma agrária ampla e massiva” ter sido realizada. Em resposta, você deslanchou a repetir aqueles lugares comuns contra a objetividade científica, em favor de uma visão mais “complexa” (quando a sua é simplista) e, depois, disse que eu tinha de sair do ar condicionado e ir a campo para ver as coisas de um modo diferente. São os mesmos truques retóricos aos quais eu respondi na bibliografia que indiquei em minhas respostas anteriores.

      Quanto a você dizer que eu estou supondo que as pesquisas do IBGE tornam inúteis os estudos de caso feitos na universidade, respondo que sua interpretação do que escrevi está errada. Ora, quando você sugere que eu tenho de ir a campo para ver como as coisas são diferentes do que as pesquisas do IBGE mostram, está supondo que um pesquisador ou pequenos grupos de pesquisadores são capazes de produzir dados que invalidam os resultados de pesquisas nacionais realizadas pelo IBGE em cerca de 100 mil domicílios, o que não faz o menor sentido. Mas o fato de eu mostrar a falta de sentido dessa retórica manjada não significa que eu esteja dizendo que as pesquisas do IBGE dão resposta a todas as questões científicas. Isso é uma inferência sua, pois não está escrito em nenhum texto meu. Portanto, é você quem distorce o que eu escrevo ao fazer inferências sem nenhum vínculo lógico com os argumentos que eu exponho.

      E por que a sua inferência não tem nexo? Porque é óbvio que, se os estudos de caso feitos pela universidade não têm relevância estatística suficiente para invalidar os dados de pesquisas oficiais nacionais, isso não significa que tais pesquisas não sejam válidas para responder a questões teóricas das quais as estatísticas oficiais de âmbito nacional não tratam. É bem o que se vê na geografia cultural, por exemplo. O professor Sylvio Fausto Gil Filho, especialista em geografia da religião, utiliza dados do IBGE para tratar do seu tema de estudo, mas vai a campo com seus alunos e orientandos para investigar as dimensões do fenômeno religioso que não são abordadas pelo IBGE.

      Outra distorção do que escrevo é quando você diz que, segundo eu, "se essas [grandes] empresas praticassem monopólios não precisariam da variedade de produtos". Na verdade, o que eu disse textualmente é que os grandes grupos produzem uma variedade de produtos porque, como o objetivo destas é lucrar, buscam atender às mais variadas necessidades e gostos dos consumidores. Meu objetivo foi mostrar que, ao contrário do que você escreveu, não são os "monopólios" que determinam o que consumimos; nós é que determinamos o que eles produzem. Só que você não entendeu o que escrevi.

      Finalmente, se eu não respondo aos seus comentários com a velocidade que você gostaria, é por duas razões: a) porque você não traz novidade alguma: eu já respondi a essas frases feitas que formam a sua retórica em meu último livro e em posts e textos acadêmicos citados neste blog, conforme as respostas acima; b) porque eu não recebo salário para ser blogueiro. Se gasto tempo para repetir as respostas que já apresentei a argumentos manjados, tenho o direito de fazer isso quando estiver realmente sem mais nada para fazer, não é verdade?

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  3. Na boa... A questão passa pela CONSCIÊNCIA!!!!!!!!! Edgar Morin já falava tanto em ciência com consciência, mas parece que a ciência não anda!!!!!!!! Cada um fica na sua então, cartesianismos, marxismos, gramscismos... Pensa bem, tudo dá na mesma ideia e naquilo a qual Roberto Schwarz chamou de "ideias fora do lugar". Enquanto isso, a "cidade de tróia" é invadida por "gregos" de modelito ultra moderno e a gente aqui com pensamento no "século alguma coisa".

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    1. Vale lembrar que o Capital de Karl Marx é uma excelente obra! E que, infelizmente, os "Geocríticos" fizeram questão de estragá-la, pelo menos em partes para alguns autores!

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  4. Ainda é dos que deliram com a ideia de que o mercado pode regular tudo por si só pela livre concorrência e eficiência produtiva promovendo um balanceamento nas dinâmicas sociais ao produzir riquezas para todos; não vê controle político por parte do poder econômico das grandes corporações e taxa os críticos de românticos? kkkk

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    1. Eu não penso e nem escrevo que "o mercado pode regular tudo por si só pela livre concorrência e eficiência produtiva". O que eu afirmo é que, como o homem reage a incentivos (princípio básico da economia), a competição no mercado funciona como o melhor sistema de incentivos que existe para maximizar a eficiência produtiva e orientar a produção segundo as necessidades dos indivíduos, uma vez que tais necessidades são expressas concretamente por esses indivíduos quando saem a comprar bens e serviços. As informações de estado nutricional atestam isso muito bem quando se trata de analisar a dinâmica dos sistemas agroalimentares.

      Isso, obviamente, não significa que o Estado não seja importante para preservar e melhorar esse sistema de incentivos que é o mercado. Exemplo disso é o da AT&T: quando essa empresa assumiu um virtual monopólio dos serviços de telefonia fixa no mercado americano, a lei antitruste foi acionada e a empresa teve então de se dividir em sete empresas menores que competiam entre si em mercados regionais - e tanto que a "empresa mãe" acabou sendo mais tarde comprada por uma de suas "filhotes". É um exemplo que põe abaixo essa conversa sobre "controle político por parte do poder econômico", usada por marxistas para justificar uma estatização da economia cujo resultado foi o naufrágio de todas as experiências socialistas.

      Mas então quer dizer que não deve haver um debate sobre o poder dos grandes grupos vis-à-vis a capacidade regulatória do Estado? Sem dúvida, esse é um debate permanente e relevante, sendo que cada sociedade nacional define e redefine as formas de relacionamento entre Estado e mercado por meio do seu sistema institucional, que estabelece os limites da ação do Estado e também das empresas de todos os tamanhos.

      Finalmente, é como eu já disse: a sua conversa sobre a incapacidade do mercado para garantir um vago "equilíbrio da sociedade e suas interações em relação às atividades de produção e consumo" demonstra sua simpatia ou pelo modelo de economia planificada, que naufragou, ou por uma indefinível utopia de comunidade na qual a economia se estrutura em valores tradicionais em vez das relações impessoais do mercado. Uma utopia própria de conservadores românticos e de socialistas ingênuos, desde os séculos XVIII e XIX.

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    2. A verdade que qualquer um pode ver é simples e dura:
      Toda concentração econômica é poder e quem quer que seja que a tenha em mãos vai passar por cima do que avaliar que lhe convém atropelar rumo à hegemonia que todo capitalista sonha.
      Sempre haverão pessoas que em sã consciência ao ler os textos mais intelectuais que escrevemos, cairão nas gargalhadas ao notar o quanto somos ridículos em nosso academicismo e pretensa superioridade intelectual, porque sempre vamos esquecer alguma coisa fundamental e que, por ser tão óbvia, nem pôde ser enxergada.
      Por fim, entendendo que serei ridículo mais uma vez ao simplificar o que não pode ser simplificado, mas não deixando de emitir a minha mais sincera opinião, penso que todos os sistemas políticos que fracassaram até o momento, o fizeram, principalmente por falta de transparência. Se as pessoas não tiverem acesso às principais informações sobre o que define como serão suas vidas, é óbvio que a cegueira coletiva só nos levará ao caos. Mas, como deixar tudo tão claro se os maiores pensadores se confundem e viram motivo de piada? Aí é que entra a lógica de que cada um deve pensar por si e nenhuma ideia pronta serve como razão soberana. Então chegamos à questão da "consciência" citada por Estevan Rodrigues Liska.

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    3. Toda concentração econômica dá poder de mercado às empresas que dela se beneficiam, mas a concorrência impede que, na maior parte dos setores, essa concentração se transforme em monopólio. Se um oligopólio de empresas eleva artificialmente os preços de determinado produto, acaba criando um incentivo econômico para que outras empresas entrem nesse mercado. E isso quebra o monopólio.

      Nos setores em que as condições materiais e/ou técnicas de operação das empresas impedem que a concorrência evite a formação de monopólios, cabe ao Estado montar um aparato institucional para tanto. É o que expliquei ao citar o caso da AT&T, mas você parece que não conseguiu entender.

      Portanto, a competição faz com que todas as empresas, grandes ou pequenas (aí incluídos agricultores familiares ecológicos) sejam forçadas a atender a expectativas dos consumidores para poderem lucrar. A concentração de capital, portanto, não é um problema de per si, pois a concorrência beneficia os consumidores independentemente do porte das empresas.

      A verdade nua e crua é que pequenos empresários (como os agricultores familiares ecológicos) costumam satanizar as grandes empresas e posar de vítimas para receber dinheiro do Estado. Prova disso está na seção de comentários dos posts que eu publico neste blog. Mais de um agricultor familiar já veio até aqui para dizer que, se as grandes empresas recebem "ajuda" do Estado, então os pequenos têm de receber também...

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