Comentei em um post anterior sobre as mentiras que a geografia vem divulgando em artigos científicos, livros didáticos e salas de aula nas últimas décadas. A primeira delas está na afirmação de que as grandes propriedades só produzem commodities para mercados externos e matérias-primas industriais.
Ora, o Censo Agropecuário 2006 mostra que a agricultura familiar (segundo o conceito legal de agricultor familiar utilizado na tabulação dos dados) é amplamente predominante na produção brasileira de mandioca e feijão, além de produzir 58,0% do leite de vaca, de possuir 59,0% do plantel de suínos e 50,0% do plantel de aves. Todavia, a agricultura não familiar, além de sua grande participação nos produtos citados, responde por 79,0% da produção de trigo, 70,0% dos bovinos, 66,0% do arroz e 54,0% do milho. No que diz respeito às culturas ditas “de exportação”, nota-se que os agricultores familiares participam com 38,0% da produção de café e 16,0% da produção de soja (IBGE, 2009).
Em suma, os dados do Censo mostram que a agricultura familiar tem cumprido um papel importante, mas invalidam o diagnóstico de que esse segmento seja o principal responsável pela produção de “alimentos para o povo”, já que a produção familiar só é predominante na oferta de alguns produtos agropecuários e tem participação significativa na oferta de commodities como café e soja.
Nada no mundo pode ser mais falso do que a dicotomia agronegócio versus agricultura familiar.
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IBGE. Censo Agropecuário: agricultura familiar, primeiros resultados 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.
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