sábado, 29 de outubro de 2016

Ocupação pacífica de reitoria é igual a assalto sem reação da vítima




Eu estava no prédio da Reitoria da UFPR na última quinta-feira, dia 27.10.16, no período da tarde. Sou membro da Comissão Permanente de Pessoal Docente - CPPD, e fui até lá para preencher e assinar documentos referentes aos processos de progressão funcional dos quais sou relator. Quando foi por volta de 15:30, fomos informados de que alunos iriam invadir e ocupar o prédio às 17:00 horas, mas que devíamos sair alguns minutos antes para "evitar confusão". E assim foi feito.

Com certeza, os Centros e Diretórios Acadêmicos alardearam pela internet que houve uma "ocupação pacífica" da reitoria. Mas sabem como eu me senti quando escutei que teria de sair do edifício para "evitar confusão"? Exatamente como eu me senti nas vezes em que fui assaltado e entreguei dinheiro aos bandidos para não correr o risco de ser agredido.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Ascensão e queda do PT provam que não vivemos numa "sociedade pós-verdade"

No texto anterior, comentei o conceito de "profunditude", que serve para identificar e desmascarar aqueles discursos que começam fisgando o leitor com a enunciação de uma verdade banal para depois enganá-lo ao extrair dali uma conclusão que, embora aparentemente profunda, é de uma falsidade completa. O escritor e jornalista científico Carlos Orsi, que explica esse conceito, comenta também outro que lhe é bem próximo: o conceito de "bullshit", formalizado pelo filósofo Harry Frankfurt. Com base nesse autor, Orsi define "bullshit" da seguinte forma:
[...] afirmação que é indiferente à verdade - algo que se diz para produzir uma reação emocional ou um comportamento desejado no ouvinte, sem que o emissor se importe se o que está dizendo corresponde ou não aos fatos. A bullshit pode até ser verdade, mas quem a emprega não está nem aí para isso: o que se deseja é que o alvo vote em alguém, compre alguma coisa, indigne-se com isto ou aquilo ou abrace uma causa (Cf.: Profunditudes e o mundo pós-verdade - itálico no original).

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

"Profunditude" nos debates intelectuais e políticos brasileiros

O jornalista e escritor Carlos Orsi, que trabalha com divulgação científica, publicou um texto interessante sobre o conceito de "profunditude" e  a aplicação deste na análise de fenômenos políticos recentes. Vejamos uma passagem do texto:
"Profunditude" é minha tradução pessoal para o neologismo da língua inglesa deepity, usado pelo filósofo Daniel Dennett para se referir a frases e expressões que têm dois sentidos: um verdadeiro e banal e outro supostamente profundo, mas falso. Resumindo, a profunditute só é verdadeira na medida em que diz algo trivial ao ponto da irrelevância; quando se tenta ler algo de relevante nela, torna-se falsa. Parece complicado? Talvez alguns exemplos ajudem: pense, por exemplo, naquela velha pérola da autoajuda, encruzilhada da espiritualidade prêt-à-porter com a Lei da Atração, "pensamentos são coisas materiais".
Na medida em que pensamentos são mudanças eletroquímicas que ocorrem no cérebro, trata-se de uma afirmação perfeitamente verdadeira: afinal, processos eletroquímicos são eventos do mundo material. Nesse nível, a afirmação é a mera constatação de uma banalidade. Mas, claro, quem usa a frase não está, na maioria das vezes - perdão -, pensando nesse sentido: o que a pessoa quer dizer é que pensamentos, por si sós, são capazes de causar mudanças no mundo externo ao corpo de quem pensa. Afinal, coisas que transformam o mundo, como meteoros, vulcões e tsunamis, são materiais. Se o pensamento também é, abracadabra! Nesse nível, não-banal, a afirmação é escandalosamente falsa (Cf.: Profunditudes e o mundo pós-verdade - itálicos no original).

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Questão chave sobre 2018 não é o PSDB, mas o PMDB

O resultado das urnas nas eleições municipais mostra que os grandes derrotados foram Lula e o PT, enquanto Alckmin e o PSDB saíram vitoriosos. Então, o jornalismo político já avalia que o governador paulista tem grande chance de ser o candidato do PSDB em 2018 e especula se os tucanos vão conseguir superar suas brigas internas para se unir em torno dessa candidatura. Eu, porém, prefiro refletir como seria um eventual governo tucano que começasse em 2018 e, nesse caso, não há dúvida de que a grande questão é saber com que objetivo o PMDB poderia apoiar a candidatura e o governo de um tucano, seja ele quem for.