quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Festejar condenações é cair em armadilha

Já encontrei muitos comentários em sites de notícia manifestando alegria e surpresa com as condenações de alguns réus no caso do mensalão, especialmente Marcos Valério e João Paulo Cunha. Mas, com base no que escrevi em post anterior (aqui), não vejo motivo para acreditar que tenhamos avançado institucionalmente ou mesmo na capacidade de punir corruptos. Mais ainda, avalio que comemorar essas condenações implica cair na armadilha montada por cientistas politiqueiros como Fernando Abrucio, para quem o simples fato de o STF condenar alguns dos 37 réus (algo que já era mais do que previsível que iria acontecer) seria indicativo de "amadurecimento da democracia".

terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Liberdade de Ensinar e de Aprender"

O jornal Gazeta do Povo tem dado espaço para a discussão de um sério problema nacional, que é a ideologização e politização do ensino. No último domingo, publicou um artigo de Miguel Nagib, coordenador do site Escola Sem Partido, que refuta juridicamente o principal argumento usado por professores que fazem propaganda política e eleitoral em sala de aula: o de que essa prática seria apenas o exercício da liberdade de ensinar. A resposta de Nagib, no artigo Liberdade de ensinar e de aprender, é a seguinte:



Quando a Gazeta do Povo publicou, em 18 de junho, artigo de minha autoria denunciando a propaganda eleitoral petista em sala de aula, eu tinha certeza de que alguém ainda defenderia essa prática em nome da “liberdade de ensinar” do professor, garantida pelo artigo 206 da Constituição Federal. Não deu outra: no dia seguinte estava lá, na coluna do leitor, a lembrança da mencionada garantia constitucional.
Ocorre que, ao lado da liberdade de ensinar, o art. 206 da CF também assegura a liberdade de aprender, e é evidente que a doutrinação ideológica e a propaganda eleitoral em sala de aula constituem uma forma de cerceamento dessa liberdade fundamental dos estudantes. Juridicamente, é nisso que consiste a doutrinação ideológica e a propaganda política em sala de aula: um abuso da liberdade de ensinar em detrimento da liberdade de aprender.
Recomendo fortemente a leitura desse artigo, que prossegue apresentando a proposta de afixar cartazes com os Deveres do Professor nas salas de aula.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Problema técnico com os comentários


Um leitor me avisou que os comentários que ele faz aos posts não estão sendo publicados. Só pode ser falha técnica do Blogger, pois, até hoje, eu só deixei de publicar um único comentário, e isso porque o autor - Anônimo, como não podia deixar de ser - me xingou no texto. Não tenho ideia de qual seja o problema. Sendo assim, deixo avisado que, se mais alguém mandar comentário e ele não for publicado, é só problema técnico mesmo. 

Um jeito de contornar o problema, embora longe do ideal, é me mandar e-mail com o texto do comentário, pois assim eu mesmo posso publicá-lo.

sábado, 25 de agosto de 2012

Brasil ainda é República de Banana, mas Fernando Abrucio prefere chamar retrocesso de avanço

O julgamento do mensalão se encaminha para o final cumprindo o roteiro que qualquer pessoa de bom senso já imaginava: uns poucos peixes pequenos serão condenados a penas bem leves, enquanto dezenas ficarão livres de qualquer punição. Mas eu não vou fazer o discurso da indignação, pois não quero ficar posando de moralista aqui e menos ainda gastar tempo para dizer o óbvio. Vou me concentrar apenas na questão da institucionalidade, que é essencial para a preservação do regime democrático, conquistado no Brasil a duras penas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ainda sobre industrialização e exportação de commodities

Respondi a um comentário sobre o post Exportar commodities é bom negócio. E viva a privatização da Vale!, que merece ser destacado em um novo post. O comentário é muito interessante, pois foge desses lugares comuns nacionalistas e estatistas que povoam as ciências sociais e a política brasileira. Discordo das ideias expressas no comentário pelas razões que apresento abaixo, mas é certo que se trata de um comentário que reflete sobre a questão das políticas industriais de maneira ponderada e sem preconceitos ideológicos. Vamos a ele, então.

domingo, 19 de agosto de 2012

Febeapá da Dilma mostra que Lula estava meio certo

Lula vivia a repetir que ter diploma universitário não era requisito para ser um bom presidente da República. Mas qualquer pessoa de bom senso sabe que é, sim, do mesmo modo como acontece com todas as funções que exijam alguma competência em lidar com números, expressar-se com clareza e resolver problemas práticos. E as gestões dele confirmaram que sua competência estava apenas em fazer aquilo que qualquer populista faz, com ou sem diploma: falar besteiras, esbanjar demagogia, fingir que cumpre promessas, aplicar a lei de forma casuísta, atacar a imprensa independente, atribuir-se méritos e feitos que não são seus, difamar os inimigos, perdoar aliados pegos com a boca na botija, desconversar sobre o enriquecimento de seus parentes diretos e distribuir cargos públicos na base do mais primitivo “é dando que se recebe”.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Editorial da Gazeta alerta: "Por um Enem sem ideologia"

O jornal Gazeta do Povo publicou estes dias um excelente editorial contra a ideologização do Enem. O questionamento se concentrou na prova de redação, que é particularmente importante para os alunos. O fulcro do problema está na possibilidade de um aluno zerar nessa prova se emitir opiniões que se contraponham aos "direitos humanos", mas num contexto em que o próprio governo já definiu, com base em ideologias políticas, o que entende por "direitos humanos". 

O texto completo pode ser lido aqui. Abaixo, destaco um parágrafo que sintetiza a crítica do jornal:


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Exportar commodities é bom negócio. E viva a privatização da Vale!

Um leitor fez um comentário crítico ao post Aziz Ab'Saber defende ideia medieval, conforme citado logo abaixo. Achei que a resposta ao comentário merecia um post, pois as ideias ali expostas são bastante representativas do nacionalismo que impera na geografia e nas ciências sociais brasileiras.
Você retirou um trecho minúsculo de uma entrevista que aborda vários tópicos - afinal é uma entrevista não um artigo - e faz muitas extrapolações sem justifica-las. Em nenhum momento Ab`Saber defende a teoria do preço justo no texto, você que afirma isto. Ele usa um exemplo menor para exemplificar um problema mais amplo: o Brasil ao assumir o papel de exportador de matérias primas se coloca numa posição subordinada no cenário global. Os minérios - recursos não-renováveis - são enviados para o exterior onde são usados em atividades que demandam alta tecnologia. Países como os EUA possuem grandes reservas de recursos naturais não-renováveis mas adotam posturas muito distintas. Preferem não explora-las em rítimos significativos, optando por importá-las mesmo quando ostentam grandes reservas internas. Eles raciocinam que o valor estratégico destes recursos é alto em cenários de escassez potencial no futuro. É este o potencial econômico que esta sendo perdido, que afinal foi a pergunta do entrevistador.
 Vou responder de forma esquemática para não demorar muito:

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Universidades federais nunca serão centros de excelência

Conforme noticiado recentemente, a lei que obriga as universidades federais a reservar 50% de suas vagas para estudantes pretos, pardos e provenientes de escolas públicas não vai valer para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, e para o Instituto Militar de Engenharia - IME. A desculpa usada para deixá-los de fora da demagogia das cotas foi determinar que a lei só vai valer para as instituições administrativamente vinculadas ao Ministério da Educação e Cultura - MEC, não para esses institutos subordinados à Aeronáutica e ao Exército, respectivamente. Qual seria a razão disso? Então o governo acha que as políticas justificadas com o argumento da "inclusão social" não devem valer justamente para a formação de engenheiros nas melhores instituições de ensino tecnológico do país?

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Filmes exibidos na escola dizem muito sobre o ensino e o país

Fiz todo o ensino fundamental num colégio religioso de tipo tradicional. Daí que as aulas de religião consistiam basicamente da leitura e discussão de passagens da bíblia. Já no primeiro ano do ensino médio, as aulas de religião eram optativas, por se tratar de uma escola estatal. Mas a primeira aula de religião era obrigatória, pois os alunos tinham de saber como seria a disciplina para escolher se iriam continuar ou não. E o que foi que o professor de religião nos mostrou nessa aula? Um documentário sobre as greves no ABC paulista, que desafiavam a ditadura!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mino Carta é o Sarney do jornalismo

No post A culpa da nossa direita, eu citei José Sarney como exemplo de político que só pode ser considerado "de direita" e "conservador" num país como o Brasil, onde o liberalismo nunca teve muita vez. Afinal de contas, como é que um político pode receber qualquer qualificativo ideológico que seja se, em mais de quarenta anos de vida pública, esteve sempre do lado do governo, fosse qual fosse, e sempre a entupir a máquina estatal com parentes seus e aliados políticos indicados para cargos de confiança? 

Todavia, esse preâmbulo é só para dizer que eu sei, nem faz tanto tempo, que também no jornalismo é possível encontrar gente que só parece ter coerência ideológica para quem não conhece toda a sua trajetória. É o caso de Mino Carta. Em meados da década de 1980, eu fui assinante da Revista IstoÉ/Senhor por três anos. Deixei de ser por avaliar que a revista apoiava o então governador de São Paulo, Orestes Quércia, sem o devido compromisso com a objetividade. Todas as matérias eram elogiosas além da conta, e as mil denúncias que pipocavam contra o governo paulista tinham pouco destaque ou eram descartadas com artigos nos quais as evidências contra as denúncias podiam ser apenas declarações do eventual acusado, tomadas como verdadeiras mesmo sem qualquer apuração jornalística. 

sábado, 4 de agosto de 2012

Fani e França Filho provam que a geografia ainda vive em 1980

Já escrevi um texto para rebater as críticas de Ana Fani A. Carlos ao meu ensaio Certa má herança marxista (Diniz Filho, 2002), como se pode ler aqui. Mostro no trabalho que, além de cometer erros grosseiros de interpretação do que escrevi, a autora tergiversa sobre a crise do marxismo, faz ataques ao sistema capitalista em desacordo com a realidade empírica e ainda deixa de lado a inexistência de propostas consistentes e radicais de construção do socialismo. Pois eu li um artigo de Astrogildo L. França Filho (2009) que também erra na interpretação do que escrevi naquele ensaio, também ignora a necessidade de debater a crise do marxismo e, por tudo isso, parece ter sido publicado no começo dos anos 1980.