sábado, 27 de outubro de 2012

Malala, Síria e a impotência do politicamente correto

Uma das melhores análises que li sobre as reações ocidentais à explosão de violência e intolerância detonada pelo vídeo que ridicularizava Maomé foi elaborada pelo cientista político Heni Ozi Cukier, e serve igualmente bem para balizar a discussão sobre o ataque à estudante Malala e a participação de jihadistas nas insurreições contra a ditadura síria. O argumento central dele é que o discurso politicamente correto e o relativismo cultural são impotentes para a construção de uma crítica construtiva à violência e intolerância religiosa que marcam o Oriente Médio, já que, ao buscarem explicar tais fenômenos, acabam apontando causas externas à região e/ou justificando a barbárie com o argumento de que os muçulmanos são democráticos de uma forma própria. Por isso, ele propõe que é preciso entender esses problemas como tendo causas internas aos países islâmicos, sendo a principal delas a rejeição aos valores democráticos.

Nesse sentido, o autor propõe a mesma linha de análise que eu procurei desenvolver no post que comenta a onda de violência ocorrida no rastro do vídeo acima citado, conforme se lê aqui. Abaixo, publico o texto de Cukier.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"O Leopardo" e as ironias da história

Um livro que fazia muito sucesso entre acadêmicos e ativistas políticos e estudantis da USP na segunda metade dos anos 1980 era O leopardo, de Tomasi di Lampedusa (Círculo do Livro, s.d.). Trata-se de um romance biográfico que narra a vida do Príncipe de Salina, avô do autor, desde a maturidade até a morte. Como estávamos na Nova República, os uspianos adoravam citar uma frase desse livro, atribuída ao Príncipe, que era mais ou menos assim: "é preciso que as coisas mudem para continuarem como estão". 

A citação visava mostrar que a mudança produzida com o fim da ditadura era mais ilusória do que de fato, pois tratava-se de uma nova jogada das "elites" para continuar no poder. E, numa perspectiva histórica mais ampla, essa frase era repetida com o fim de ilustrar o conceito de "modernização conservadora", usado pela esquerda intelectual e política para explicar a resistência de estruturas socioeconômicas e políticas arcaicas no Brasil, bem como a longevidade de certos grupos políticos no poder.

domingo, 21 de outubro de 2012

Paulo Sergio Pinheiro está se lixando para a sociedade

Não vou repisar aqui as críticas que já foram feitas à tal Comissão Nacional da Verdade. Já foi dito alhures que a própria existência dessa comissão é um arroubo autoritário do governo, que está tentando estabelecer uma verdade oficial de Estado. E os críticos também já ressaltaram que os integrantes da Comissão desrespeitam a própria lei que a instituiu para poderem agir de modo parcial, posto que o objetivo deles não é fazer jus à verdade coisa nenhuma, mas apenas reforçar a mentira de que guerrilheiros e terroristas como José Genoino e Dilma Rousseff teriam lutado em defesa da democracia. Sendo assim, vou apenas complementar essas análises fazendo reparos à forma como a dita comissão está tentando interferir no sistema de ensino, já que esse é um tema central para este blog. Vejamos a notícia que trata do assunto (disponível aqui):

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sobre um comentário olaviano

O comentário de um olaviano ao post Uma nota sobre Olavo de Carvalho diz várias coisas que merecem reparos. Vamos ver por partes:
nao tem mto o q comentar, o cara pra começar fala q nao leu nenhum livro do olavo, fala que citou artigos dele de cabeça, da um rotulo de teoria de conspiração a alguns pontos soltos que o olavo afirmou.

domingo, 14 de outubro de 2012

O problema não são os alunos, muito menos um aluno

Recebi um e-mail que comentava o fato de que alguém reproduziu o post Baixa qualidade do ensino médio se reflete na universidade em provas anedóticas numa página do Facebook sobre geografia. Como não tenho Facebook, não sei o que andam comentando por lá, mas, a julgar pelo e-mail, é provável que os comentadores estejam mais interessados em fazer piadas do que em discutir a questão que eu propus, que é o caráter demagógico da política de cotas raciais e sociais. Como eu disse, tal política só serve para Lobões e petistas fazerem de conta que estão promovendo grandes mudanças na educação mesmo sem atacarem realmente o problema da qualidade do ensino.

Ora, os vários exemplos de erros anedóticos que eu citei serviam como evidências da má qualidade do nosso ensino médio. Não têm valor estatístico, mas ilustram o que algumas pesquisas recentes já vêm demonstrando, isto é, que os universitários brasileiros costumam apresentar sérias deficiências no aprendizado de língua portuguesa. Nesse sentido, em vez de as pessoas ficarem fazendo comentários na linha "pérolas do vestibular e do Enem", deveriam discutir a questão geral que eu propus. Afinal, se a falha está na má qualidade do ensino médio, conforme eu afirmei, qual é o sentido ou a utilidade de falar como se houvesse um problema com determinados alunos que escreveram isto ou aquilo?

Enfim, não acompanho o Facebook, mas me parece que é isso o que anda rolando por lá. Aliás, é por causa do tempo que as pessoas perdem com essas coisas, entre outras razões, que eu não tenho Facebook.

OBSERVAÇÃO - Não vou reproduzir o e-mail aqui por se tratar de correspondência privada, e eu não pedi autorização para reproduzi-lo, nem para dizer de quem é.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Petismo controla as escolas e não fica só na mentira

Já escrevi textos comparando os discursos do PT aos métodos de propaganda nazistas, na medida em que uns e outros seguem a estratégia de mentir repetida e descaradamente até que a mentira se torne verdade. E também tenho procurado mostrar que a hegemonia da geocrítica, refletida na opção preferencial dos geógrafos pelo PT, transforma a pesquisa em peroração ideológica e o ensino em doutrinação. Daí que os professores não têm o menor pudor de transformar as salas de aula em palanque de propaganda petista - meus professores do ensino médio, trinta anos atrás, já faziam isso amiúde.

Pois acabei de assistir a um vídeo, disponível no site Escola Sem Partido, que mostra o lado mais explícito e tenebroso do aparelhamento das instituições de ensino pelo PT. Uma escola pública é usada para a campanha eleitoral de um candidato desse partido, em total desrespeito à lei, e o repórter que denunciou o fato foi agredido por militantes do PT ao ponto de ficar com o rosto sangrando! Recomendo fortemente esse vídeo, disponível aqui.

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Baixa qualidade do ensino médio se reflete na universidade em provas anedóticas

Não gosto de fazer inferências a partir de exemplos isolados, mas vou citar uma passagem escrita em uma prova que eu corrigi para dar uma ideia de como andam as coisas no ensino superior:
um exemplo é se uma pessoa vai ao mercado e compra uma moça, a única utilidade para a moça é comer mas se tem muitas moças nos mercados, chega um ponto que as pessoas ficam satisfeitas de moça, tanto faz uma ou mais moças, então o valor marginal da fruta em questão ira cair.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Delfim Netto não virou companheiro só por conveniência

É preciso mesmo ter estômago para ler o artigo que Delfim Netto, antigo czar da economia durante a ditadura militar, publicou na Folha para defender Lula das acusações de Marcos Valério. Mas não vou tratar das incoerências e até hipocrisias desse "signatário do AI-5 e último dignitário da ditadura" quando ele se põe a falar em nome da democracia para ameaçar a imprensa, pois Reinaldo Azevedo já lhe deu um pau muito bem dado (aqui). Vou apenas acrescentar que a afinidade de Delfim Netto com o PT não se deve apenas ao ódio que ambos devotam à democracia, em nome da qual falam, mas também ao fato de que a atual política econômica é o horizonte possível do estatismo que muitos petistas um dia quiseram socialista ou nacional-popular.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Uma nota sobre Olavo de Carvalho

Ao comentar o post A culpa da nossa direita, um leitor fez indagações bastante interessantes sobre o intelectual conservador Olavo de Carvalho. Avaliei que essas perguntas mereciam uma resposta mais ampla, então resolvi escrever um pequeno texto a respeito. Vejamos:
Algo que me intriga bastante nesse contexto [da direita brasileira] é o filósofo (questionado enquanto tal, e louvado também) Olavo de Carvalho, que ora me parece lúcido e erudito, ora parece um teórico da conspiração e mesmo um fanfarrão, com afirmações sobre geocentrismo, relatividade, religião, políticas afirmativas e outras coisas completamente toscas. Perguntei isso há pouco em outro post (sobre o economicismo na geografia), mas creio que este aqui seja um espaço mais adequado, sobre o que acha deste autor? Pergunto pois ele é certamente uma das maiores forças e influências intelectuais conservadoras do país (embora viva fora), e as opiniões, positivas ou críticas, a respeito dele, raramente são equilibradas e sensatas como as suas.