sábado, 25 de fevereiro de 2023

Mais populismo: aumento do salário mínimo não reduz a desigualdade e nem a pobreza extrema

Já tem gente comemorando o aumento real do salário mínimo anunciado pelo Apedeuta em seu terceiro mandato. O problema é que esse aumento, além de piorar as contas públicas, na medida em que eleva o déficit previdenciário, não contribui para reduzir a desigualdade e a pobreza extrema.

De fato, Pesquisas realizadas pelo IPEA, com base nas informações da PNAD, demonstram que os aumentos do salário mínimo tiveram um efeito significativo de redução da desigualdade de renda nos primeiros anos do Plano Real, mas esse efeito já não se repetiu nos anos 2000 (Barros; Foguel; Ulyssea, 2006).

Uma explicação para isso é que a crise inflacionária de 1980 a 1993 havia feito com que o salário mínimo perdesse muito valor, afastando-se da média salarial. Daí que, quando o Plano Real estancou a inflação e o salário mínimo começou a subir mais rapidamente do que a média dos salários, o resultado foi uma sensível contribuição para o processo de redução da desigualdade de renda iniciado com esse Plano. Mas, em meados dos anos 2000, quando o salário mínimo já havia praticamente dobrado de valor, os novos aumentos reais aplicados já não tinham como alterar significativamente a concentração de renda. Além disso, os pesquisadores do IPEA levantam a hipótese de que, justamente por ter acumulado um grande aumento real de valor, o salário mínimo já está funcionando como um desestímulo à contratação de trabalhadores com esse nível salarial (Idem).

Outro motivo pelo qual não se deve esperar que aumento de salário mínimo ainda possa ajudar na redução da desigualdade é que, ao contrário do que se pensa, os trabalhadores mais pobres não se beneficiam desse aumento. Dados da PNAD para 2005 atestam que 20% dos trabalhadores brasileiros ganhavam menos do que o salário mínimo, enquanto na região Nordeste esse contingente ficava entre 40% e 50% dos trabalhadores. Isso significa que "o salário mínimo não é mínimo no Brasil" (Giambiagi, 2007, p. 90).

Daí que a elevação do salário mínimo também não é eficaz para a redução da pobreza extrema, já que os muito pobres ganham menos do que o mínimo! Mesmo em domicílios onde moram aposentados (que recebem uma renda pelo menos igual ao mínimo) há bem poucas pessoas situadas entre os mais pobres. Isso ocorre porque o valor do salário mínimo, dividido entre todos os membros de uma família de tamanho médio (quatro pessoas), já é suficiente para fazer com que a renda domiciliar per capita fique acima da linha de pobreza extrema. E isso mesmo sem considerar que a grande maioria dos domicílios onde mora uma família com ao menos um aposentado conta ainda com outras fontes de renda além dessa, especialmente os salários recebidos pelas pessoas que ainda não se aposentaram (Idem, ibidem).

Aumentos reais do salário mínimo poderiam ser bem-vindos se acompanhassem o crescimento da produtividade do trabalho, pois somente isso pode sustentar elevações salariais sem criar pressões inflacionárias e desestimular a geração de postos de trabalho. Mas os governos Lula 1 e 2, assim como os governos da Dilma, caracterizaram-se por um péssimo desempenho da produtividade do trabalho, sobretudo na indústria de transformação. Essa é a essência dos governos populistas: distribuir renda sem fazer nada para aumentar a renda a ser distribuída!

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BARROS, R. P.; FOGUEL, M. N.; ULYSSEA, G. (org.). Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: Ipea, v. 1, 2006

GIAMBIAGI, F. Brasil: raízes do atraso; paternalismo versus produtividade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

GIAMBIAGI, F.; SCHARTSMAN, A. Complacência. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

PT tem culpa pelas mortes no litoral, pois fez aumentar a desigualdade e a pobreza...

Quase 50 pessoas morreram com as chuvas no litoral paulista, então é claro que a Oxfam e colunista da Folha não iriam perder a chance de usar as mortes para fazer proselitismo. Mandaram ver logo: a culpa não é das chuvas, é da desigualdade. E ainda acrescentaram que as mortes foram causadas também pelo "racismo ambiental" (sic).

A hipocrisia desse discurso está no fato de que jornalistas e militantes que dizem o óbvio - se não existisse pobreza, ninguém iria morar em áreas de risco... - saúdam a exploração política que Lula faz do episódio sem dizerem uma palavra sobre o fato de que, em sendo assim, é preciso reconhecer que Lula e Dilma têm sua parcela de culpa por tais mortes. Afinal, a desigualdade e a pobreza extrema aumentaram nos governos do PT!

Aos números

Os dados da PNAD mostram que houve uma importante queda do nível de concentração de renda a partir de 1995, com o Plano Real. E que essa desconcentração se acelerou de 2001 em diante, quando Fernando Henrique Cardoso instituiu os programas de transferência de renda que deram origem ao Bolsa Família. Em 2003, quando Lula chegou ao poder, o processo continuou, mas acompanhado de aumento da pobreza! Isso porque parte das pessoas que já tinha ultrapassado a linha de pobreza voltou a ser pobre com Lula, diminuindo a desigualdade entre a população de renda média baixa e a população mais pobre. Já no biênio 2004-2005, a pobreza voltou a cair com velocidade semelhante àquela dos anos 1994-1995, e a queda da desigualdade prosseguiu (aqui). Todavia, por volta de 2012, o processo de desconcentração de renda arrefeceu e, depois, inverteu (aqui).

Mas isso considerando só os dados da PNAD. Porque, quando se cruzam os dados dessa pesquisa com as informações do Imposto de Renda, descobrimos que, de 2006 a 2012, a participação dos 5% mais ricos na renda nacional subiu de 40% para 44%. Não bastasse isso, Dilma conseguiu fazer a pobreza extrema aumentar estupidamente em apenas dois anos. O número de pessoas com renda inferior a 1,90 dólares por dia, conforme a Síntese de indicadores sociais, do IBGE, passou de 9,18 milhões em 2014 para 10,94 milhões no ano seguinte e para 12,05 milhões em 2016. Quase 3 milhões de miseráveis a mais!

Conclusão

Se é verdade que, falando em termos muito gerais, existe uma relação óbvia entre pobreza e tragédias como a de São Sebastião, não há dúvida de que Lula e Dilma têm sua parcela de culpa nisso. Entretanto, militantes de ONGs e o jornalismo de esquerda continuarão usando os mortos para fazer proselitismo político e sem mencionarem o fato de que o lulopetismo deixou os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Lula copia Bolsonaro e culpa o BC pelas taxas de juros

Uma das razões de a taxa de juros estar alta é que Bolsonaro furou o teto de gastos, mas o PT não fala disso porque faz a mesma coisa!

Em 2022, Bolsonaro usou a chamada "PEC Kamikaze" para gastar acima do teto. O Banco Central criticou a medida em documentos oficiais e, para cumprir a meta de inflação, elevou a taxa de juros 5 vezes! Assim, a taxa passou de 7,75% para 13,75%, em ano eleitoral, como lembrou o economista Alexandre Schwartsman. E Lula? Usou a famigerada "PEC da Transição" para aumentar a gastança ainda mais, fazendo o déficit público explodir. Foi o segundo maior aumento de déficit público anual da história, perdendo apenas para o aumento ocorrido em 2020, por causa da pandemia.

Diante disso, o mercado reagiu do mesmo modo como já tinha reagido em 2022: os juros futuros aumentaram. E o BC? Manteve a taxa de juros em 13,75% e criticou a PEC da Transição. Ainda assim, o PT e o jornalismo filopetista mentem dizendo que o BC era menos crítico em relação à gastança do governo anterior e mentem também ao afirmar que não há justificativa para a taxa de juros permanecer no mesmo patamar em que estava quando Bolsonaro saiu. Queriam então que a mesma politica fiscal gerasse resultados opostos só porque o presidente mudou? Ora...

A política fiscal Lula 3 é a mesma do governo Bolsonaro porque populistas são populistas. E, sendo um populista, Lula sempre vai culpar os outros pelas consequências nefastas das decisões dele, sempre vai fazer de conta que se preocupa com os pobres, sempre vai pintar a si mesmo como inimigo de elites insensíveis e sempre vai fingir ser diferente do populismo de direita que lhe faz oposição.

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