quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Marcelo Lopes de Souza: a banalidade da geografia

Poucos geógrafos atuais são tão festejados quanto Marcelo Lopes de Souza. E poucos são tão simplificadores quanto ele. Ao discutir a violência nas grandes cidades brasileiras e as contribuições do planejamento urbano para combatê-la, esse autor começa dizendo, corretamente, que não existe uma causa única para a criminalidade, pois mesmo a pobreza não opera de forma determinista, conforme demonstra a conhecida comparação entre Brasil e Índia. Pouco adiante, porém, reproduz as concepções da geocrítica sobre a lógica do capitalismo, desqualifica a democracia representativa e, ato contínuo, afirma a necessidade de realizar uma utopia radical: 

domingo, 25 de setembro de 2011

Gomes só não deu nome aos bois

Em um ótimo artigo, Paulo César da Costa Gomes (2009) afirma o seguinte: “a ideia de uma ordem espacial pode substituir a quimérica busca pelo domínio de um objeto específico e ao mesmo tempo significar a superação das causalidades simplistas, a tentação do fácil consenso banal e das respostas a priori, características que têm sido bastante nocivas à afirmação de um campo de análise efetivamente relevante para a geografia”.

sábado, 24 de setembro de 2011

Ainda sobre as organizações que não mudam

Para encerrar o post anterior, cabe avaliar mais três comentários publicados por estudantes no site do jornal Gazeta do Povo, em que foi publicada uma matéria que questiona a legitimidade das organizações estudantis. Os comentários dos alunos seguem em itálico.

"Qualquer posição, ação, tem conteúdo ideológico e político. Ou seja, o fato de querer (des)ideologizar, despolitizar, já por si só uma doutrina e uma ideologia. Que a meu ver, é uma ferramenta de desmobilização, ataque ideológico sobre qualquer tentativa de se organizar concretamente coletivamente, visando ações, independente de que pauta esteja sendo reivindicada. Reclamações sobre se entidades, partidos, representam ou não, surgem exatamente desta ideologia e doutrina, de despolitização!".

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um "movimento" que nunca muda


Como era de esperar, muitos estudantes publicaram comentários na página da internet em que saiu a matéria do jornal Gazeta do Povo sobre a falta de legitimidade do tal “movimento estudantil”. Vários desses comentários mostram que o “movimento” continua parado no mesmo lugar em que estava na segunda metade dos anos 1980, quando eu participei da política universitária. Durante um ano, fiz parte da diretoria do centro acadêmico, na FFLCH-USP. Participei de diversas reuniões, assembleias e discussões informais, mas o saldo dessa experiência foram três conclusões que me levaram a abandonar a militância para sempre. Vejamos:

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Entrevista sobre a doutrinação ideológica no ensino

O site No Mundo e nos Livros acabou de publicar um artigo que fala da educação em casa como alternativa ao problema da doutrinação ideológica nas escolas. O artigo traz uma entrevista com a equipe do site Escola Sem Partido na qual o coordenador desse site, Miguel Nagib, atua como mediador, enquanto eu respondo às perguntas. Vamos a elas, então.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A "revolução das aparências" nas universidades


O jornalista José Maria e Silva publicou recentemente um ótimo artigo: Ensino superior: a revolução das aparências

O texto se fundamenta em análises estatísticas e conclui: "ao contrário do que insinua o ufanismo verde-amarelo das universidades com o governo Lula, nenhum dado sobre educação no Brasil indica que há um fosso entre o ensino superior dos tucanos e o dos petistas". E ainda faz uma crítica excelente à falta de insenção dos jornalistas, dos pesquisadores das universidades e até dos órgãos técnicos do Estado. Um antídoto contra a ideia nefasta de que "tudo é ideologia".


OBS.: Publicado originalmente em 22 de agosto de 2011 no site Geografia em Debate

domingo, 18 de setembro de 2011

Comentário de um aluno sobre o dito "movimento estudantil"

Concedi uma entrevista ao jornal Gazeta do Povo para tratar da partidarização da política estudantil, algo que vem sendo muito discutido neste momento em que o DCE decretou greve dos estudantes (sic!). Um aluno me mandou um e-mail sobre a entrevista e me autorizou a publicá-lo aqui, desde que eu não citasse o seu nome. As razões do anonimato ficam claras ao final do comentário que ele fez, conforme segue.

sábado, 17 de setembro de 2011

O "movimento estudantil" e a censura

Quando eu era calouro da FFLCH-USP, o filme Je vous salue Marie (1984), de Jean-Luc Godard, havia sido proibido no Brasil (com apoio da igreja, por sinal; Dom Hélder Câmara até defendeu enfaticamente a proibição ao debater o assunto com jornalistas na TV). Mas um grupo de alunos veteranos levou os calouros para assistir à fita na sala de vídeo da faculdade, e uns jornalistas fizeram uma pequena matéria a respeito que saiu publicada no Estadão.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Augusto Nunes de ótimo mau humor

Em 1990, o jornalista Ruy Castro publicou um livro delicioso e de muito sucesso, intitulado O melhor do mau humor. Trata-se de uma "antologia de citações venenosas" que criticam tudo e todos com ironia e elegância. E, como ele próprio avisa na introdução, o mau humor a que se refere o livro costuma ser confundido com rabugice, pois serve para expressar "aquele justo sentimento de indignação que se apossa de nós quando alguém nos pisa nos calos emocionais ou intelectuais".

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ruy Moreira complementa Schopenhauer


O filósofo alemão Arthur Schopenhauer escreveu um livro (que não chegou a ser concluído) intitulado ironicamente The art of being right (A arte de ter razão). O título desse livro em português é muito engraçado: Como vencer um debate sem precisar ter razão. Mas o objetivo do livro não é ser uma peça de humor, já que põe a ironia à serviço de uma análise rigorosa de certas estratégias de argumentação que, em vez de serem usadas para chegar à "verdade" sobre o assunto em discussão, visam apenas conduzir o debatedor à vitória. Assim, à arte de argumentar com o objetivo de vencer por qualquer meio, lícito ou não, Schopenhauer deu o nome de "dialética erística", e a obra lista 38 estratagemas dialéticos desse tipo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bônus para professores melhora qualidade do ensino


Como visto em posts anteriores, os sindicatos de professores possuem grande parcela de culpa pelos problemas da educação brasileira. Com vistas a demonstrar os truques retóricos que essas entidades usam para defender interesses corporativistas prejudiciais à educação, nada melhor do que confrontar dois textos que defendem pontos de vista opostos sobre a política de bonificações que vem sendo aplicada no sistema de ensino do estado de São Paulo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A culpa da nossa direita


Leslie Bethell, no ensaio Brasil: o legado dos 500 anos e o futuro, publicado em 2000, expõe uma análise da história brasileira cheia de ideias bastante comuns na nossa academia e nos meios jornalísticos. Dentre elas, vale destacar a seguinte: “em uma democracia, é responsabilidade dos partidos políticos de esquerda e centro-esquerda assegurar o apoio da maioria do eleitorado aos programas de mudança social ou, pelo menos, forçar os partidos de direita e centro-direita a darem pelo menos alguma atenção ao atendimento das necessidades econômicas e sociais básicas da massa da população, dispondo-se a considerar algumas políticas sociais compensatórias, redistributivas, ainda que seja apenas para driblar demandas por mudanças mais radicais” (Bethell, 2000, p. 493).

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Estamos mal de currículo?


Durante a última reforma curricular realizada no Departamento de Geografia da UFPR, em 2007, redigi uma proposta de reformulação cujo pressuposto fundamental era o de que o novo currículo deveria ser pensado com o fim de elevar a empregabilidade dos alunos. A maioria dos professores que se manifestou a respeito, porém, disse que o mercado de trabalho, embora importante, não é essencial na elaboração de um currículo (ver aqui).

Entretanto, o problema da empregabilidade dos alunos voltou à baila em reuniões departamentais recentes que trataram do concurso a ser aberto para contratação de um professor para a vaga da Innês, que está se aposentando. A questão foi abordada em pelo menos dois momentos:

domingo, 11 de setembro de 2011

História mal contada da América em livro de geografia

Recentemente, o jornalista Leandro Narloch publicou o seu novo Guia politicamente incorreto da história da América Latina, o qual ainda não tive tempo de ler. Mas já foi divulgado que esse livro, assim como o Guia anterior, visa desfazer as monstruosas distorções que os livros de história vêm transmitindo nas últimas décadas. Nesse sentido, cabe-me acrescentar que os livros de geografia não ficam atrás em termos de distorção ideologizada da história brasileira e latino-americana.

sábado, 10 de setembro de 2011

Quem precisa citar fontes?

O geógrafo Herivelto Soares da Costa me enviou por email um comentário que complementa o que eu escrevi no post A retórica rasteira de Milton Santos. Eu havia comentado com ele que, quando Santos percebeu que qualquer coisa que ele dissesse ou escrevesse seria acatado pelos geógrafos e intelectuais críticos sem questionamentos, aproveitou-se disso para fazer retórica anticapitalista sem ter que se dar ao trabalho de apresentar evidências empíricas para provar suas afirmações. Herivelto complementou essa avaliação ao lembrar que Santos chegou a dispensar-se até de apresentar evidências documentais, conforme segue:

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre o nazi-petismo


No post "A Última do Nazi-Petismo(?)" eu comparei certa propaganda viral que circula na internet, e que tem conteúdos idênticos aos discursos do PT, com as estratégias de propaganda que os nazistas usavam. A identidade está no fato de que o PT, assim como recomendava Joseph Goebbels, mente repetidamente para transformar a mentira em verdade. Certa vez eu escrevi isso numa discussão em lista de e-mail e o meu interlocutor (um geógrafo petista, como são quase todos os geógrafos) se sentiu ofendido. Mas a comparação é perfeitamente justa. Se alguém ainda tiver alguma dúvida disso, basta acompanhar o chamado "escândalo do dossiê dos aloprados".

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Marx devia ser brasileiro"

Faz pouco tempo, eu estava conversando com uma estudante alemã que assistia às minhas aulas de Geografia do Brasil e ela fez um comentário muito interessante e pertinente. Ela disse que, nas universidades da Alemanha, Marx é estudado como um clássico das ciências sociais, um clássico entre outros. Todavia, aqui no Brasil, nas várias disciplinas que ela cursou em departamentos diferentes, praticamente só dava MARX (a exceção era justamente a minha disciplina). Daí o comentário irônico que ela fez: "eu acho que Marx devia ser brasileiro".

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Gogol e os petistas sem nariz

O escritor russo Nikolai Gogol é autor de um conto fantástico muito original e divertido, intitulado O nariz. Há mais de um enredo no conto, mas o que interessa aqui é a história de um burocrata russo com o pomposo cargo de "oficial de colegiatura" que, numa dada manhã, acorda completamente sem nariz! Ele então sai à procura do dito cujo, pois ficar apenas com um espaço liso no lugar do nariz era uma indignidade. Num dado momento, ele afirma: "qualquer vendedora de laranjas descascadas na ponte Voskresênski pode ficar ali sentada sem nariz, mas um rosto que aspira ao cargo de governador [...]".

domingo, 4 de setembro de 2011

O peleguismo dos nossos sindicatos

O geógrafo Lucivânio Jatobá enviou-me cópia de uma mensagem de e-mail que trata do peleguismo dos sindicatos de professores universitários. Realmente, não há comparação entre a combatividade desses sindicatos antes da Era Lula e sua complacência com os governos petistas. Mas vamos às explicações dele.

sábado, 3 de setembro de 2011

A retórica rasteira de Milton Santos


Quando Milton Santos dizia que a pobreza estava aumentando, muitos intelectuais acreditavam sem nem se incomodarem com o fato de ele não citar estatísticas para corroborar tal diagnóstico. Nas raras ocasiões em que era questionado, Santos contava com essa falta de senso crítico de intelectuais ávidos pela comprovação de suas ideologias anticapitalistas para descartar as críticas com uma retórica rasteira e contraditória

De fato, num debate em que o urbanista Jordi Borja contestou a afirmação feita por Santos de que a pobreza estaria aumentando, este se justificou da seguinte forma:

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A mitificação de Milton Santos

Poucos intelectuais brasileiros foram tão mitificados quanto Milton Santos, e não só pelos geógrafos. Certa feita, abri o Estadão e dei risada ao ler o seguinte: "Ele entra para a história intelectual do País não só por antever as perversidades da globalização e os fenômenos mundiais da urbanização, mas por ter revolucionado a geografia, ao entendê-la como uma ciência humana e não natural" (Pires, 2007, p. D9).