domingo, 25 de setembro de 2011

Gomes só não deu nome aos bois

Em um ótimo artigo, Paulo César da Costa Gomes (2009) afirma o seguinte: “a ideia de uma ordem espacial pode substituir a quimérica busca pelo domínio de um objeto específico e ao mesmo tempo significar a superação das causalidades simplistas, a tentação do fácil consenso banal e das respostas a priori, características que têm sido bastante nocivas à afirmação de um campo de análise efetivamente relevante para a geografia”.


Considero o diagnóstico certeiro, já que é exatamente isso o que eu vejo na geografia atual. As "teorias" formuladas ao tratar de problemas sociais ou ambientais costumam ser apenas acusações tão categóricas quanto superficiais contra o capitalismo, a economia de mercado, a "razão cartesiana" e/ou a democracia representativa. Os geógrafos apontam esses elementos como causas diretas dos problemas em foco e nem ao menos se dão ao trabalho de demonstrar a relação de causalidade mencionada, a qual é vista como uma espécie de verdade a priori ou já suficientemente provada. Assim, atribuir ao capitalismo ou ao mercado todos os problemas do mundo já se tornou um consenso que dispensaria comprovações ou detalhamentos.

Exemplos disso? Basta ler o que os geógrafos escrevem sobre agricultura, reforma agrária, fome e meio ambiente, conforme já critiquei no texto Agricultura e mercado no Brasil. Ou então, ler os trabalhos de autores consagrados, a começar por Milton Santos. 

Mas, embora fazendo um diagnóstico correto, o artigo de Gomes não menciona que são as ideologias anticapitalistas que moldam a maior parte das "causalidades simplistas" e do "consenso banal das respostas a priori" presentes na produção geográfica. Como também não citou exemplos concretos de trabalhos e autores que incorram nesses vícios. 

Isso não quer dizer que eu esteja criticando o artigo de Gomes por não ter dado nome aos bois. Compreendo que seu objetivo era destacar alguns problemas epistemológicos persistentes na busca dos geógrafos por um objeto exclusivo de estudo e sugerir um caminho alternativo a essa empreitada, o qual consiste na proposta de estudar a ordem espacial para demonstrar que a localização dos fenômenos transforma-os qualitativamente. 

Portanto, eu mesmo me encarrego de apresentar casos que mostram o quanto a geografia atual se perdeu em simplismos e consensos dogmáticos devido à sua opção anticapitalista. Começarei a fazer isso no próximo post, que analisará uma conclusão de Marcelo Lopes de Souza sobre as causas da criminalidade.

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GOMES, P. C. C. Um lugar para a Geografia: contra o simples, o banal e o doutrinário. In: MENDONÇA, F.; SAHR, C. L. L.; SILVA, M. (org.). Espaço e tempo: complexidade e desafios do pensar e do fazer geográfico. Curitiba: Ademadan, 2009.

3 comentários:

  1. Milton Santos se esmerava por dizer nada falando muito. Essa é a típica picaretagem da academia humanística no Brasil: falar difícil, muitas vezes de forma totalmente vazia destituída de sentido e casos empíricos para aparentar alguma intelectualidade, profundidade, enquanto que, na prática, não se faz nada além de repetir velhos clichês anticapitalistas primários. Parabéns, Diniz.

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  2. será que acho esse artigo na internet?
    Mariana

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  3. Eu tenho cópia digital desse texto porque fui coordenador de uma mesa desse ENANPEGE, mas não estou certo se posso divulgá-lo por e-mail. Vou perguntar para o professor que me mandou o texto se não tem problema e, depois, ponho a resposta aqui.

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