segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Estamos mal de currículo?


Durante a última reforma curricular realizada no Departamento de Geografia da UFPR, em 2007, redigi uma proposta de reformulação cujo pressuposto fundamental era o de que o novo currículo deveria ser pensado com o fim de elevar a empregabilidade dos alunos. A maioria dos professores que se manifestou a respeito, porém, disse que o mercado de trabalho, embora importante, não é essencial na elaboração de um currículo (ver aqui).

Entretanto, o problema da empregabilidade dos alunos voltou à baila em reuniões departamentais recentes que trataram do concurso a ser aberto para contratação de um professor para a vaga da Innês, que está se aposentando. A questão foi abordada em pelo menos dois momentos:


  1. Quando alguns professores da área de geografia humana propuseram contratar alguém que faça pesquisas sobre ensino de geografia, pois um dos argumentos usados em favor dessa proposta é o de que a maior parte dos nossos ex-alunos trabalha no ensino médio e fundamental;
  2. Quando foi dito, em contraposição a essa proposta, que os alunos formados estão tendo muita dificuldade para se inserir na área técnica, o que denotaria um problema de formação dos bacharéis;

Vale a pena fazer dois comentários sobre esses argumentos. O primeiro deles é que, conforme destaquei na última reunião, parece-me curioso que o mercado de trabalho seja considerado de importância secundária quando se discute a estrutura curricular inteira mas volte a ser lembrado como questão importante no momento em que se debate uma contratação. Será que mudar o perfil de um único professor faz mais diferença do que reestrurturar o currículo todo? O segundo ponto a comentar é que, se os nossos ex-alunos estão mesmo tendo dificuldades para se inserir nas ocupações técnicas, talvez a culpa disso seja do atual currículo. Afinal de contas, se o currículo foi pensado com base na premissa de que a importância do mercado de trabalho é secundária, nada mais lógico do que concluir que os problemas de inserção profissional mencionados sejam frutos exatamente da estrutura curricular assim concebida.

Faz sentido, não?

OBS.: Publicado originalmente em 21 de julho de 2011 no site Geografia em Debate

Um comentário:

  1. Sei que esta postagem é antiga, mas tive contato com ela, e com sua proposta curricular, somente hoje. Sou bacharel em geografia sem CREA. Optei por não ter o registro no CREA por simplesmente não necessitar do mesmo, seria um custo anual desnecessário, pois trabalho como "técnico em geoprocessamento". Arrependo-me profundamente ter feito Geografia, pois parece-me uma ciência medíocre frente a outras ciências, como Geologia, Engenharia Cartográfica, Engenharia Ambiental, etc.. Sei que estou desprezando o lado da Geografia Humana, mas a realidade é que o mercado de trabalho não valoriza esse profissional. Geólogos, Biólogos, Engenheiros Florestais, Ambientais, Agrimensores e Cartógrafos, Antropólogos, Sociólogos e Economistas são muito mais valorizados(em salário e em oferta de emprego). Assim como estou excluindo propositadamente a licenciatura, que talvez seja o único campo em que o formado em Geografia (Licenciatura) tenha exclusividade.
    E por que falo que é uma ciência medíocre? Porque não existe nada que um geógrafo possa fazer de maneira realmente especializada, que não possa ser feita por outra ciência. A tal "querida" análise espacial, parece não ser mais do que um adendo secundário às demais ciências. Estou desvalorizando a geografia? Não... o mercado de trabalho está.

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