quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Não podemos criminalizar o crime!

Numa zoeira impagável com a transferência de Lula para Tremembé, o humorista Joselito Müller escreveu:
"A defesa do ex-presidente se insurgiu contra a transferência de Lula, alegando que 'é um absurdo que uma pessoa, só porque foi condenada criminalmente, fique presa' e lamentou o que chamou de 'estado policialesco que quer criminalizar o crime'."
Ao ler essa passagem, me lembrei de muitos intelectuais de esquerda e professores que dizem praticamente a mesma coisa quando se trata de defender aqueles que usam de violência para impor as ideias políticas com as quais esses intelectuais e professores concordam. Só dois exemplos:
  • Sobre invasores de escolas e de universidades: "não podemos criminalizar os alunos". Como se todos os alunos fossem invasores, quando na verdade são só uma meia dúzia de gatos pingados que agem assim, e como se invasão não fosse crime de esbulho possessório.
  • Sobre invasões de terras e de imóveis urbanos: "não podemos criminalizar os movimentos sociais". Como se certas organizações políticas que se dizem "movimentos sociais" representassem interesses gerais da sociedade, ou ao menos da população mais pobre, e como se não praticassem efetivamente ações criminosas de vários tipos, como esbulho possessório, cárcere privado, vandalismo, agressão, etc.
Às vezes, nada melhor do que um humorista para expor de maneira bem sintética a incoerência e o cinismo com que certa esquerda tenta justificar suas visões políticas fascistoides. 

Postagens relacionadas

segunda-feira, 22 de julho de 2019

INPE: Bolsonaro repete Lula

Todo mundo indignado com o ataque boçal e covarde que Bolsonaro desferiu contra o INPE apenas  por sua contrariedade com os resultados das pesquisas do Instituto sobre desmatamento. Mas, entre esses indignados, há muitos petistas. E petista não está em posição de se indignar com essa atitude de Bolsonaro porque Lula fazia a mesma coisa!

Relembrando: Lula lançou o Fome Zero em 2003, mas, logo no ano seguinte, o IBGE publicou resultados da POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares, os quais provavam que a desnutrição já era um fenômeno residual na população adulta. Ou seja, que o quadro clínico de desnutrição ocorria com frequência estatisticamente irrelevante na população masculina e afetava um percentual muito pequeno de mulheres. A pesquisa também provava que, mesmo no quinto mais pobre da população, havia percentuais expressivos de casos de excesso de peso e de obesidade. Por fim, a pesquisa provava que a alimentação dos pobres é variada e saudável, apresentando características nutricionais positivas e negativas iguais às da alimentação dos estratos de renda mais alta (IBGE, 2004; 2006).

Qual foi a reação de Lula?  Ele deu uma entrevista dizendo que os dados do IBGE estavam errados porque os pobres tinham vergonha de responder aos pesquisadores que passam fome (sic!). Foi uma demonstração de ignorância e/ou de falta de vergonha em mentir tão grande quanto a de Bolsonaro. A POF não é uma pesquisa de opinião, pois se utiliza de medidas antropométricas e do cálculo do Índice de Massa Corporal - IMC para classificar os indivíduos nas categorias "déficit de peso" (que configura desnutrição), "excesso de peso" e "obesidade". E a aferição da disponibilidade de alimentos nos domicílios é feita diretamente pelo pesquisador, que anota os alimentos estocados na dispensa, não por meio de perguntas aos moradores.

Por ironia do destino, o ataque covarde de Bolsonaro ao INPE ocorreu logo depois de os meios de comunicação reverberarem a indignação de muita gente com a afirmação feita por esse presidente de que não existe fome no Brasil. A afirmação dele foi imprecisa e desinformada (o que não surpreende, já que ele é tão ignorante quanto Lula). Ainda assim, é certo que, conforme os dados da POF, Bolsonaro está muito mais perto da verdade ao dizer que a fome não existe do que Lula, que mentiu sobre a POF só porque essa pesquisa provava a inutilidade do Fome Zero.

Bolsonaro e Lula são políticos autoritários e populistas que semeiam discursos com sinais ideológicos opostos, mas combinados no obscurantismo. Precisamos sair da polaridade extrema direita versus extrema esquerda e voltar ao Centro.

- - - - - - - - - - -

Postagens relacionadas

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003: antropometria e análise do estado nutricional de crianças e adolescentes no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.