sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Decepções jornalísticas: de Guilherme Fiúza a Reinaldo Azevedo

O governo Bolsonaro fez eu me decepcionar com dois jornalistas: Augusto Nunes e Guilherme Fiúza. Não vou dizer que os lia rotineiramente, mas gostei de algumas coisas que li de ambos. Contudo, a adesão deles ao bolsonarismo me fez ver que as críticas desses jornalistas à esquerda e ao PT, embora corretas, não nasciam de uma visão de mundo realmente comprometida com a democracia e a liberdade. Afinal, como alguém que presa a democracia e a liberdade pode ver uma única qualidade que seja num governo escancaradamente autoritário como esse?

Agora, o governo Lula fez eu me decepcionar, e ainda mais intensamente, com um jornalista de quem eu li muita coisa: Reinaldo Azevedo. As criticas dele ao PT eram inteligentes e muito bem fundamentadas. Eu discordava de muita coisa que ele escrevia no campo dos costumes (ele é um conservador, eu não sou), mas as críticas politicas dele ao PT e à esquerda, na grande maioria das vezes, me pareciam certeiras.

E eu também concordo com a grande maioria das críticas que ele fez ao Bolsonaro. Mas com um porém muito sério. No afã de combater uma direita racista, Reinaldo Azevedo simplesmente jogou no lixo o que ele escrevia antes sobre questões raciais e começou a dizer, sem qualquer pudor, nem autocrítica, que o racismo brasileiro é "estrutural", tese contra a qual ele escreveu muito nos tempos do PT. 

Mas o que já era ruim ficou pior. Ele aderiu à candidatura Lula, e eu poderia aceitar que ele defendesse a mudança se ele usasse o argumento do mal menor (mesmo discordando de que seja um mal menor; tanto que anulei o voto). Mas Azevedo foi muito além disso.

Quem lê seus escritos hoje (e eu leio pouco porque não sou assinante do UOL), descobre que ele abriu mão de ser jornalista para se tornar um militante petista. Acredito que ele faz isso por achar que, se o governo Lula fracassar, poderemos ver a volta de Bolsonaro ou de algum direitista da mesma estirpe em 2027. Mas ele é jornalista, e um jornalista, no meu entender, não pode agir como um militante, ou seja, como alguém que seleciona informações e que elabora argumentos com o fim de apoiar uma causa, sem muita preocupação com a verdade e nem com a coerência.

Os exemplos de Nunes e Fiúza mostram que um dos piores aspectos da polarização ideológica em que vivemos é que o bolsonarismo e o lulopetismo são tão nefastos que, quando simpatizantes de um grupo atacam o outro, conseguem parecer muito mais lúcidos do que realmente são. Porque o bolsonarismo e o lulopetismo são tão autoritários, populistas, incompetentes, têm tantas histórias mal contadas no campo da ética (para dizer o mínimo!) e reverberam ideologias tão obscurantistas que, quando um grupo ataca o outro, geralmente acerta no que diz. E assim permanecemos presos na polarização, pois fica parecendo que um lado consegue de fato ser um mal menor em comparação com o outro, e o voto útil acaba matando a terceira via antes mesmo do segundo turno das eleições.

Já o exemplo do Reinaldo Azevedo mostra que mesmo um profissional que antes procurava argumentar de forma fundamentada e coerente pode aderir à luta política polarizada de tal forma que não se incomoda nem de subverter o compromisso com a imparcialidade que deve nortear o trabalho jornalístico!

De minha parte, procuro ser coerente ao mostrar que o Bolsonarismo e o lulopetismo merecem ser ambos rejeitados e que o principal motivo dessa rejeição é que, para além do campo dos costumes e dos simbolismos ideológicos, os dois lados têm muita coisa em comum.

EM TEMPO

Não, eu não concordo com as arbitrariedades e ilegalidades que estão sendo cometidas por Alexandre de Moraes para censurar e criminalizar jornalistas como o Guilherme Fiúza. É muito perigoso destruir as leis e as garantias individuais com o pretexto de proteger a democracia.

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