sábado, 20 de setembro de 2014

Redução da desigualdade começou com FHC e foi revertida pelo PT

Fonte: Hoffman, 2006

O gráfico acima foi elaborado com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD, e consta de um amplo estudo do Ipea sobre a desconcentração de renda no Brasil. O processo começou em 1995, um ano após a entrada em vigor do Plano Real, e se acelerou a partir de 2001. Com a chegada do PT ao poder, o processo teve continuidade no ano de 2003, mas acompanhado de aumento da pobreza: é que parte das pessoas que já tinha ultrapassado a linha de pobreza voltou a ser pobre, diminuindo a desigualdade entre a população de renda média baixa e a população mais pobre. Já no biênio 2004-2005, a pobreza voltou a cair com velocidade semelhante àquela dos anos 1994-1995, e a queda da desigualdade prosseguiu. Contudo, já naqueles anos se notava uma desaceleração desse processo, como aparece claramente em todas as curvas do gráfico.

E dali para frente? Muito ao contrário do que dizem os petistas, a concentração de renda voltou a crescer com o PT no poder! Uma pesquisa elaborada pelo Ipea demonstra que, entre 2006 e 2012, a fatia que os 5% mais ricos detinham na renda total do país passou de 40% para 44%. Essa pesquisa usou informações do imposto de renda, sendo, portanto, mais precisa do que os dados da PNAD. É que os dados da PNAD provém de informações transmitidas oralmente pela população aos pesquisadores, o que acaba gerando distorções por conta da subjetividade das respostas. O cruzamento das informações da Receita Federal e da PNAD mostra, aliás, que as pessoas de alta renda são as que mais distorcem as informações, subestimando os valores.


Instituições aparelhadas e dados escondidos

Não é por acaso que esse estudo do Ipea esteja engavetado! Quem quiser conhecer os dados, precisa recorrer à imprensa (Cf.: No Brasil de Lula e Dilma, os ricos ficaram mais ricos). Mas e a PNAD, mostra resultados diferentes? Hummm... Na última quinta, 18 de setembro, foi divulgado que o cálculo do índice de Gini feito com base na PNAD provou que, de 2012 para 2013, a desigualdade havia subido levemente: o índice passou de 0,496 para 0,498. Mas, logo no dia seguinte, o IBGE anunciou que havia ocorrido um erro de cálculo (sic!) e que o índice para 2013 havido ficado em 0,495...

É fato que o IBGE foi aparelhado pelo PT, conforme eu já demonstrei ao tratar da politização dos textos que analisam os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF (aqui). Mas será que o aparelhamento já chegou ao ponto de a instituição mentir sobre erros de cálculo que não ocorreram para distorcer os números em favor dos interesses do governo?

No mínimo, o anúncio do dito "erro" exatamente no dia seguinte à divulgação do índice de Gini permite levantar essa suspeita, não? E a suspeita é maior ainda quando se considera que o tal "erro", se aconteceu mesmo, é absolutamente grosseiro, como dizem os especialistas (aqui).

Realidade incontestável

Mas, ainda que tenhamos muito boa vontade com o governo - algo que o aparelhamento de Estado feito pelo PT prova que ele não merece -, e deixemos essas suspeitas de lado, não há dúvida de que a tendência à redução da desigualdade de renda acabou com a chegada dos petistas ao poder. Isso fica comprovado pela própria PNAD, e mesmo que o cálculo refeito do índice de Gini seja admitido como correto:
[...] como o avanço foi de apenas 0,001 ponto porcentual, economistas mantêm a avaliação de que a melhora na distribuição de riqueza parou. A diferença é tão pequena que, ao se construir um intervalo de confiança, a alteração estaria dentro dele. "O erro não muda a tendência, que continua sendo de estagnação", afirma o economista Marcos Lisboa, diretor e vice-presidente do Insper, e também um dos maiores especialistas em desigualdade no país (Cf.: Erro 'grosseiro' coloca em perigo a reputação do IBGE). 
Postagens relacionadas
- - - - - - - - - - -

HOFFMAN, R. Queda da desigualdade da distribuição de renda no Brasil, de 1995 a 2005, e delimitação dos relativamente ricos em 2005. In: BARROS, R. P.; FOGUEL, M. N.; ULYSSEA, G. (org.). Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: Ipea, v. 1, 2006.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário foi enviado e está aguardando moderação.