segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Islã precisa de reforma religiosa, mas isso é lá com eles

Escrevi recentemente um post para homenagear a revista Primeira Leitura, o qual comentava um texto publicado nessa revista acerca da história das Cruzadas (ver aqui). Coincidentemente, poucos dias depois, irrompeu uma onda de fúria nos países muçulmanos por conta de um filmeco que critica e ridiculariza Maomé. E logo apareceram artigos na imprensa clamando para que os ocidentais não caiam na armadilha da "islamofobia", chamando a atenção para o fato de que a maioria dos muçulmanos são pessoas comuns, que querem trabalhar, cuidar de suas próprias vidas, e que essa maioria não pode ser confundida com uma pequena parcela de fanáticos.


Muito bem, muito bem, estou de pleno acordo e aplaudo os argumentos contra qualquer generalização que dê em islamofobia. Mas não podemos ser ingênuos em nome da tolerância, ou acaberemos acreditando em falsas histórias e pensando que as explosões de violência religiosa que se dão entre os muçulmanos derivam apenas de interpretações deturpadas e ideologizadas dos ensinamentos do islamismo. Conforme a historiografia contemporânea, o imperialismo muçulmano da época das Cruzadas foi um processo histórico de longa duração e cujas raízes estão no próprio corpo doutrinário do islamismo. Jihad, ou Guerra Santa, não é um conceito inventado por fanáticos que deturparam as palavras de Maomé, mas sim um princípio doutrinário fundamental do islamismo. Prova disso é que o próprio Maomé fazia, em média, nove campanhas militares por ano! E as guerras lideradas pelo profeta não eram "santas" aos olhos dele?

Fundamentalismo, fanatismo e intolerância fazem parte da história de todas as religiões. Mas enquanto o Ocidente conseguiu separar igreja e Estado, extinguindo as perseguições religiosas, o mesmo não se deu entre os árabes e persas. Nada há de surpreendente nisso: esses povos não têm tradição democrática nenhuma, e o desiderato de organizar a sociedade com base na religião é fundamental no islamismo. Isso só é possível em regimes teocráticos ou nos quais o clero exerça algumas funções de Estado ou, pelo menos, uma forte influência sobre a ordem legal. Daí que, nos países muçulmanos, as mulheres são terrivelmente oprimidas e a diversidade religiosa é pouco ou nada tolerada. E isso sem falar no poder que mulás e aiatolás têm de condenar pessoas à morte em diversas regiões da Ásia e do Norte da África. 

Realmente, li certa vez uma declaração de um líder religioso muçulmano lamentando o fato de que uns 75% dos terroristas do mundo são muçulmanos. Mas por que os muçulmanos produzem mais fanáticos religiosos e terroristas do que os povos de outras religiões? Por causa da doutrina da guerra santa, que está no cerne do islamismo desde a sua origem. Admitir isso é ser fiel aos fatos, nada tendo a ver com "islamofobia".

Nesse sentido, o islamismo só virá a ser uma religião menos afeita a fabricar fanáticos e terroristas mediante uma reforma religiosa que, por meio de reinterpretações dos textos sagrados, rejeite o conceito de guerra santa. Isso até já foi feito, ainda no século XIX. A Fé Bahá'i teve origem com reinterpretações doutrinárias do islamismo que, entre outras mudanças, implicaram o abandono e rejeição desse conceito nefasto. Mas essa ruptura foi justamente um dos motivos que levaram os seguidores da Fé Bahá'i a serem acusados de heresia e traição por muçulmanos sunitas e também xiitas, e a tal ponto que, nos dias atuais, o Irã, berço dessa religião, é o país onde a população bahá'i sofre as mais indignas perseguições e discriminações. Quem quiser saber mais sobre isso, consulte a página do professor Sylvio Fausto Gil Filho, um amigo e colega de trabalho que, além de especialista em geografia da religião, é também bahá'i.

Não quero dizer com esse exemplo que o islamismo é incorrigível e tem de ser substituído por uma nova fé. É possível reinterpretar os textos sagrados dessa religião sem necessariamente fundar outra, do mesmo modo como já ocorreu com o catolicismo, por exemplo. Meu objetivo é apenas mostrar que é preciso ter claro que ondas de intolerância e violência como as que temos visto por causa de um filme não deixarão de ser um perigo potencial apenas com declarações de bom-mocismo por parte dos ocidentais. As populações muçulmanas continuarão a produzir fanáticos e terroristas em quantidade muito maior do que os povos de outras religiões enquanto não houver uma reforma religiosa no seio do islamismo. Mas, para encetar esse processo, creio que não há nada que as democracias ocidentais possam fazer. 

Bem, as pessoas que têm fé, de qualquer religião, podem rezar por isso.

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