Eu estava no prédio da Reitoria da UFPR na última quinta-feira, dia 27.10.16, no período da tarde. Sou membro da Comissão Permanente de Pessoal Docente - CPPD, e fui até lá para preencher e assinar documentos referentes aos processos de progressão funcional dos quais sou relator. Quando foi por volta de 15:30, fomos informados de que alunos iriam invadir e ocupar o prédio às 17:00 horas, mas que devíamos sair alguns minutos antes para "evitar confusão". E assim foi feito.
Com certeza, os Centros e Diretórios Acadêmicos alardearam pela internet que houve uma "ocupação pacífica" da reitoria. Mas sabem como eu me senti quando escutei que teria de sair do edifício para "evitar confusão"? Exatamente como eu me senti nas vezes em que fui assaltado e entreguei dinheiro aos bandidos para não correr o risco de ser agredido.
Claro, 17:00 horas é final de expediente. Mas eu já participei de reuniões da CPPD que se estenderam até horários entre 17:30 e 18:00. Naquele dia, felizmente, não tínhamos reunião. De qualquer forma, o que aconteceria se a invasão fosse de manhã ou no começo da tarde e os professores e funcionários decidissem não sair do prédio? Ou se eles tentassem entrar lá durante a invasão? Alguns anos atrás, eu fui àquele mesmo edifício numa terça à tarde e, chegando na portaria, três ou quatro alunos disseram que eu não podia entrar porque o prédio estava "ocupado", ou seja, invadido. Eu não exigi que me deixassem entrar, é óbvio. Mas e seu fizesse isso? Como eles reagiriam?
Falar em "ocupação pacífica" é o mesmo que falar em "assalto pacífico": se a vítima de assalto não reage, na grande maioria das vezes, não é espancada nem nada do tipo. Eu nunca reagi e nunca fui agredido, o que prova que muitos assaltantes são tão confiáveis quanto alunos que invadem reitoria. A única diferença é que o assaltante sempre avisa a vítima de que vai dar tiro se ela não entregar o que tem, ao passo que, no caso de invasões, não é necessário fazer ameaça explícita de violência porque a lógica e também os fatos concretos gritam que, em caso contrário, haverá intimidação e possivelmente até violência física.
É fácil entender essa lógica: o sucesso de uma invasão depende da credibilidade da ameaça de que vai haver intimidação e até violência caso não se dê passagem aos invasores. Se estes desistissem de uma invasão no caso de professores e funcionários se recusarem a sair, então nunca mais haveria invasão nenhuma, pois a ameaça perderia a credibilidade. E os fatos concretos provam que a lógica é essa mesma, conforme o vídeo que eu postei acima (e que está longe de ser um caso isolado). São episódios como aquele que dão credibilidade à ameaça que está na raiz de toda e qualquer invasão de terras, escolas, reitorias e quaisquer outros edifícios públicos.
Portanto, que fique bem claro: assim como não existe assalto pacífico, também não existe "ocupação pacífica" de reitorias e escolas, O que existe é, sempre e sempre, invasão com ameaça de violência, quando ninguém reage, e invasão com violência concreta, caso as pessoas não queiram ceder aos fascistas.
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Diniz, uma dúvida: por acaso os "ocupantes" tentaram em algum momento conversar pacificamente com a reitoria? Sempre fico intrigado com isso quando vejo essas invasões, digo, "ocupações". Será que existem tentativas de diálogo por parte dos estudantes?
ResponderExcluirAliás, não pude deixar de me lembrar de quando era aluno de graduação na Ufrgs e tinha vários colegas militantes, que estavam sempre em reuniões de DCE, manifestações e assemelhados, mas não tinham o costume de frequentar as aulas. Qual é o verdadeiro papel político de um aluno: estudar e retribuir de alguma forma à sociedade, que arca com seus estudos pagando altos impostos, ou brincar de revolucionário e deixar de lado os compromissos de um estudante sério? Fica a pergunta.
As principais reivindicações desta última invasão dizem respeito à PEC dos gastos e à reforma do ensino médio. Duas questões que estão além da alçada do reitor. Logo, nem faz diferença se houve ou não diálogo com a reitoria antes; eles iriam invadir de qualquer jeito.
ResponderExcluirDe resto, a experiência que eu tive com o movimento estudantil na USP, na segunda metade dos anos 80, foi igual a sua. A maioria dos militantes estudantis levava o curso nas coxas para poder participar de assembleias, reuniões, assembleias, reuniões, etc. Conheci só uma pessoa, uma só, que conseguia ser uma boa militante e uma boa estudante ao mesmo tempo. Era a única mulher da nossa gestão do Centro Acadêmico. O resto, ou furava em muitas assembleias e reuniões para poder ler mais (foi o meu caso) ou levava o curso nas coxas pra poder militar mais.
Enfim, acho reprovável um aluno deixar o estudo em segundo plano para fazer militância política, mas não é impossível ser bom aluno e bom militante. É difícil, mas é possível.
A ocupação do BIGARELLA no politécnico também não foi surpresa. Com tanta reintegração das escolas secundárias, a "revolução" haveria de eclodir em algum lugar. Quanto a militar e estudar, há outra categoria: o estudante trabalhador. Este é coitado que, no máximo tenta estudar. Quem dirá participar de assembléias, quase sempre unilaterais. Este é um pobre desgraçado, sendo ou não bom aluno, capacitado ou não, jamais terá voz.
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