sábado, 25 de fevereiro de 2012

Caso Pinheirinho revela quem é Eduardo Suplicy. Mas quem é?

Décadas antes de Lula aderir ao marketing "paz e amor", Eduardo Suplicy já destoava da grande maioria dos petistas por fazer pose de bom moço. Aparecia sempre como um esquerdista de ideias moderadas, amigo da democracia, honestíssimo, responsável e até ingênuo demais para um político. Dizia coisas tão cândidas (como a proposta de transformar a Escola Superior de Guerra numa "Escola Superior de Paz"...) que lembrava uma ovelha no meio dos lobos. Só quando abria a boca em debates televisivos é que o seu atrapalhamento na organização das ideias, assim como a constrangedora falta de agilidade argumentativa, viravam a imagem de bom moço no estereótipo do parvo.


Apesar do sucesso dessa imagem cultivada há tantos anos, é fácil comparar atitudes suas em relação a aliados e inimigos para mostrar que Suplicy é um lobo como qualquer outro, ou até um petista dos piores. Quando estourou o escândalo do mensalão, ele se deixou fotografar ao lado de Zé Dirceu, numa clara tentativa de transferir a este último parte de sua credibilidade. E, ao ser indagado sobre as acusações contra Dirceu, Suplicy respondeu que lhe dava "o benefício da dúvida". Anos depois, Suplicy aproveitou-se de sua imunidade parlamentar para acusar, com base em supostas denúncias de moradores do Pinheirinho, que alguns policiais que participaram da desocupação da área haviam praticado estupros durante a operação. Enquanto isso, ignorou olimpicamente os casos recentes de pessoas que foram cegadas de um olho por balas de borracha disparadas por policiais em operações de reintegração de posse efetuadas em estados administrados pelo PT (ver aqui).

Julgando essas atitudes à luz do realismo político, de que Maquiavel foi o primeiro a tratar sem os olhos da moral cristã, está claro que Suplicy participa do jogo da política como qualquer outro jogador. Ele é duro quando cobra moral e respeito aos direitos humanos em se tratando de governos adversários, e tanto que chega a fazer acusações sem provas e sem ter o cuidado de averiguar coisa alguma; ao mesmo tempo, faz vista grossa para as falhas de governos aliados em assuntos idênticos e concede o benefício da dúvida mesmo a quem já foi investigado, julgado e cassado por seus pares. Enfim, um político como qualquer outro, mas que convence muita gente ao se cobrir com pele de cordeiro.

Entretanto, pode haver um problema muito mais sério aí. Se é do jogo político seguir essa lógica de dois pesos e duas medidas, não se pode desconhecer que, quando se usa a tática de mentir de forma deliberada e repetida, inclusive com o expediente de forjar provas contra inocentes, a democracia é degradada. Bolcheviques, stalinistas e nazistas usavam muito convictamente essa tática de transformar a mentira em verdade à custa de fraudes e repetições incessantes. E é cristalino que o PT usa a repetição da mentira para atacar adversários, como também já existe ao menos um caso comprovado de petistas que recorreram ao suborno e outros métodos ilícitos para forjar provas de corrupção contra adversários políticos.

Ora, recentemente, Suplicy bateu boca com o senador Aloysio Nunes Ferreira porque este denunciou o modo como os petistas partidarizaram a Comissão de Direitos Humanos do Senado. Em sua fala destemperada - cadê o jeitão de mocinho de novela das seis? - Suplicy voltou a falar da denúncia de estupro no caso Pinheirinho. O problema é que, naquele ponto dos acontecimentos, tal denúncia já estava desautorizada pelos fatos. Vejamos um resumo feito pelo jornalista Reinaldo Azevedo a respeito (detalhes aqui):
- as pessoas que fizeram a acusação não moram no Pinheirinho;
- os supostos eventos não se deram no dia da desocupação;
- alguns dos denunciantes tinham sido presos com drogas e armas;
- fez-se boletim de ocorrência, e os presos e familiares estavam acompanhados de sua advogada; ninguém falou em estupro nenhum;
- as denúncias foram feitas 10 dias depois da suposta ocorrência;
- a advogada dos presos já atuou na defesa de membros do PCC.
Será que o senador Suplicy continua a falar no caso de estupro porque, feito um político como outro qualquer, usa de dois pesos e duas medidas? Ou será que Suplicy sempre soube que a denúncia contra a PM paulista era furada, mas fez e continua fazendo uso dela mesmo assim porque se aproveita da imunidade parlamentar para, assim como os nazistas, usar a tática de mentir repetida e descaradamente até que a mentira seja vista como verdade?

Qual das duas opções está correta? Embora eu não seja aliado do senador, deixo a pergunta em aberto, dando a ele o benefício da dúvida. Mas uma coisa é certa: de bom moço, Suplicy nunca teve nada.

2 comentários:

  1. Isto não é nada se comparado aos seus crimes contra a musica.
    Ainda assim me parece mais atrapalhado das idéias do que desonesto. Esses dinossauros recebem mais atenção do merecem, alguns minutos depois do seu discurso inflamado contra os supostos criminosos, o pessoal que milita de graça na internet já começa a sonhar com o exagero. O que complica ainda mais qualquer tentativa real de investigação, pois a credibilidade já está no buraco. Pior do que o Senador são os desmiolados que se deixam levar por qualquer factóide.

    ResponderExcluir
  2. Tem mesmo gente, especialmente na geografia, que acredita em denúncia de petistas, como se os fatos já não tivessem provado sobejamente que o PT não está nem aí para ética. Mas os piores petralhas da internet são aqueles que agem a soldo, aparelhando as seções de comentários de sites de notícia. Quanto ao Suplicy, só dou a ele o benefício da dúvida porque não tenho como provar que ele sabe e sempre soube que a denúncia de estupro é falsa. Como eu não quero usar os mesmos métodos sujos do PT contra os petistas, não faço acusações sem provas, então mantenho a hipótese de que ele insiste na denúncia falsa apenas porque não averiguou nada e que não se dá ao trabalho de averiguar porque é um político irresponsável. Mas, em qualquer das hipóteses, está claro que Suplicy é um péssimo senador, pois usa a prerrogativa democrática da imunidade parlamentar contra crimes de opinião para fazer acusações infundadas contra pessoas inocentes, o que rebaixa a qualidade do regime democrático.

    ResponderExcluir

Seu comentário foi enviado e está aguardando moderação.