quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CQD: Aécio poupou o governo e está em terceiro! Não foi só azar, não

Tempos atrás, joguei uns tomates num texto de Alberto Carlos Almeida que, com um governismo mal disfarçado, elogiava Aécio Neves por não fazer uma oposição firme ao governo Dilma. Conforme escrevi, "[...] no artigo O jeito Aécio de fazer oposição (Época, n. 720, 05 mar. 2012), Almeida realmente fez aquilo de que tem sido acusado, ou seja, largou mão do rigor para fazer pseudo-análises políticas cujas conclusões só servem para deixar o governo Dilma sair bem na foto. Ele diz que não faz sentido atacar um governo tão bem avaliado e chama aqueles que cobram uma postura mais oposicionista do tucano Aécio Neves de 'intelectuais', ou seja, uma minoria da elite. Depois, afirma que Aécio é um político mineiro muito sábio por ficar fazendo média com o governo a fim de ganhar votos, como se o objetivo de um político devesse ser apenas vencer eleições, e não contribuir para gerar mudanças político-ideológicas e de valores no médio e longo prazos".


Embora eu não possa dizer que tenho muita informação sobre a gestão de Aécio em Minas, o que já li a respeito me deixou com uma impressão positiva, na medida em que seu governo mostrou compromisso com a responsabilidade fiscal, a eficiência administrativa e os valores republicanos. E a estratégia de poupar o governo Dilma de críticas tinha uma lógica que o texto de Almeida, malandramente, escondeu. É que Almeida dava a entender que Dilma tinha boa avaliação por fazer um bom governo, quando a razão era bem outra. Dilma era bem avaliada porque, embora o boom econômico internacional dos anos 2003-2007 já tivesse terminado, os governos do PT ainda eram capazes de elevar a renda de pobres e remediados por meio de aumentos reais do salário mínimo e da expansão do Bolsa Família. Isso era possível graças ao corte de investimentos, à elevação da carga tributária e a um relaxamento cada vez maior da meta de superávit primário e do controle da inflação. Hipotecaram o futuro com populismo.


Logo, a estratégia de Aécio era a seguinte: fazer uma oposição fraca para, de um lado, não perder popularidade junto aos que aprovavam o governo Dilma e, de outro, não deixar de ser visto como oposicionista pela opinião pública; quando ficasse impossível para o governo continuar melhorando a renda dos pobres com políticas populistas, transformar o descontentamento em votos para chegar à vitória. Mas o risco dessa estratégia estava no timing: nada garantia que o desgaste de Dilma chegaria na hora certa e com intensidade suficiente para levar Aécio à vitória.

"Avião caiu na cabeça de Aécio" (Ricardo Setti)

Até a morte de Eduardo Campos, parecia que a estratégia de Aécio estava dando resultado, mas não o suficiente para elegê-lo. Dilma não estava em situação eleitoral confortável como nas disputas anteriores do PT, mas continuava sendo favorita, já que a maior parte do estrago causado pelo PT só vai ser sentido na próxima gestão. Com a entrada de Marina, porém, Aécio caiu para terceiro e esta se tornou a nova favorita.

Foi azar dele, sem dúvida, mas não apenas isso. A ascensão de Marina prova que os pobres e boa parte dos mais escolarizados não querem que o PT seja substituído por um partido comprometido com austeridade fiscal, eficiência e valores democráticos; eles querem é que o PT real seja substituído pelo PT ideal, ou seja, por um governo supostamente capaz de promover o bem-estar geral hostilizando a eficiência econômica e distribuindo benesses!

Aécio se recusou a fazer uma oposição baseada na defesa intransigente da racionalidade econômica e dos valores republicanos. Não ajudou, pois, a fortalecer no país uma mentalidade moderna, que servisse de base para sua candidatura e para uma plataforma de governo não populista. Não é só por azar que passou para terceiro.

Estou querendo dizer que, se Aécio tivesse feito uma oposição de verdade, chegaria à vitória? Não. Estou apenas repetindo o que já escrevi há tempos: "[Almeida] julga a estratégia política contemporizadora de Aécio só do ponto de vista dos interesses eleitorais imediatos desse político. Quando se desconsideram as diferenças de mentalidade, deixa-se de lado a importância de os partidos de oposição criticarem os valores arcaicos que atrasam o Brasil e que explicam a maior parte do sucesso eleitoral do PT. Pode não ser a melhor estratégia para ganhar a próxima eleição, mas é o único caminho para construir, no longo prazo, um país mais democrático, menos corrupto e com maior dinamismo econômico. Ademais, ser bonzinho com o PT não tem funcionado nem como estratégia eleitoral de curto prazo".

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