Geraldo Samor escreveu um artigo primoroso sobre a influência da economia brasileira na eleição deste ano (Cf.: It's the economy, stupid!... Só falta explicar). No começo do artigo (anterior à morte de Campos), ele mostrava que o favoritismo de Dilma estava na grande dificuldade para as oposições comunicarem ao "homem médio" que o aumento de renda ocorrido nos últimos anos se deveu a um boom econômico que já terminou e que as escolhas feitas pelo PT no poder comprometeram a renda futura de todos, a começar pela dos mais pobres.
Para ilustrar essa análise, ele comenta uma entrevista que fez com Israel Araújo, pedreiro e pai de família com renda mensal de R$ 1.800,00, fora mais R$ 80,00 recebidos do Bolsa Família. O entrevistado diz que o governo Dilma deu um bom prosseguimento ao governo Lula, ainda que não tenha sido tão bom quanto aquele. Depois, Geraldo Samor comenta:
Seu Israel, o "homem médio" a ser convencido, entende de racionalidade econômica. Antes de se tornar pedreiro, ganhava a vida como pintor, mas resolveu mudar de profissão porque "todo mundo que perdia o emprego virava pintor, e aí não dava pra tirar a mesma coisa que antes", disse ele. Além disso, a pintura de um apartamento dura apenas alguns dias, enquanto uma obra qualquer o mantem empregado por muitos meses.Apesar de tomar decisões econômicas racionais, ele não consegue analisar a política econômica sob a mesma ótica.A coluna perguntou a seu Israel se ele estava incomodado com a inflação e quem era responsável por isso. Sua resposta: "Acho que isso aí são os grandes empresários".
Isso explica bem o sucesso eleitoral do PT nos últimos anos. Tudo o que aconteceu de bom nos governos do PT foi fruto da continuidade da política econômica do segundo mandato de FHC - a mesma que o PT acusava de ser "neoliberal" - combinada com o boom econômico mundial de 2003 a 2007. Quando estouraram as crises nos EUA e Europa, em 2008 e 2010, o Brasil não viveu uma crise financeira graças à continuidade da política econômica e aos programas de reestruturação do setor bancário feitos por FHC. Mas os pobres tomam decisões racionais olhando somente o aqui e agora, sem comparar o Brasil com o resto do mundo e sem conhecer as relações de causa e efeito que regem a economia. Não sabem que o Brasil tirou muito menos proveito da onda de prosperidade mundial do que os outros Brics e o resto da América Latina, não sabem que nosso crescimento continuou pior do que o desses países no contexto de crise que se seguiu e, por fim, culpam "grandes empresários" por uma inflação que é causada pelo governo!
Depois que o avião caiu
Mas, como eu disse, o artigo de Samor foi publicado antes da morte de Eduardo Campos. Agora, pesquisa do Datafolha mostra que Marina Silva é a nova favorita, e que venceria Dilma Rousseff no segundo turno por diferença de 10%, se a eleição fosse hoje. Em parte, isso acontece porque Marina atrai os pobres com o mesmo tipo de discurso vago, populista e demagógico de Lula. Daí que o "homem médio", como o sr. Israel, vê nela alguém que poderia ser melhor do que Dilma e tão boa quanto Lula.
Mas essa decolagem eleitoral ocorre também porque Marina faz um sucesso enorme junto ao eleitorado de maior escolaridade. O que explica isso? Será possível que os mais escolarizados, ao contrário dos pobres, não sabem tomar decisões econômicas racionais?
Ora, é claro que eles sabem. Ter concluído a universidade já é a maior prova de racionalidade econômica, como se vê nas pesquisas de emprego. O grande problema é que esse setor do eleitorado foi formado por um sistema escolar que, dominado por ideologias anticapitalistas, leva-o a avaliar a qualidade dos governos segundo critérios tão irracionais quanto aqueles usados pela população pobre. Para não me alongar sobre isso, vou citar uma passagem lapidar de um texto de Carlos Alberto Sardenberg:
Como pode ocorrer essa contradição tão flagrante entre o mundo real, que exibe um capitalismo globalizado e pujante, levando quase todos os países a uma fase de prosperidade sem precedentes, e o domínio de um pensamento de esquerda anticapitalista?Uma explicação está na formação de boa parte das elites brasileiras. Elas leram e estudaram Huberman. Não leram nem estudaram Adam Smith. (SARDENBERG, C. A. As elites socialistas. O Globo, 20 set. 2007).
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