quinta-feira, 22 de novembro de 2012

CQD: Pesquisas atestam o papel nefasto dos sindicatos de professores

No texto Premiar os melhores professores, eu apresento uma série de críticas aos interesses corporativistas manifestos na retórica utilizada pela Apeoesp para repudiar a política de gratificação de professores executada pelo governo do estado de São Paulo. Trata-se de uma análise argumentativa que, ao pôr em destaque as contradições e truques retóricos dos sindicalistas e de seus paus mandados no jornalismo, revela o interesse daquela corporação em preservar o pacto de mediocridade que impera em nossas escolas. E há muitas evidências empíricas que corroboram as conclusões a que cheguei nessa análise, como se lê num ótimo artigo publicado estes dias por Gustavo Ioschpe. Embora sem mencionar os sindicatos, o autor apresenta resultados de pesquisas quantitativas para desmontar certos lugares comuns que os sindicalistas dessa categoria usam em sua pregação. Sendo assim, apresento abaixo duas alegações muito repetidas por sindicatos como a Apeoesp e as informações de pesquisas citadas por Ioschpe que justificam as minhas contestações:

A Revista Fórum, que é financiada pela Apeoesp, assegura que a carga de trabalho dos professores é muito pesada e que a política de bonificação os obriga a dar mais aulas ainda. Além disso, qualifica essa política como desumana porque só os professores assíduos ao trabalho recebem os bônus salariais, o que implicaria forçá-los a não faltar ao serviço mesmo quando doentes.
A ideia de que o professor precisa correr de um lado para o outro, acumulando escolas e horas insanas de trabalho, não resiste à apuração dos fatos. Quase seis em cada dez professores (57%) trabalham em apenas uma escola. Em três ou mais escolas, só 6% do total. Um terço dos professores dá até trinta horas de aula por semana. Vinte e oito por cento lecionam quarenta horas (a carga normal do trabalhador brasileiro) e só um quarto dos professores tem jornada acima de quarenta horas por semana.[...] O professor pode até faltar ao trabalho sem medo de sanções. Estudo recente sobre a rede estadual de São Paulo mostrou que o professor médio falta em dezoito dos 200 dias letivos. É um índice de falta muito superior até mesmo ao dos outros servidores públicos, que já é maior que na iniciativa privada. Depois de uma investigação de meses com o repórter Rafael Foltram junto às secretarias estaduais, descobrimos que há situações muito piores, com faltas entre 11% e 15% dos dias letivos. E isso é certamente uma subestimação, pois a maioria das secretarias não fica sabendo quando um professor se ausenta durante parte de um dia; algumas só são notificadas em faltas de três dias ou mais.
O presidente da Apeoesp defende que, em vez de gratificações, deve-se instituir um Plano de Carreira no qual o nível de aprendizado dos alunos não conta nada para a elevação salarial dos professores, sendo esta definida apenas por critérios quantitativos de produção e de "atualização". Ou seja, nada muito diferente do que já existe atualmente, e que explica a péssima qualidade do nosso sistema de ensino, apesar da enormidade de dinheiro investido nele.
[...] o professor sai da universidade, passa em um concurso, chega à sala de aula e, na maioria dos casos, fracassa. Seus alunos não aprendem. Esse professor poderia entrar em crise, poderia buscar ajuda, poderia voltar a estudar, poderia ter planos de apoio de sua Secretaria de Educação. Mas nada disso costuma acontecer, porque não há sanção ao professor ineficaz, nem incentivo ao professor obstinado. O professor que fracassa continuará recebendo seu salário, pois tem estabilidade. Seguirá, inclusive, sendo promovido, pois na maioria das redes a promoção se dá por tempo de serviço ou titulação, não por mérito.
Há muitas outras informações preciosas para a discussão dos problemas da educação brasileira no texto de Ioschpe e, embora eu não concorde plenamente com todas as conclusões dele, deixarei isso para outra ocasião. Por enquanto, o recado está dado: a educação brasileira não precisa de mais investimentos, mas sim de sistemas de incentivos que melhorem a eficiência do dinheiro que já é investido. É o caso das políticas de gratificações, que premiam os melhores e incentivam os acomodados a melhorar.

2 comentários:

  1. Eu concordo com ele no que se refere a má distribuição de recursos para educação, sendo que a maior parte do dinheiro vai para o ensino superior. Eu tenho 50 aulas por semana, não é pouco, e conheço varios professores que tem até mais. O salario é baixo sim, se tivesse um salario melhor, atrairia pessoas mais qualificadas, conheco varias pessoas que gostariam de lecionar e devido ao baixo salario foram para outras áreas. Eu já dei aula em várias escolas e notei que a aprendizagem está muito ligada a questão social do educando. Cuidado Diniz que a revista veja sempre tenta culpar os professores pelo baixo desempenho escolar e o problema é muito mais complexo.O sistema meritocratico que começou em Nova York já foi abandonado por falta de resultados. Queria saber sua opiniao sobre a critica que fazem ao ensino superior, muito facil criticar o ensino básico tendo 50% de hora atividade e outros beneficios de um professor universitario.

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    1. Olá, professor. Os professores sempre reclamam dos baixos salários, mas uma das pesquisas citadas por Ioschpe mostra que a maioria deles está satisfeita com sua profissão e que não a escolheu por causa do salário. Esse foi um dado da pesquisa que me surpreendeu, pois eu também achava que pagar mais (com bônus, não por meio de salários) seria um bom caminho para atrair gente mais qualificada para a profissão.

      De qualquer modo, vemos que não há motivos para acreditar que aumentos salariais irão melhorar a qualidade do ensino. Conforme ele diz, e eu defendi o mesmo no meu texto, os professores acomodados não vão melhorar por ganharem mais. É preciso haver um sistema de incentivos em que a gratificação seja concedida de acordo com avaliações feitas sobre o nível de aprendizado dos alunos. Não tenho informação de que o sistema usado em NY foi abandonado, e ressalto que esse é apenas um entre outros. Chicago também usa um sistema meritocrático, e houve professores que trapacearam para melhorar artificialmente os resultados dos seus alunos. Por outro lado, as estatísticas provaram que o bom professor faz diferença. Então, é preciso premiar o bom professor, não aquele que é acomodado. O discurso de que nossos professores trabalham demais e ganham pouco só contribui para que os piores continuem melhorando seu nível salarial com o tempo mesmo sem se esforçarem.

      Sobre os sindicatos de professores universitários, minhas críticas são as mesmas que faço à Apeoesp. Quando FHC instituiu a GED (uma gratificação para quem tivesse mais produtividade em aulas) nossos sindicatos, com o apoio unânime dos professores, fizeram de tudo para incorporá-la aos salários. Maquiaram os relatórios de atividades dos professores, para que ninguém ficasse sabendo quem trabalhava mais, e entraram na justiça para exigir a incorporação. E conseguiram!

      Aliás, nada melhor do que o nosso ensino universitário para provar que incentivos por desempenho funcionam melhor do que aumento salarial puro e simples. Na pesquisa, onde existem bolsas produtividade e incentivos de verbas, a produção é crescente. Já a produtividade em aulas, medida pelo número de alunos formados por professor, permanece baixa. O Reuni veio justamente para aumentar esse índice, mas de forma perversa: institui-se, na prática, a aprovação automática de alunos. Algo que já existe no ensino fundamental e médio e que, no caso brasileiro, teve péssimos resultados.

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