segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O fascismo é mobilizador, assim como o socialismo. Nada a ver com o regime de 64



Sou professor de Geografia do Brasil, e entendo que, para contextualizar as discussões políticas e acadêmicas acerca desse objeto, o Brasil, é preciso tratar um pouco de história. Numa aula recente, fiz comentários sobre as ditaduras brasileiras que, a julgar pelas expressões de um ou dois alunos, causaram-lhes muita estranheza. Eu comentei que, embora haja semelhanças inequívocas entre o integralismo, o regime do Estado Novo e o nazi-fascismo, há também muitos debates entre os historiadores sobre as diferenças entre essas forças políticas. E acrescentei que uma das principais diferenças está no fato de que, se o nazismo e o fascismo procuravam manter a população mobilizada politicamente para a defesa desses regimes (e daí a sucessão de passeatas, marchas, etc.), a ditadura Vargas era, por seu turno, desmobilizadora: a população era chamada a participar de comemorações oficiais, como a Semana da Pátria, mas esperava-se que permanecesse alheada da política no restante do ano. O mesmo se dava com o regime de 64, por sinal.

Todavia, o que parece mesmo ter deixado alguns alunos surpresos foi quando eu aduzi que, sendo assim, os ativistas da política estudantil e de outros "movimentos sociais" se equivocam completamente quando chamam de "fascistas" àqueles para quem os centros acadêmicos e outras organizações de representação devem se preocupar precipuamente com questões acadêmicas ou profissionais. Aliás, neste blog mesmo eu publiquei o comentário de um aluno que denunciou o uso da expressão "fascista" para descartar as reclamações contra a excessiva politização das entidades estudantis (ver aqui).

Ironicamente, porém, quem mais se assemelha aos fascistas, nesse caso, são esses militantes que andam por aí a dizer que todas as pessoas têm obrigação moral de participar de organizações e movimentos político-ideológicos para contribuir com a sociedade. E fazem isso sem nem se tocar que esse é um dos pontos comuns entre o nazi-fascismo e o socialismo: a mobilização política permanente de todas as pessoas em prol de certas causas. É por esse motivo que os regimes socialistas, assim como o nazismo e o fascismo italiano, são totalitários, enquanto as ditaduras do Estado Novo e o regime de 64 eram autoritários.

Enfim, como sabem pouco das ideologias que defendem, e menos ainda sobre as ideologias que pensam combater, os nossos militantes acabem fazendo acusações injustas contra aqueles que desejam melhorar a qualidade das instituições de representação política e ainda agem de forma fascistoide no momento mesmo em que acusam os outros de "fascistas". E, se alguém achar que eu estou exagerando, que experimente olhar o exemplo prático da Universidade de Brasília...

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