quinta-feira, 20 de abril de 2023

Lula 3 - Lista de "promessas cumpridas" é autoajuda com dinheiro público

O Último Segundo publicou uma matéria com a chamada 100 dias: Lula cumpriu 13 das 36 promessas feitas em campanha. Só a chamada já é de uma desonestidade intelectual vergonhosa, pois, quando lemos o texto, descobrimos que a fonte consultada para contabilizar as "promessas cumpridas" é o próprio governo Lula! Se houvesse preocupação em informar com um mínimo de objetividade, seria preciso escrever "segundo Lula, seu governo cumpriu...". Mas não! 

O pior de tudo, porém, é que a lista de "promessas cumpridas" revela tantas picaretagens retóricas que chega a ser risível, e o fato da matéria não comentar absolutamente nada sobre isso é uma prova adicional de enviesamento político.

Autoajuda com dinheiro público

Vemos ali as promessas de não privatizar os Correios e não privatizar o Banco do Brasil, o que é risível. Afinal, se há um tipo de promessa facílima de cumprir é a de NÃO fazer algo que o Executivo não esteja obrigado a fazer por força de lei! E é risível também porque, quando nos lembramos de que o mensalão e o petrolão funcionaram sob os governos petistas, e quando recordamos também da "República Sindical" montada pelo PT nas suas gestões anteriores, fica fácil concluir que a recusa a privatizar tem o objetivo de beneficiar o PT, seus aliados na CUT e os políticos fisiológicos com os quais o PT negocia cargos. Com efeito, a ciência econômica já demonstrou de maneira robusta que o Estado empreendedor é ineficaz e visa atender prioritariamente aos interesses dos políticos, como demonstra o economista Marcos Mendes (2023).

E há 4 outros exemplos de promessas muito fáceis de cumprir e que beneficiam os próprios petistas: as recriações dos ministérios da Previdência Social, da Pesca e da Cultura e a promessa de instituir o "Ministério dos Povos Originários". Ora, qual seria a dificuldade de cumprir tais "promessas" se não há óbice legal algum para instituir ministérios e se o governo Lula usou a PEC da Transição para furar o teto de gastos - aliás, do mesmo modo que seu antecessor já havia feito em 2022? E desde quando aumentar o número de ministérios é uma medida boa de per si? Apresentar isso como "promessas de campanha cumpridas" é piada de mau gosto. 

Ora, o truque mais manjado dos populistas sempre foi o de instituir órgãos e mais órgãos especializados em resolver todo o tipo de problema. Quando o Ministério da Pesca foi instituído pela primeira vez, em 2009, a medida já foi criticada por conta de sua inutilidade. E a criação de um ministério exclusivo para resolver os problemas das populações nativas chega a ser um escárnio, tendo em vista que, segundo dissertação de mestrado realizada por uma pesquisadora da Fiocruz, as populações indígenas de todas as regiões brasileiras padeciam de graves problemas de desnutrição infantil nos anos de 2008 e 2009, ou seja, no final do governo Lula 2 (Nazaré, 2012). Foi falta de ministério? Francamente... 

Os únicos efeitos garantidos de não vender estatais e de (re)criar ministérios são: a) Lula dispõe de mais cargos para lotear entre petistas, sindicalistas e políticos do centrão; b) ampliar a máquina burocrática, o que implica aumento de gastos e, portanto, pressão pelo aumento de impostos. Em suma, Lula cumpriu "promessas de campanha" facílimas de cumprir e que só trazem benefícios para ele mesmo, enquanto os contribuintes, principalmente os de baixa renda, são prejudicados. 

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