quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sindicatos de professores universitários também não querem saber de bônus

Imagem publicada no blog do professor Adonai Sant'Anna
Um professor fez um comentário ao texto Pesquisas atestam o papel nefasto dos sindicatos de professores e, como a minha resposta acabou complementando a discussão feita ali com informações sobre a universidade, avaliei que seria interessante transformá-la em um post. Vejamos os questionamentos dele e, na sequência, a minha resposta.
Eu concordo com ele [Gustavo Ioschpe] no que se refere a má distribuição de recursos para educação, sendo que a maior parte do dinheiro vai para o ensino superior. Eu tenho 50 aulas por semana, não é pouco, e conheço varios professores que tem até mais. O salario é baixo sim, se tivesse um salario melhor, atrairia pessoas mais qualificadas, conheco varias pessoas que gostariam de lecionar e devido ao baixo salario foram para outras áreas. Eu já dei aula em várias escolas e notei que a aprendizagem está muito ligada a questão social do educando. Cuidado Diniz que a revista veja sempre tenta culpar os professores pelo baixo desempenho escolar e o problema é muito mais complexo.O sistema meritocratico que começou em Nova York já foi abandonado por falta de resultados. Queria saber sua opiniao sobre a critica que fazem ao ensino superior, muito facil criticar o ensino básico tendo 50% de hora atividade e outros beneficios de um professor universitario.
Olá, professor. Os professores sempre reclamam dos baixos salários, mas uma das pesquisas citadas por Ioschpe mostra que a maioria deles está satisfeita com sua profissão e que não a escolheu por causa do salário. Esse foi um dado da pesquisa que me surpreendeu, pois eu também achava que pagar mais (com bônus, não por meio de salários) seria um bom caminho para atrair gente mais qualificada para a profissão. 

De qualquer modo, vemos que não há motivos para acreditar que aumentos salariais irão melhorar a qualidade do ensino. Conforme ele diz, e eu defendi o mesmo no meu texto, os professores acomodados não vão melhorar por ganharem mais. É preciso haver um sistema de incentivos em que a gratificação seja concedida de acordo com avaliações feitas sobre o nível de aprendizado dos alunos. Não tenho informação de que o sistema usado em NY foi abandonado, e ressalto que esse é apenas um entre outros. Chicago também usa um sistema meritocrático, e houve professores que trapacearam para melhorar artificialmente os resultados dos seus alunos. Por outro lado, as estatísticas provaram que o bom professor faz diferença. Então, é preciso premiar o bom professor, não aquele que é acomodado. O discurso de que nossos professores trabalham demais e ganham pouco só contribui para que os piores continuem melhorando seu nível salarial com o tempo mesmo sem se esforçarem.

Sobre os sindicatos de professores universitários, minhas críticas são as mesmas que faço à Apeoesp. Quando FHC instituiu a Gratificação para Estímulo à Docência - GED (um bônus salarial para quem tivesse mais produtividade em aulas) nossos sindicatos, com o apoio unânime dos professores, fizeram de tudo para incorporá-la aos salários. Maquiaram os relatórios de atividades dos professores, para que ninguém ficasse sabendo quem trabalhava mais, e entraram na justiça para exigir a incorporação. E conseguiram! 

Aliás, nada melhor do que o nosso ensino universitário para provar que incentivos por desempenho funcionam melhor do que aumento salarial puro e simples. Na pesquisa, onde existem bolsas produtividade e incentivos de verbas, a produção é crescente. Já a produtividade em aulas, medida pelo número de alunos formados por professor, permanece baixa. O Reuni veio justamente para aumentar esse índice, mas de forma perversa: institui-se, na prática, a aprovação automática de alunos. Algo que já existe no ensino fundamental e médio e que, no caso brasileiro, teve péssimos resultados.

4 comentários:

  1. O sindicato é muito corporativista, o mal resultado nas avaliações é sempre culpa do aluno, da familia, do capitalismo, menos dos professores. No estado o salário é determinado por tempo de serviço e não por mérito. E outro problema que percebo é a questão da autonomia, que nunca vi funcionar, é muito bonito mas ineficaz, pois cada escola ensina o que quer, cada professor faz o que achar melhor na sala de aula, não tem como fiscalizar se está ocorrendo a aprendizagem. É engraçado que esses professores sindicalistas defendem tudo isso p ensino público, mas colocam os filhos nas particulares,onde o ensino é padronizado e tradicioanl. E pior os mesmos professores que culpam somente fatores externos p mal desempenhos dos educandos, são aqueles que reclamam do fato que agora ter que fazer uma prova prática p um banca nesse novo concurso de vai sair.

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  2. Professores que trabalham 50 horas por semana reclamam que trabalham muito e ganham pouco. Mas me diga uma coisa: e os médicos que fazem vários plantões em sequência em ambientes muito mais insalubres que uma sala de aula e com um risco considerável de serem efetiva e duramente punidos quando erram? Ou então os empregados dos setores administrativos, contábeis e financeiros, que fazem 40 horas semanais como base fictícia, uma vez que na prática ultrapassam as 50 horas em horas extras, trabalhando, inclusive, em casa, noite adentro?
    A verdade é que quem quer ter um bom salário tem que trabalhar muito, porque a produtividade da economia ainda é muito baixa, especialmente no Brasil. Se nós (enquanto sociedade) produzíssemos mais e melhor, certamente seria possível ter um bom padrão de vida com menos horas de trabalha por semana. A educação pode ser um dos meios para melhorar a produtividade, mas isso não significa que este é o único fator.

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  3. Professor, descobri o seu blog recentemente e desde então o visito com frequência. Desculpe usar esse espaço para fazer um pedido, mas não resisti. O que peço são indicações de alguns livros. Livros que descrevam os seguintes personagens: Carlos Lacerda, Mao Tsé Tung, Pol Pot, Robespierre. E um livro que fale sobre o período Jacobino. Estou lendo STALIN de SIMON SEBAG e estou adorando. Caso o senhor conheça algumas daquelas obras, por favor, me avise.
    Bjs
    manoelagiorgini@gmail.com

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  4. Muito obrigado professor!
    Os livros serão comprados assim que terminar o SIMON SEBAG.
    Tenha uma ótima semana!
    Bjs

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