sábado, 26 de janeiro de 2013

Paulo Freire fazia "educação bancária" ideologizada

Saiu um artigo na Gazeta do Povo (ver aqui) com mais uma batelada desses chavões que os seguidores de Paulo Freire usam para nos fazer acreditar que esse sujeito era um educador preocupado com liberdade e autonomia do indivíduo, quando ele não passava de um doutrinador ideológico dogmático e autoritário (mas de fala mansa). A autora, Adriana Brum, diz que "Paulo Freire (1921-1997) defendia uma educação assumidamente ideológica". É a mais absoluta verdade. Depois, explica como a ideologia de Freire era trabalhada com os alunos dele.

Freire propunha uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos e condenava o tradicionalismo da escola brasileira, que chamou de "educação bancária", em que o professor deposita o conhecimento em um aluno desprovido de seus próximos pensamentos. Tal sistema, diz, só manteria a estratificação das classes sociais, servindo o ensino de mero treinamento para a formação de massa de trabalho. Contrariamente, Freire propunha a construção do saber de forma conjunta, em que o professor se aproxima dos conhecimentos prévios dos estudantes, para com, essas informações, ser capaz de apresentar os conteúdos aos alunos, que teriam poder e espaço para questionar os novos saberes (grifo meu). 
Traduzindo, a coisa funciona assim: o professor faz perguntas para os alunos sobre o dia a dia deles, apresenta uma explicação ideológica de esquerda para os problemas e insatisfações que os alunos tiverem relatado e, depois, discute com eles o que acharam desse conteúdo. Se os alunos discordarem da explicação que lhes foi transmitida, o professor argumenta em favor do seu próprio ponto de vista ideológico. Ao fim do diálogo, o professor conclui que todos os alunos que ele tiver conseguido convencer estão agora "conscientes" da sua "verdadeira" condição de oprimidos e explorados pela sociedade de classes.

Ora, isso é apenas a dita "educação bancária" camuflada de diálogo! E por quê? Porque o professor apresenta uma única via para explicar as situações relatadas pelos alunos, qual seja, a ideologia na qual o professor acredita. O aluno é deixado na ignorância sobre a existência de pesquisas que explicam as situações de pobreza, desigualdade, problemas urbanos e ambientais, entre outros, fora do universo teórico e ideológico anticapitalista. Assim, o estudante que for convencido pelos argumentos do professor passará o resto da vida como um papagaio que repete as respostas fáceis que lhe foram transmitidas sem conhecer explicações alternativas mais sofisticadas.

O teor simplista do pensamento de Paulo Freire ajuda bem a mostrar como isso é feito. Vejamos o que ele escreveu em Pedagogia da autonomia:
O desemprego no mundo não é, como disse e tenho repetido, uma fatalidade. É antes o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos a que vem faltando o dever ser de uma ética realmente a serviço do ser humano e não do lucro e da gulodice irrefreada das minorias que comandam o mundo (Freire, 1996, Localizações 48-49 - itálico no original).
Dá até para imaginar como seria um processo dialógico de educação sobre esse tema à moda freiriana. Convidado a falar sobre sua vida cotidiana, um operário que está fazendo um curso de alfabetização comenta que está muito preocupado porque perdeu o emprego e acrescenta que conhece várias pessoas desempregadas no bairro onde mora. O professor usa então essas e outras informações do seu discurso para apresentar o conteúdo: "esse problema atinge centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Por que será que existe tanto desemprego? Seria isso uma coisa natural, uma fatalidade? Não! Na verdade, o problema é político e econômico. O sistema capitalista está fundamentado na lógica do lucro e, sendo assim, a globalização da economia e os avanços tecnológicos servem apenas para enriquecer mais ainda uma elite minúscula e gulosa que domina o mundo inteiro. Eles investem em máquinas que substituem os trabalhadores e ficam mais ricos do que já são vendendo produtos nos mercados internacionais".

Se o aluno hipotético não concordasse com essa explicação superficial, que argumentos poderia usar em sua objeção? Inúmeros, mas só se tivesse lido trabalhos de economistas que pesquisam as causas do desemprego. Entretanto, o aluno obviamente não leu nada disso, pois está se alfabetizando! O que se tem aí, portanto, é um método que consiste em transmitir ao aluno verdades prontas, tal como na dita "educação bancária", mas disfarçado por um processo dialógico manipulado pelo professor, que sonega ao aluno o conhecimento de explicações alternativas e mais sofisticadas do que aquela!

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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed., São Paulo: Paz & Terra, 1996 (Coleção Leitura), Biblioteca Digital Paulo Freire.

2 comentários:

  1. A educação, em alguma medida, é bancária mesmo. A realidade dos alunos nem sempre é passível de ser usada em sala de aula, simplesmente porque os conhecimentos podem ser de outra natureza. O professor de Geografia, quando explica os fatores de formação do relevo, não tem como aproveitar o cotidiano discente e tomá-lo como base. Forçar tal aproximação, muitas vezes, é referendar a incipiente visão do mundo do aluno.

    Educação libertadora é munir os discentes de conhecimentos e informações para que eles possam explorar todo seu potencial, justamente o que o discurso maniqueísta do Paulo Freire não permite.

    Abs,

    Luiz Eduardo

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