quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Viagem à Brasília confirma críticas a Niemeyer

Farei um último comentário sobre a obra de Niemeyer, agora com base na primeira vez em que estive em Brasília, nos anos 90, a fim de coletar material bibliográfico para o meu doutorado. Passei uma manhã na biblioteca do Ipea e, quando deu meio-dia, uma das faxineiras pediu que os usuários se retirassem até as 14:00 horas, pois elas iriam lavar o chão. Almocei rápido num restaurante por quilo que havia logo em frente, e comecei a pensar no que faria para passar o tempo até a hora de retornar para a biblioteca. Foi então que eu vi a Catedral de Brasília a uma certa distância e resolvi fazer uma visita ao local.


Na época, eu já havia lido trabalhos que criticavam o plano urbanístico elaborado por Lúcio Costa - o qual foi vencedor de um concurso que teve Oscar Niemeyer como presidente da comissão julgadora -, mas foi naquela ocasião que eu pude confirmá-las na prática. Primeiro, a caminhada me fez notar que a distância até a Catedral era maior do que tinha parecido olhando de longe. Com o calor que faz em Brasília por volta da hora do almoço, esse incômodo não é pouca coisa. Mas, até aí, tudo bem. O problema surgiu quando cheguei a um ponto em que era preciso atravessar uma rua que saía de uma grande avenida, mas onde não havia farol e nem faixa de pedestre. O trânsito na avenida era intenso, e havia carros que viravam em velocidade para pegar aquela rua. Achei que, se eu descesse a rua, acabaria encontrando um local próprio para atravessar. Mas, se havia um lugar melhor para isso, devia estar a uma distância razoável, pois logo apareceram ali algumas pessoas que também queriam cruzar a rua. Elas ficavam com o corpo voltado para a frente, as cabeças viradas para trás e um pé preparando a arrancada para cruzar a rua quando não houvesse nenhum carro vindo. Depois que elas atravessaram, vieram mais umas duas ou três, e eu resolvi imitá-las. Não fui atropelado (ou talvez nem estivesse digitando estas palavras agora), mas senti na pele o que os críticos dizem sobre o privilegiamento da circulação por automóvel nessa cidade. Quem não tem carro, anda de táxi ou pena mesmo.

Enfim, cheguei à Catedral, e devo admitir que, esteticamente, o edifício me agradou. Sim, há várias obras de Niemeyer que eu aprecio esteticamente, como o "Museu do Olho", em Curitiba, e o Palácio da Justiça, com aquela combinação de arcos e cascatas d'água. Outras obras dele já não me agradam nem um pouco, como, por exemplo, a insípida Praça dos Três Poderes e o Memorial da América Latina - e nem é por causa do monumento inspirado no estúpido livro As veias abertas da América Latina, mas apenas porque o jogo entre os edifícios com teto curvo e as estruturas em forma de trave não me causam nenhum impacto ou sensação visual agradável. Entretanto, devo ressaltar que minhas impressões são apenas subjetivas, não estando referenciadas em estudos sobre arquitetura. Limito-me a constatar que algumas obras desse arquiteto agradam bastante ao meu gosto, enquanto outras, não.

Por outro lado, estou de pleno acordo com aqueles que criticavam Niemeyer pelo fato de ele ignorar completamente questões de acústica e climatação em benefício apenas da estética da forma. Ele sempre se defendia dessas críticas dizendo que a arquitetura tem que ter beleza e que já existem profissionais especializados para tratar desses outros elementos. Ora, é claro que isso é verdade, mas não me parece razoável supor que a forma de um edifício tenha tão pouca influência na acústica que seja irrelevante projetá-lo com esta ou aquela forma. Sobre a climatação, não faz sentido nenhum falar como se fosse impossível construir um edifício ao mesmo tempo belo e adaptado ao clima local, ou supor que os gastos com condicionamento de ar sejam desprezíveis. 

Em suma, estou de acordo com as críticas feitas à obra de Niemeyer (bem sintetizadas no comentário de Anselmo Heidrich, conforme visto no post anterior), embora eu aprecie a estética de diversos trabalhos desse arquiteto.

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