segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A culpa dos sindicatos de professores

Conforme comentei no post anterior, os sindicatos de professores são parte dos problemas da educação brasileira, não das soluções. Eles não mobilizam de fato os recursos econômicos e humanos de que dispõem para combaterem o problema da indisciplina nas escolas, o qual é extremamente prejudicial para a qualidade do ensino e para as condições de trabalho dos professores.


A primeira razão para isso é que os sindicatos de professores gastam muito tempo e energia defendendo os atuais privilégios de aposentadoria concedidos aos funcionários públicos. Esses privilégios são perversos, pois respondem pela maior parte do monstruoso déficit da previdência brasileira. Além disso, tais privilégios impedem os professores jovens da rede pública de obterem maiores ganhos salariais, pois todo aumento amplia o já enorme déficit da previdência, devido à exigência de isonomia entre aposentados e trabalhadores na ativa. E por que os sindicatos dão tanta importância aos interesses de quem já nem trabalha mais? O exemplo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná – APP, é sintomático: cerca de 40% dos seus contribuintes são aposentados...

Outra razão é que esses sindicatos agem frequentemente como aparelhos de partidos políticos de esquerda, motivo pelo qual muita energia é desperdiçada com a defesa de propostas inexequíveis ou até nocivas para a educação, mas cujos efeitos políticos podem ser benéficos para os planos de ascensão política dos sindicalistas pelegos. O exemplo mais gritante é o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – Apeoesp. Embora haja pesquisas que provam que a adoção de apostilas de sistemas de ensino por parte das escolas melhora bastante o desempenho dos alunos na Prova Brasil, esse sindicato fez manifestações de rua contra essa prática nas escolas públicas de São Paulo, no ano da última eleição presidencial, com o objetivo de fustigar o governo Alckmin. E as declarações da presidente desse sindicato dando conta de que o objetivo da Apeoesp era apoiar a candidatura Dilma Roussef foram tão descaradas que o sindicato chegou a ser multado pelo Tribunal Superior Eleitoral. No Paraná, as inclinações político-ideológicas da APP não são menos explícitas: elogiam Requião, que deixou os professores da categoria PSS cerca de três meses sem receber salários, em seu último ano de governo, e descem o malho em Beto Richa.

Uma outra razão pela qual os sindicatos mais atrapalham do que ajudam é que as mesmas ideologias de esquerda que respondem por suas opções partidárias justificam e favorecem os problemas de indisciplina nas escolas. Basta ler os trabalhos acadêmicos que tratam de educação para constatar que os professores influenciados pelo marxismo de livros como Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, pensam que desrespeito e agressão contra professores e colegas de classe são manifestações inconscientes de rebeldia contra o sistema capitalista! Um exemplo pertinente à geografia demonstra isso muito bem:
Na concepção gramsciana, em contraposição à dominação cultural, ocorrem sempre formas de resistência. [...] Esta resistência aparece em sala de aula, na escola e na vida social mais ampla, de diversas formas que, se não forem entendidas, e mesmo noutra perspectiva de educação, passam a ser consideradas como mau comportamento. Em geral, se expressam na linguagem, no vestuário, na resistência a fazer em sala de aula o que o professor propõe. Ao contrário de subestimá-la, ou desconsiderá-la, cabe à escola, preocupada em educação para a cidadania, conseguir transformar esta ação, muitas vezes isolada dos procedimentos habituais, em uma força e ação ampliada para um forma de resistência mais politizada (Callai, 1999, p. 79-80 – grifos meus).
Ou seja, a ideologia esquerdista que impera entre os professores e seus representantes nos sindicatos exige que a escola canalize a "resistência" dos alunos à "dominação" para o ativismo político anticapitalista. É nesse ponto que a doutrinação ideológica de esquerda se volta contra os próprios professores, desarmando-os diante do desrespeito de que são vítimas todos os dias.

Por essas e outras é que eu não sou sindicalizado.

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CALLAI, H. C. A geografia no ensino médio. Terra Livre, São Paulo, n. 14, p. 56-89, jan.-jul. 1999.

OBS.: Publicado originalmente em 21 de maio de 2011, no site Geografia em Debate

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