domingo, 28 de agosto de 2011

Tenho pena dos professores


A educação básica não precisa de computador, não precisa de grandes teorias pedagógicas. Nenhum país de primeiro mundo tem nos primeiros quatro anos, que são os mais críticos, nada além de um quadro-negro, giz, um bom professor que saiba ensinar, um livro didático que seja utilizado todos os dias em aula e disciplina rígida em sala. CLAUDIO DE MOURA CASTRO. Entrevista. Revista E, n. 108, maio 2006.

Como professor de Geografia da UFPR, já participei da formação de muitos professores que atuam hoje no ensino médio e fundamental. Tempos atrás, eu estava num terminal de ônibus e encontrei um ex-aluno, o qual estava usando um uniforme da URBS – Urbanização de Curitiba. Ao conversar com ele, fiquei sabendo que tem três empregos: fiscal de ônibus, das 6:00 da manhã ao meio-dia, professor de geografia numa escola pública de periferia e revendedor de produtos Avon, trabalho que ele faz ajudando a esposa.

Dos três empregos, o único que o deixa estressado é o de professor. Suas palavras foram mais ou menos estas: "ninguém respeita; é aluno que xinga o professor, que põe o dedo na cara dele". No começo, ele ainda tentou ser rigoroso na cobrança de desempenho dos alunos, mas logo desistiu. Tinha crises frequentes de dor de cabeça por estresse e, no final, o famigerado Conselho de Classe aprovava quase todos os alunos, mesmo aqueles que não tiravam notas suficientes nas provas, nunca faziam a lição de casa e só atrapalhavam as aulas. Tudo para reduzir os índices de reprovação. Por causa desses problemas, ele já havia decidido largar totalmente a escola e ficar só com os outros dois empregos...

Bem, um país onde é melhor ser fiscal de ônibus e vendedor porta em porta do que professor de escolas públicas da periferia só pode mesmo figurar entre os piores do mundo em qualidade do ensino, como é o caso do Brasil. O suplício dos professores se deve à má remuneração, mas também (e talvez principalmente) às péssimas condições de trabalho. Nesse último quesito, a indisciplina dos alunos, a falta de respeito pelo trabalho de ensinar e a exposição à violência estão certamente entre as piores fontes de frustração e estresse. Assim, os primeiros culpados pelo problema, embora nem de longe os únicos, são os pais dos alunos.

Ao contrário de europeus e asiáticos, com efeito, os brasileiros quase não dão valor à educação. Prova disso é que, em pesquisa realizada recentemente, a maioria esmagadora dos pais brasileiros entrevistados se disse satisfeita com a escola em que seus filhos estudam, apesar do péssimo desempenho do país nos testes internacionais. Um ótimo texto de Claudio de Moura Castro relata que, numa escola da Coreia do Sul visitada por uma equipe internacional de avaliação da qualidade do ensino, algumas avós aparecem vez por outra para espiarem pela janela se os netos estão prestando atenção à aula!

Já aqui, os pais pensam a escola como depósito de alunos. Não participam da vida escolar das crianças e nem se importam com o nível de aprendizado que elas atingem. Pior ainda, parecem ter incorporado uma certa tendência contemporânea dos pais a se enxergarem como defensores incondicionais dos filhos. O resultado é que, quando vão à escola para tratar de problemas de nota (não de aprendizado), na maioria das vezes, metem o dedo na cara do professor!

Mas, se os pais costumam ser assim, o que os professores poderiam fazer para mudar alguma coisa? Bem, caberia aos sindicatos de professores usarem os recursos humanos e econômicos de que dispõem para discutir o assunto, pensar em medidas legais que possam ser tomadas, encaminhar reivindicações aos poderes executivo e legislativo e, por fim, realizar campanhas de esclarecimento junto aos pais. Mas os sindicatos são parte do problema, não da solução... Isso merece outro post, noutra hora.

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