quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os maus perdedores do planejamento urbano

Na ausência de um projeto minimamente claro e viável de construção do socialismo, os autores inspirados pela teoria social crítica se dedicam a atacar muito, propor pouco e esperar que alguma alternativa utópica possa emergir de discussões coletivas. E quebram a cara! Um bom exemplo disso está num artigo em que Silvana Pintaudi avalia a realização de duas Conferências da Cidade no município de Rio Claro, conforme segue:
[...] o interesse maior daqueles que participaram da Conferência era a solução dos problemas do dia-a-dia, do futuro bem próximo, daquilo que é necessário e palpável, do prêt-à-porter, mesmo se estimulados a sonhar, a desenhar um futuro para a cidade. Apesar de essa faceta ter aparecido como resultado da Primeira Conferência que tinha por base a discussão de um plano de governo, a Segunda Conferência abria uma grande possibilidade de discussão da vida em comum, da cidade como um todo, mas não foi o que emergiu.
 Na verdade, essa temática em tela permitiria deixar evidente a contradição entre estado e cidadão, expondo a emancipação como não funcional ao estado. [...] Não ocorreu (Pintaudi, 2007).
Na sequência, a autora levanta algumas hipóteses para explicar esse resultado: porque foi o próprio Estado, via prefeitura, que organizou as Conferências, e pela forma fragmentada como a TV informa os cidadãos sobre a política e o local, entre outras causas. 

O essencial, porém, é constatar que o artigo de Pintaudi não apresenta solução alguma para problemas urbanos, analisa duas experiências de discussão coletiva de propostas, e conclui que estas resultaram em reivindicações imediatistas e pontuais, muito distantes de qualquer alternativa que não seja “funcional ao Estado”. Esse deveria ser um resultado previsível à luz da história dos “movimentos sociais” urbanos, que nunca chegaram a concretizar as expectativas revolucionárias que autores como Castells e Lefebvre alimentaram nos anos 1960 e 1970. Por isso mesmo, não deixa de ser espantoso que Pintaudi aguardasse que as Conferências fizessem surgir reivindicações que não pudessem ser atendidas pelo Estado dentro da ordem capitalista, tais como asfaltar ali, pôr uma praça acolá, e assim por diante. 

Mais espantoso ainda é ver que ela prefere buscar explicações para o malogro no processo político de discussão das propostas a se perguntar, mesmo que apenas hipoteticamente, se o problema não estaria em deficiências da teoria social crítica. Ela e os demais autores dessa tradição de pensamento têm tanta convicção de que a sociedade é estruturada por contradições insolúveis fora da realização de alguma utopia social anticapitalista que são incapazes de pensar em qualquer explicação para os fracassos das suas teses revolucionárias que não esteja no processo político e na imprensa. 

É a atitude típica dos maus perdedores: quando vencem politicamente, é prova de que estão certos; quando perdem, é culpa das regras do jogo! 

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PINTAUDI, S. M. Urbanismo: é possível projetar um futuro coletivo para a cidade? In: COLOQUIO INTERNACIONAL DE GEOCRÍTICA, 9., 2007. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/9porto/silvana.htm> Acesso em: 22 set. 2007.

4 comentários:

  1. Engraçado Diniz, eles falam em "ouvir a voz do povo", mas quando o povo diz algo diferente do que esperam, daí não vale mais? Salvo honrosas exceções, esses são nossos professores de humanas...

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    1. É isso mesmo, Anselmo. Quando o comportamento do "povo" confirma, ao menos aparentemente, as teorias anticapitalistas, esses autores saem esfregando na cara de todo mundo que "a verdade da teoria é a prática". Mas, quando o povo (agora sem aspas) não corresponde ao previsto, então, tadinho, é porque o povo foi manipulado pela imprensa burguesa...

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  2. Realmente, a falta de autocrítica é a característica mais marcante da "teoria" social crítica. No fundo, no fundo, não passa de blá-blá-blá ideológico. Disputinhas de partido.

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