quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Hobsbawn merece as críticas que recebeu

Num país onde o marxismo ainda faz tanto sucesso na academia e nas escolas, como é o Brasil, o historiador Eric Hobsbawn é uma autêntica vaca sagrada, um intocável do mesmo nível de uma Marilena Chauí, uma Maria da Conceição Tavares, um Milton Santos, um Emir Sader. Felizmente, porém, Demétrio Magnoli publicou um artigo que põe o sujeito em seu devido lugar: o de um historiador que aproveitou a notoriedade acadêmica conquistada com obras como a trilogia das "eras" para tecer mentiras justificadoras do genocídio praticado pelos socialistas, especialmente por Stálin, e apresentá-las como se fossem conclusões de estudos científicos sérios.


Não admira, pois, que tanta gente tenha reagido mal ao texto de Magnoli - se lessem o artigo de David Pryce‑Jones sobre Hobsbawn, publicado no blog de Janer Cristaldo, talvez ficassem ainda mais indignados! Mas a verdade é que Magnoli e Pryce-Jones estão absolutamente corretos. Ao longo da vida, Hobsbawn foi a prova viva de que o intelectual militante é como o criacionista: julga ser conhecedor da verdade antes mesmo de começar uma pesquisa e, por isso mesmo, seleciona e distorce as informações de modo a confirmá-la.

Mas não vou repetir o que esses autores escreveram sobre as mentiras e omissões de que Hobsbawn se valeu para justificar o imperialismo soviético, o regime assassino de Mao Tsé-Tung ou para postular a destruição de Israel com armas nucleares, entre outras barbaridades. Acrescento ao que eles escreveram um argumento de Hobsbawn em favor da experiência socialista que prima pela simplificação grosseira, mas que podia parecer convincente por basear-se numa experiência histórica ocidental. Trata-se da ideia de que o socialismo teria salvo o capitalismo da crise de 1929 por haver demonstrado as vantagens do planejamento econômico estatal!

Ora, dizer que a crise de 1929 provou que o capitalismo não pode sobreviver sem as políticas de gastos públicos que vieram depois a ganhar o nome de "keynesianas" já é algo pra lá de controverso. Mas, até aí, podemos dar um desconto considerando que Hobsbawn não era economista. Agora, um historiador que tinha fama de ser um "espírito enciclopédico" deveria saber muito bem que a adoção dessas políticas não teve absolutamente nada a ver com o suposto exemplo de sucesso vindo da então URSS!

Realmente, a adoção dessas políticas de gastos públicos obedeceu simplesmente à velha lógica do "quem pode mais chora menos", isto é, a um jogo de forças políticas interno aos países ocidentais. Nos EUA, por exemplo, as políticas de crédito e de gastos públicos foram executadas obedecendo a pressões que vinham de todos os lados, de sorte que os setores mais beneficiados acabaram sendo aqueles com maior poder de pressão, tais como sindicatos fortes, ligados ao setor siderúrgico. Já no caso brasileiro, a reação à crise se fez por meio da política de valorização dos preços do café, obedecendo aos interesses dos grandes cafeicultores. 

Mas vou deixar os detalhes dessa história para outro post. Por enquanto, aproveito só para lembrar que os nossos livros didáticos de geografia, história e de sociologia reproduzem a visão de mundo de Eric Hobsbawn ponto por ponto: omitem as 100 milhões de vítimas do socialismo, elogiam a experiência comunista chinesa e dão de barato que a crise de 1929 provou sem sombra de dúvida a necessidade do intervencionismo estatal. Não é por acaso que tanta gente tenha reagido com raiva ao texto de Magnoli: a doutrinação produz gente assim.

5 comentários:

  1. O Demétrio é um autor amaldiçoado na Geografia, mas ele tem uma visão realista da política Internacional e das políticas governamentais. Seu livro "a gota de Sangue" é muito bom, pena que muita gente o considera "rascista" ou de "direita".
    Já ouvi uma história, de que seria revoltado com a Geo Crítica por conta de não ter passado num concurso pra professor na USP.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dizer que Magnoli é "racista" e "de direita" revela bem a mistura de esquizofrenia e de falta de honestidade intelectual que imperam na geografia brasileira. Quem seria de esquerda, então? Os geógrafos que se juntam a Maluf e Collor no apoio aos governos do PT? Francamente...

      E essa história de que a reprovação no concurso fez ele se tornar inimigo da geocrítica é uma desqualificação mentirosa. Magnoli começou como um radical marxista, migrou para posições políticas afinadas com a esquerda não-marxista e, hoje, está mais para social-democrata do que qualquer outra coisa. Eu estudei com ele durante o doutorado, e ele já era profundamente crítico do marxismo na época; isso foi bem antes do concurso! Essa gente não tem limites: difama Demétrio Magnoli e baba por Milton Santos, Marcelo Lopes de Souza e Rogério Haesbaert. Lamentável...

      Excluir
    2. Ops, um pequeno engano. Não foi durante o doutorado que eu estudei com Demétrio Magnoli, mas sim na época do meu mestrado.

      Excluir
  2. Gostei muito do texto! Mas já que o autor tocou no assunto: o autor do texto poderia me indicar livros de história geral em português, confiáveis,isto é, não alinhados com a visão esquerdista? Muito obrigado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu realmente não conheço. Faço parte do grupo de discussão do site Escola Sem Partido e, lá, não me recordo de nenhuma indicação de bibliografia alternativa nessa área. Só no caso da filosofia é que conseguimos obter dicas muito boas de livros didáticos, feitas pelo autor do blog Filosofia Cirúrgica (ver barra lateral deste blog).

      Excluir

Seu comentário foi enviado e está aguardando moderação.