Diminuí a frequência de postagens neste mês porque desenvolvi algumas lesões musculares em função de ficar tempo demais sentado e em má postura. Entrei na fisioterapia, é claro, mas percebi que, quanto mais tempo eu passo diante deste micro, mais dor eu sinto, mesmo fazendo exercícios. Vou ter de trocar os móveis do escritório se quiser usar mais esta máquina.
Sobre a fisioterapia, fugi do sistema público de saúde porque, apesar da enormidade de impostos que eu pago, o serviço é uma droga. E como o meu plano da Unimed não cobre esse serviço, paguei R$ 150,00 por mês, durante dois meses, pelas sessões de fisioterapia. Como o preço estava salgado e a clínica era fora de mão, troquei por uma academia. Sai mais barato e eu já tenho na memória os exercícios que preciso seguir. Só que andei exagerando na malhação e acabei ficando com dor do lado esquerdo das costas, quando antes eu só tinha dor do lado direito... Que falta faz uma fisioterapia de graça!
"Saúde não é mercadoria"
Para voltar à fisioterapia, argumentei com a fisioterapeuta que me tratava que "saúde não é mercadoria", tal como nos ensina sábia e solidariamente o Boletim Informativo da Frente de Luta contra a EBSERH (ver aqui). Ela respondeu que, por ela, não cobraria, mas, com um suspiro, explicou que tinha de "garantir o leite das crianças, poxa".
Tive uma iluminação: em última instância, a mercantilização da saúde é culpa dos produtores de leite! Se eles fornecessem seu produto de graça, os médicos poderiam atender sem cobrar nada. Mas como essa gente pode ser gananciosa a ponto de cobrar por um alimento essencial para a saúde e para o desenvolvimento físico das crianças?!
Bem, como achei que estaria além do meu alcance convencer os produtores de leite a fornecer seu produto de graça para a médica, mudei a linha de argumentação. Disse que ela poderia arrumar um emprego de personal trainer, garçonete ou recepcionista para pagar as despesas da família e dedicar as horas livres e finais de semana para prestar serviço voluntário como fisioterapeuta! Em vez de responder, ela ficou vermelha, ofegante, e começou a ranger os dentes.
Como eu vi que ela não conseguia largar esse vício capitalista de exigir dinheiro em troca de um serviço essencial para o bem-estar do próximo, decidi apelar para o seu espírito cristão. Perguntei se ela não poderia me dar o presente de fazer a terapia de graça só até o Natal... e acabei tendo de me desviar de um halteres de cinco quilos que voou da mão dela em direção à minha cabeça.
Vou para Cuba
É óbvio que a conversa narrada nos quatro parágrafos anteriores é fictícia, mas, como Millôr Fernandes reclamava que é preciso avisar que se vai fazer uma ironia antes de fazê-la, achei que também não custava nada avisar agora... Mas os problemas de saúde que descrevi lá no começo são verdadeiros, infelizmente.
Enfim, eu pago para o governo oferecer serviços de saúde caros e de má qualidade para os pobres e pago para receber serviços de saúde razoáveis da iniciativa privada. E aviso que vou fazer outra ironia. Talvez eu devesse me mudar para Cuba, onde a saúde não é mercadoria e os médicos trabalham por menos do que um taxista ganha por aqui. Se é que eu ainda encontraria algum médico por lá, posto que muitos já foram vendidos para a Venezuela e outros tantos estão desembarcando por aqui.
Apesar de tudo isso, Boas Festas para todos!
Postagens relacionadas:
Lamento pelo seu problema de saúde e torço para que se supere logo.
ResponderExcluirSó não posso deixar de ironizar também o fato do uso abusivo do escritório. Afinal, se fosse como outros geógrafos que não vivem só de analisar planilhas de dados do IBGE e vão ao campo com frequência ver as coisas de perto, provavelmente não iria precisar dessa fisioterapeuta. rsrs
Sabemos muito bem que dados estatísticos podem ser citados de acordo com o interesse de quem desenvolve um ou outro discurso. Nem vou atrás de alguns dados para confrontar esses citados nos últimos dois posts, porque não estou disposto a revirar essas bases para isto. Apenas vou utilizar um argumento lógico para trazer à luz o que significa ter uma ou outra posição política sobre determinados assuntos.
Na verdade, mesmo falando de estatística, nem vou precisar citar números, porque tá na cara que a procura por serviços médicos só aumenta a cada dia e há dados sobre isso que são divulgados de forma corriqueira em diversos meios de comunicação de massa, enfim, a população sabe disso. Não quero aqui justificar as falhas dos governos e seus atores incompetentes, mas lembrar que a coisa não pode ser analisada só com uma base de dados especificada, direcionada, destacada, absoluta.
O desenvolvimentismo baseado no modelo industrial urbanizante ainda produz a aglomeração descontrolada e trás consequências as quais não podem serem de forma alguma generalizadas ou diagnosticadas de forma simplista.
Quando vim a este mundo, no interior do Estado de Goiás, cheguei junto com a Revolução Verde e cresci ajudando a alavancá-la por aqui. Tudo parecia maravilhoso e as novas tecnologias pareciam só contribuírem com a produção de riquezas, o que só faria bem a todos nós. Mas, hoje, depois dos meus 40 anos de idade, depois de trabalhar mais de vinte anos só como agricultor e posteriormente cursar escola agrícola, ir para a parte do planejamento, me urbanizar e mais tarde cursar geografia na Universidade, trabalhar como administrativo da Educação Federal Tecnológica e me especializar em Docência superior, penso que tenho condições de fazer uma análise bastante crítica do modelo político predominante, o qual tem passado por todos os governos de diversas nações e não se restringe ao PT ou ao PSDB, como muitos polarizam.
Existe uma quantidade bastante satisfatória de documentos produzidos pelos profissionais da área da saúde e ambiental que provam exatamente o que vi acontecer durante todos esses anos: produzimos muitas riquezas, mas adoecemos muito mais e, consequentemente, dependemos cada vez mais das drogas e dos serviços médicos. Me lembro que quando me adentrei a um hospital pela primeira vez foi por causa de uma picada de serpente aos 13 anos de idade e meus parentes mais velhos relatavam que era comum que vivessem até morrerem de velhos sem sentir ao menos uma dor de cabeça. Hoje, nas cidades poluídas onde vivemos, as crianças já nascem desenvolvendo algum tipo de alergia e quem não tem um plano de saúde tem que ter muita sorte pra não morrer na fila do SUS ou gastar uma fortuna para se tratar. Um irmão meu que dependeu do sistema público, acabou morrendo amontoado com outros iguais há seis meses atrás.
É claro que não sou contra o avanço científico e tecnológico! Pelo contrário, como pensava o Prof. Dr. Milton Santos que dizia que as técnicas são ótimos recursos, também penso que estas apenas foram “expropriadas” para atender interesses irresponsáveis e até mesquinhos de mercadores que se apropriam do que lhes for conveniente, explorando de forma avarenta recursos que racionalmente deveriam serem altamente restritos ou até mesmo banidos como quando se trata dos venenos produzidos para as guerras químicas e que terminaram sendo utilizados indiscriminadamente na agricultura. Isso, sem falar nas políticas que controlam e monopolizam os meios de produção industrial fazendo com que a humanidade passe mais de um século dependendo quase que exclusivamente dos meios de locomoção impulsionados por motores de combustão interna, altamente poluentes por resíduos de combustíveis fósseis.
A ironia que você faz sobre eu passar muito tempo no escritório é apenas a reprodução de um truque retórico muito usado pelos geógrafos rurais brasileiros, e que você já usou em vários comentários endereçados a este blog. Qual seja, o artifício de negar os fatos expressos pelas estatísticas dizendo "tem que ir lá no campo pra ver direito", mas sem apresentar qualquer argumento lógico ou empírico concreto contra as estatísticas ou a interpretação que extraio delas. É um meio de desqualificar o que foi dito sem discutir as ideias e evidências apresentadas.
ExcluirNa sequência, você faz afirmações que são claramente desmentidas pelos fatos, e as evidências que cita são "estudos" não especificados e conversas informais com parentes...
O fato inconteste é que a esperança de vida não pára de subir, o que implica dizer que estamos ficando cada vez mais saudáveis, não menos. E isso acontece, em primeiro lugar, porque a revolução verde permite alimentar uma população cada vez maior. De fato, antes da revolução verde, a população brasileira era muito menor do que a atual e, mesmo assim, a fome era um problema gravíssimo, como nos mostrou Josué de Castro. Hoje, com muito mais gente, a desnutrição praticamente deixou de existir.
Daí que, se usamos mais remédios e tratamentos do que antigamente, é simplesmente pelo fato de que novos remédios e tratamentos vão sendo inventados pelas grandes empresas do setor farmacêutico e de equipamentos de saúde. E essas novas tecnologias funcionam, como prova justamente a elevação da esperança de vida. Os problemas trazidos pela poluição nas grandes cidades são um efeito colateral negativo de mudanças altamente positivas. E os efeitos positivos são amplamente predominantes, como mostram as estatísticas. Ademais, a poluição vai também sendo reduzida com novos avanços tecnológicos. Os carros atuais poluem, por baixo, 20 vezes menos do que os de três décadas atrás.
Mas, se for para ficarmos em conversa de bar sobre "meus parentes me disseram isso e aquilo", então vou lhe contar que a minha avó materna (que era uma camponesa) morreu de câncer quando a minha mãe tinha só uns onze anos de idade. E ela nunca se tratou com médicos, já que não havia nenhum na aldeia em que ela morava! O máximo que puderam dar a ela foi um "remédio" de uma curandeira, o qual só fez ela piorar. O câncer corroeu metade do rosto dessa avó que nunca pude conhecer, até pegar uma artéria do pescoço. Ela morreu sufocada com o próprio sangue, numa casinha situada no meio de um idílico sitio de propriedade do meu avô.
Da próxima vez que conversar sobre saúde com seus parentes, pergunte se eles sabem qual era a esperança de vida décadas atrás, quando ninguém tinha sequer enxaqueca...
E as coisas que o Milton Santos dizia sobre as técnicas servirem aos interesses de poucos são besteiras que ele procurava justificar com mentiras descaradas e artifícios de retórica semelhantes aos seus. É o que explico no Livro "Por uma Crítica da Geografia Crítica".