terça-feira, 18 de março de 2014

Márcio Pochmann e o erro de falar em nome de 4 milhões de agricultores familiares

Fonte: Buainain; Di Sabbato; Guanziroli, 2004

Márcio Pochmann é um péssimo analista da realidade brasileira e foi o pior presidente que o IPEA já teve. Como é economista de formação, caracteriza-se por torturar os números até que eles pareçam dar razão a dogmas de esquerda. Um pequeno exemplo disso está numa passagem de entrevista que foi citada na área de comentários deste blog, qual seja: "40 mil produtores agrícolas, que controlam 50% das áreas agricultáveis elegem de 120 a 140 deputados, enquanto de 4 a 6 milhões de famílias que praticam a economia familiar são representados por de 12 a 13 deputados" (Márcio Pochmann).

Não sei quais critérios ele usou para determinar quem representa um grupo e quem representa o outro. Provavelmente, ele raciocina que os deputados apoiados pelos movimentos de "luta pela terra" são aqueles que representam os milhões de agricultores familiares brasileiros. Só que nenhuma ideia poderia ser mais falsa do que essa.

Quando a esquerda fala em nome dos milhões de agricultores familiares, esconde o fato de que grande parte desses agricultores (especialmente no Nordeste) é pouco produtiva e vive na pobreza, conforme a figura acima. Já os agricultores familiares bem-sucedidos concentram-se principalmente no Sul e Sudeste e conseguem ter boa produtividade por estarem inseridos no agronegócio. É o que revelam pesquisas realizadas com base nos Censos Agropecuários, as quais permitem concluir que: 
O universo diferenciado de agricultores familiares está composto de grupos com interesses particulares, estratégias próprias de sobrevivência e de produção, que reagem de maneira diferenciada a desafios, oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto, demandam tratamento compatível com as diferenças  (Buainain; Di Sabbato; Guanziroli, 2004, p. 2).
Sendo assim, uma bancada de deputados que atendesse aos interesses dos agricultores familiares pobres não faria outra coisa senão exigir aumento dos valores do Bolsa Família recebidos por estes, o que não ajudaria em nada os produtores familiares eficientes. Na verdade, estes últimos sairiam prejudicados, já que, assim como as classes médias e altas da cidade, pagam o assistencialismo das bolsas com seus impostos. 

No final das contas, os agricultores familiares bem-sucedidos, ou "consolidados", que é o termo usado por esses pesquisadores, podem ter seus interesses econômicos melhor representados por parlamentares eleitos com votos urbanos e talvez até pelos mesmos políticos que Pochmann diz que representam os grandes proprietários. 

E ele ainda se esquece de um fato evidente: a concentração de agricultores familiares pobres no Nordeste faz destes um eleitorado muito importante para os políticos da região. Quem disse, então, que a bancada do Nordeste não tem nenhuma capacidade de representá-los? 

Falar do conjunto de milhões de agricultores familiares brasileiros como se fosse um todo homogêneo é talvez a mistificação ideológica mais repetida do Brasil. Pochmann só podia mesmo estar entre os que repetem essa generalização falsa.

Postagens relacionadas:
- - - - - - - - - - - -

BUAINAIN, A. M.; DI SABATO, A.; GANZIROLI, C. E. Agricultura familiar: um estudo de focalização regional. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 42, 2004. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/12/09O437.pdf> Acesso em: 05 nov. 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário foi enviado e está aguardando moderação.