quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Vesentini perpetua bobagens e ganha dinheiro com CTRL C, CTRL V

Para demonstrar os efeitos nefastos da doutrinação ideológica no ensino médio, em meu último livro, analisei duas obras didáticas de José W. Vesentini, o responsável pela introdução das ideias da geografia crítica e radical nesse segmento do mercado editorial brasileiro (Diniz Filho, 2013). Usei as edições de 1996 e 1998 de Brasil: sociedade e espaço e também a edição de 2005 de Geografia: geografia geral e do Brasil para revelar como os livros que seguem a pauta da geocrítica distorcem completamente a realidade brasileira pelo mau uso que fazem das informações estatísticas e pelo modo como perpetuam explicações anacrônicas e simplistas sobre agricultura e alimentação no Brasil.

Pois bem. Decidi checar um livro mais recente, que é Geografia: o mundo em transição (Vesentini, 2013) para ver se teria havido alguma melhora nos últimos anos. Não que eu esperasse melhora, na verdade, mas, por desencargo de consciência, fui verificar. Resultado: nesse livro, Vesentini reproduz, com poucas alterações, passagens inteiras dos livros que eu avaliei, repetindo os mesmos conteúdos distorcidos e incorrendo nos mesmos erros!

Conforme estatísticas do IBGE que Vesentini nunca consulta (embora já tenha tido trinta anos para fazer isso, considerando que a primeira edição de Geografia: sociedade e espaço é de 1984), podemos identificar várias besteiras que ele reproduziu naquele livro mais recente e que são cópias pouco modificadas de conteúdos que ele vem publicando desde os anos 1990. Resumidamente, ele diz o seguinte:
  • Os melhores solos e os maiores investimentos agrícolas estão voltados para os "cultivos de exportação" e para a produção de matérias-primas industriais, que são mais lucrativos do que a produção de alimentos para abastecer o mercado interno (Vesentini, 2013, p. 68); 
  • Logo, a agricultura de mercado interno continua operando em bases tecnológicas tradicionais, pois a modernização agrícola só ocorre naqueles cultivos que oferecem maior lucratividade.
  • Como resultado, a maioria da população brasileira apresenta uma alimentação deficiente em termos calóricos e a maior parte da população de baixa renda tem um consumo diário insuficiente de calorias, proteínas e vitaminas (Idem, p. 93-94);
No livro Por uma crítica da geografia crítica, eu demonstro, com base em estatísticas de estado nutricional e de produção agrícola, entre outras, que todas essas afirmações de Vesentini são agressões aos fatos, pois a realidade é exatamente o inverso! Abaixo, eu indico alguns posts publicados neste blog que, embora de forma bem menos detalhada do que no livro, provam que essas afirmações de Vesentini são bobagens que nascem de convicções ideológicas anticapitalistas sem qualquer correspondência com a realidade concreta.

Nesse sentido, não surpreende que esse livro de Vesentini repita também as mesmas incoerências de seus livros anteriores. Na Apresentação, de fato, ele afirma que seu livro segue a "corrente pluralista da geografia crítica" (Idem, p. 3). Mas, do mesmo modo que seus primeiros livros prometiam pluralismo e entregavam uma leitura unilateral e falseadora da realidade (Diniz Filho, 2013), assim ocorre com esse livro mais recente, conforme as passagens acima citadas exemplificam muito bem.

Além disso, é bom notar que não existe uma "corrente pluralista da geografia crítica". Em se partindo dos pressupostos de que a educação é um ato político e de que a sociedade se estrutura por um eterno conflito de interesses inconciliáveis entre "dominantes" e "dominados" - para usar termos bem ao gosto de Vesentini -, não resta outro caminho aos autores de livros didáticos e professores que não o de denunciar as supostas armações que um pequeno grupo de exploradores usaria para perpetuar privilégios injustos. A doutrinação teórica e ideológica prevalece necessariamente nos conteúdos dos livros didáticos, que entregam aos estudantes uma visão crítica unilateral da sociedade capitalista no momento mesmo em que asseguram estar desenvolvendo a autonomia de pensamento deles.

Como é fácil ganhar dinheiro com geografia crítica! Basta repetir as mesmas bobagens décadas a fio, sem nunca rever qualquer ideia ou checar as estatísticas, e pronto: milhões de livros vendidos!

P.S. Tenho publicado menos no blog por motivo de saúde. Meu braço dói quando eu digito.

Postagens relacionadas

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DINIZ FILHO, L. L. Por uma crítica da geografia crítica. 1. ed. Ponta Grossa: Editora da UEPG, 2013.

VESENTINI, J. W. Geografia: o mundo em transição: ensino médio. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013.  

3 comentários:

  1. Olá Diniz.

    Melhoras para você, parabéns pelo post.

    Espero que goste das indicações de blogs:

    http://www.freirojao.com.br/2013/10/ao-mestre-sem-carinho-ou-os-eichmanns.html

    https://genpaulochagas.wordpress.com/

    É uma pena seu problema de saúde, mas vejo que você tem muito material a ser lido. Nesse sentido, é muito difícil achar textos bons na internet e pessoas com pensamento aberto e livre de "doutrinas".

    Espero que goste dos blogs e boa leitura.

    Ps: a pós graduação aí teve de ser adiada por conta do Enade que fiz neste ano, por "ato da instituição".

    Abraços.

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  2. Muito obrigado, Estevan! Quando der, vou ler as indicações.

    Boas Festas para você!

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  3. Oi Diniz, obrigado!

    Achei mais um sítio interessante...

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1996&comments=true#ac118887 "Déficits orçamentários não devem ser corrigidos com aumentos de impostos".

    E, falando em doutrinação... O mesmo sítio traz uma observação interessante.

    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1587
    "Pensar está se tornando algo obsoleto".

    Abraços e até mais.

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