terça-feira, 29 de março de 2016

Sobre o "Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira"

Dos vários Guias publicados pelo jornalista Leandro Narloch, eu já li o da história do Brasil, o da história da América Latina (escrito em parceria com Duda Teixeira) e o Guia politicamente incorreto da economia brasileira (Leya, 2015).

O primeiro e o segundo têm como alvo o nacionalismo, tanto de direita, quanto de esquerda - daí a merecida lambada que o autor dá em Gilberto Freyre. Mas é claro que, como o ensino brasileiro de história é, na atualidade, amplamente dominado pelo esquerdismo, o autor lança muito mais contestações contra os mitos e falsos heróis fabricados pela historiografia de viés marxista. Por isso mesmo, os Guias que tratam de história são leituras obrigatórias para todos os não historiadores interessados em entender os conflitos políticos do presente, pois não há como ter um entendimento equilibrado e adequado desses conflitos sem destruir o véu de mentiras ensinadas na escola. 

Já quanto ao Guia politicamente incorreto da economia brasileira, creio que esse livro é o mais útil e importante dos três, mas, ao contrário do que acontece com os outros, há opções de leitura até melhores sobre esse tema.


De fato, ler a história como um processo que se desenrola sem que haja mocinhos e vilões é crucial para não cairmos nas armadilhas da simplificação ideológica e das falsas respostas para falsos conflitos, mas somente o diagnóstico dos problemas econômicos e sociais do presente pode indicar alternativas factíveis para resolvê-los. Nesse sentido, o último Guia é o mais importante dos três por abordar questões como: 
  • o papel do bônus demográfico na queda da pobreza, da desigualdade e do desemprego; 
  • o fato de que o Estado brasileiro é o principal responsável pela alta concentração de renda; 
  • o problema do salário mínimo, que, no Brasil, é alto demais;
  • o mito do "trabalho escravo";
  • a mentira de que as mulheres ganham menos para fazer o mesmo trabalho que os homens; 
  • o fato de que os sindicatos brasileiros não representam os trabalhadores e são paraísos para a corrupção; 
  • os malefícios do protecionismo industrial; e assim por diante.
Discordo de uma ou outra afirmação do autor, mas suas análises são bem feitas e as relações que ele estabelece entre as teorias econômicas e os exemplos concretos são corretas. Ainda assim, há obras de divulgação escritas por economistas que têm a vantagem de serem mais "orgânicas", no sentido de que, ao invés de tratar de temas muito variados para demonstrar o fracasso retumbante das políticas inspiradas em visões negativas do lucro e do livre mercado, concentram-se em identificar todas as principais causas do baixo dinamismo econômico e tecnológico exibido pelo Brasil nas últimas décadas. Refiro-me a Raízes do atraso, de Fábio Giambiagi, e de Complacência, do mesmo Giambiagi em parceria com Alexandre Schwartsman. E cito também o livro-texto Economia brasileira: da estabilização ao crescimento, de Antonio E. T. Lanzana e Luiz M. Lopes, embora esse livro já seja de 2009.

Seja como for, a leitura do Guia politicamente incorreto da economia é um excelente antídoto contra a enormidade de asneiras que os livros didáticos e professores de história e de geografia ensinam na escola, além de oferecer, por meio de algumas comparações internacionais, ótimas sugestões de políticas para remover os obstáculos institucionais ao crescimento econômico, à elevação da produtividade e, por conseguinte, à inclusão dos mais pobres na economia de mercado.

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4 comentários:

  1. http://www.saraiva.com.br/guia-politicamente-incorreto-dos-presidentes-da-republica-9262703.html

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    1. Por coincidência, estive hoje na Livraria Curitiba e dei uma olhada nesse livro. Não conheço o autor, mas, pelo pouco que pude ler, pareceu-me um livro baseado em trabalho de pesquisa bem feito e escrito naquele mesmo estilo jornalístico leve usado por Narloch.

      Enfim, esse comentário é apenas uma primeira impressão baseada em algumas páginas que li sobre o livro. Não tenho planos de ler essa obra no momento, pois estou com outras leituras para trabalhos de pesquisa na fila. Se eu ler, porém, com certeza publico um comentário aqui.

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  2. Geógrafos de forma geral são bem ignorantes em príncipios de economia.
    Parece que esquecem da escassez ou a ignoram quando o governo é de semelhantes ideológicos.
    Convivo com professores universitários onde trabalho. E não sei se incentivados pelo ipeachment, o pessoal entrou em modo insano de ignorância econômica. A novidade é ignorar todo o desastre economico e a corrupção e ir nos pormenores do governo Temer (como se o anterior fosse composto de anjos). Fica minha dúvida, até que ponto é uma questão de deficiência téorica e até onde é uma questão psicológica?

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    1. Essa é uma questão extremamente importante. Na minha avaliação, esse irrealismo econômico é fruto da convergência de pelo menos três fatores: a) a ideologia estatista que impregna a cultura brasileira e latino-americana; b) convicções ideológicas socialistas extremamente superficiais e sedimentadas na cabeça de muita gente pelos professores do ensino médio; c) da assimilação, tanto no ensino médio como na universidade, da teoria do valor de Marx.

      Sobre o último ponto, Raymond Aron há muito assinalou que o conceito de mais-valia leva os socialistas a supor que existe uma quantidade gigantesca de valor nas mãos da burguesia, a qual, se fosse distribuída, seria suficiente para levar todos ao paraíso. O resultado é que, na visão marxista, a única solução eticamente justificável para qualquer crise fiscal é, simplesmente, meter a mão no bolso dos ricos por meio de impostos e taxas.

      Bem, é certo que tal expectativa revelou-se completamente falsa com a experiência do socialismo real, pois, seja Rússia, Cuba, China, etc., o socialismo trouxe escassez, não abundância. Mas, se os socialistas fossem capazes de encarar os fatos, já teriam deixado de ser socialistas há muito tempo.

      Enfim, é por isso que, quando discutem políticas públicas, os marxistas costumam usar argumentos extremamente demagógicos, pois supõem que, se houver vontade política, tudo se resolve com mais gastos do Estado. Tratei dessa questão no livro "Não Culpe o Capitalismo", aliás.

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