quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Racismo: Facebook serve à mentira, à censura e à intolerância


Compartilhei um post no Facebook que foi publicado originalmente na página Pedro II do Brasil. O post foi censurado com a seguinte justificativa: "Sua publicação vai contra nossos Padrões da Comunidade, portanto, somente você poderá vê-la". Ora, os tais "Padrões" estabelecem que um post pode ser denunciado por usuários do FB se apresentar problemas relacionados a:

  1. Comportamento violento e criminoso
  2. Segurança
  3. Conteúdo questionável
  4. Integridade e autenticidade
  5. Com respeito à propriedade intelectual
Francamente! O post censurado informa que o engenheiro e empresário André Rebouças (1838-1898) - foto acima -, que era amigo pessoal de D. Pedro II e da Família Imperial, tentou organizar uma resistência ao golpe militar que implantou a República no Brasil. Informa também que ele se ofereceu para proteger os filhos da Princesa Isabel e que atuou como professor destes na Europa, onde a Família Imperial se exilou. A fonte dessas informações é a obra História da queda do Império, de Heitor Lyra, que consta do acervo da biblioteca do IBGE.

Só por esse breve resumo já fica mais do que claro que o post não viola os tais "Padrões da Comunidade" do Facebook! Por que então foi denunciado e censurado? A única explicação plausível é esta: como André Rebouças era negro, sua trajetória depõe contra a narrativa de que a abolição da escravatura não fez diferença para a população negra. Além disso, destacar o papel científico, cultural e/ou político desempenhado por negros como André Rebouças na história brasileira joga contra a estratégia de mitificação de Zumbi dos Palmares, o qual nunca fez nada pela abolição e ainda era rei de um Quilombo dentro do qual havia escravos. 

A existência dos tais "Padrões da Comunidade" do Facebook pode não ser ruim em si mesma, mas está servindo para que militantes políticos autoritários e pessoas comuns com uma visão de mundo intolerante façam denúncias falsas contra um post só porque este informa verdades históricas inconvenientes para as narrativas que essa gente está interessada em impor. Nesse sentido, aqueles "Padrões", ao invés de contribuírem para fazer valer a verdade, servem à mentira, à censura e à intolerância! 

Abaixo, o texto censurado pelo Facebook: desafio quem quer que seja a provar que esse texto viola os tais "Padrões da Comunidade"!

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André Rebouças, Protetor dos Filhos da Princesa Isabel

"Na manhã do dia 15 o Conde d'Eu e a Princesa Isabel faziam, pelas imediações do palácio, o habitual passeio a cavalo na companhia dos filhos, percorrendo laranjeiras até a praia do flamengo - "sem sombra de preocupação", dirá o Conde depois à Condessa de Barrai. O aspecto das ruas e dos transeuntes, a igual de toda a cidade, era o mesmo de sempre. Foi só na volta à casa, quando Gastão se pôs a ler os primeiros jornais do dia, que ele deparou com uma notícia incerta no Diário do Comércio, sobre um "movimento de indisciplina" que teria havido na Escola Militar, e que levará os Ministros a se reunirem, até alta noite, na Secretaria da Guerra. Não deu, porém, maior importância à notícia.

Estavam, assim, todos tranquilos naquela casa quando apareceu, por volta das dez horas, o Alferes Ismael Falcão, com a notícia de que as tropas estavam reunidas em frente do Quartel-General, com o Marechal Deodoro e Quintino Bocaiúva. "Neste caso, disse o Conde d'Eu - acabou se a Monarquia no Brasil".

Mal se tinham vindo a si os donos da casa diante de tais notícias, quando começaram a aparecer, sucessivamente, outros amigos, entre eles o Engenheiro André Rebouças "que me abraça, segundo o seu costume nas ocasiões solenes" - dirá o Conde d'Eu, com o plano que ele combinara com o Visconde de Taunay, de o Imperador ficar em Petrópolis, cercar-se ali de personagens importantes e organizar um Governo para enfrentar a insurreição militar.

O plano também foi apresentado à própria Princesa Isabel, que lamentaria mais tarde, depois de tudo perdido, não ter sido adotado. Além de apresentar um plano concreto de resistência a Deodoro da Fonseca, Rebouças propôs a Princesa Isabel e a Ramiz Galvão, professor dos Príncipes Pedro, Antonio e Luis, deixarem a proteção dos herdeiros da Casa de Orleans e Bragança sob seus cuidados. E sugeriu levá-los ao bordo couraçado Riachuelo e depois a Cidade de Petrópolis onde ficariam a salvo do caos do momento.

A intenção de Rebouças, que o Conde d'Eu demorou a compreender, era acompanhar e zelar pelos pequenos Príncipes Imperiais, aos quais se mostrara sempre muito afeiçoado, substituindo, de um certo modo, o Barão de Ramiz Galvão, que por motivos particulares não os podia acompanhar à Europa. Rebouças desceu de Petrópolis com os príncipes na madrugada de 17 de novembro, já decidido a compartilhar da sorte dos mesmos na Europa. Decidido "a partir para a Europa, - diz rebouças em seu Diário, - "com a Família Imperial, em lugar do Dr, Ramiz Galvão, Impossibilitado de partir pela numerosa família". 

O já deposto Imperador e a princesa Isabel tentaram convencer Rebouças a ficar no Brasil, onde seus conhecimentos seriam de bom proveito a nação, porém o engenheiro e empresário baiano já havia decidido que não iria participar de um governo que considerava ilegítimo, que jamais aceitaria seus planos econômicos de reforma agrária. Se já não podia restaurar o Império, Reboucas pelo menos poderia ajudar o amigo deposto de seu cargo de chefe de estado. Rebouças serviu de professor aos netos do Imperador até a morte do Monarca Brasileiro em 1891".

Fonte: História da queda do Império. Por Heitor Lyra

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