A economista Maria da Conceição Tavares possui três características notórias: o endeusamento de seu brilhantismo acadêmico por parte de muitos economistas brasileiros (em especial, os da Unicamp); o jeito sempre enfezado de falar (realçado pelos palavrões cabeludos que diz nas palestras em locais fechados); e o modo como vive a chamar todos os economistas que discordam dela de "burros", "beócios", "energúmenos", "idiotas", e assim por diante.
Por suposto, uma pessoa que rebaixa assim a inteligência dos outros tem que possuir muita inteligência e brilhantismo intelectual para mostrar, pois, caso contrário, estaria dando apenas demonstrações de arrogância jactanciosa. O problema é que, quando avaliamos os trabalhos de Tavares à luz dos fatos, não pode haver dúvida de que lhe falta muita humildade, para dizer o mínimo.
Como intelectual velha de guerra (e bota velha nisso) ela lutava por um socialismo democrático tendo por norte a teoria econômica marxista. Mas veio a estrondosa derrocada socialista e ela admitiu (conforme expliquei em outro post) que continuava a defender o socialismo apenas pelo desejo de realizar um sonho utópico. E foi bem explícita: "ninguém manda fazer socialismo científico"!!
Apesar de ela haver fracassado em seu projeto socialista e de reconhecer que não tem nenhum compromisso com a objetividade científica, ainda poderíamos lhe dar crédito para chamar todo mundo de idiota se ao menos as suas análises e propostas para o Brasil fossem, em geral, certeiras. Mas qual o quê!
Ela atravessou os anos 1980 fazendo pose de esquerdista moderna que, ao invés de lutar pelo socialismo já, recomendava deixar de lado as propostas "neoliberais" e, em vez disso, adaptar o vitorioso capitalismo organizado japonês à realidade brasileira. Insistiu tanto nisso que, em 1993, em parceria com o cientista político José Luís Fiori, ela publicou uma coletânea de ensaios que girava principalmente em torno dessas mesmas propostas (*). O problema é que, já no início da década de 1990, a trajetória de sucesso experimentada pelo Japão desde o pós-guerra havia acabado! E o crescimento econômico japonês foi pífio nessa década e também na seguinte. Tanto que, antes mesmo de estourar a crise de 2008, a economia nipônica já apresentava baixo dinamismo. O que teria sido do Brasil se as propostas de reformas estruturais de Tavares e de Fiori tivessem sido postas em prática?
Uma boa amostra disso foi o Plano Cruzado. Tavares foi a mais entusiasmada defensora desse plano de estabilização (como também adorou o programa assistencialista de distribuição de leite implementado pelo então presidente José Sarney). O resultado foi um fracasso retumbante, posto que a inflação foi contida apenas por alguns meses e, depois, voltou com força ainda maior, juntamente com a "ciranda financeira" e a instabilidade macroeconômica.
Ruim de receita, nem por isso deixou de ser categórica e demolidora ao avaliar o trabalho dos outros. Quando o Plano Real foi implementado, Tavares publicou diversos artigos na Folha de São Paulo e outros jornais para defender a tese furada de que esse programa de estabilização seria incapaz de segurar os preços por mais do que alguns meses e que, depois, a inflação e a "ciranda financeira" voltariam com tudo. Outro equívoco retumbante! Ela lutou contra o Plano Real durante anos, defendendo sempre a necessidade de uma desvalorização rápida da moeda nacional em relação ao dólar, entre outros motivos, para evitar que o Brasil vivesse uma "desindustrialização". Em janeiro de 1999, quando finalmente houve a maxidesvalorização, ela saiu por aí dizendo que a inflação daquele ano chegaria a 60% ou 70%. Acabou ficando em 10%, calculado pelo IPCA, e voltou a baixar nos anos seguintes. Mas o pior é que, no governo Lula, o Real voltou a ficar tão valorizado quanto no início do Real e a indústria continuou a perder importância relativa no PIB, como continua a acontecer ainda hoje, num processo que vem sendo chamado de "desindustrialização"...
E sem esquecer que ela passou todo o segundo mandato de FHC atacando a política macroeconômica "neoliberal" e "ortodoxa" do ministro Pedro Malan, mas, quando Lula deu continuidade a essa mesma política, ela declarou ao jornal Valor Econômico que não havia outro jeito e que "não existe uma macroeconomia de esquerda" (sic). Bem, isso não deixa de ser uma forma de admitir que, além de haver falhado na construção de uma utopia socialista e na proposição de reformas estruturais de tipo capitalista, a esquerda também nunca foi capaz de construir uma teoria que fundamentasse uma gestão alternativa das variáveis macroeconômicas no curto e médio prazos.
Qual a credibilidade acadêmica dessa mulher que admite que as conclusões das suas pesquisas supostamente científicas são dadas de antemão pelo desejo subjetivo de realizar uma utopia? Na melhor das hipóteses, bem pequena. E por que Tavares acha que pode chamar todos que dela discordam de burros, idiotas, etc., se traz no currículo uma coleção de erros tão monumentais? Se ela tivesse um pingo de humildade ou vergonha na cara, só xingaria alguém de energúmeno ou beócio quando se olhasse no espelho...
Mas nem por tudo isso ela deixou de ter uma numerosa claque na academia e na imprensa para chamá-la de intelectual brilhante. Assim como Chico de Oliveira, ela é protegida de seus próprios erros. E é protegida também de suas demonstrações de desonestidade intelectual. Explico isso em outra hora.
(*) TAVARES, M. C.; FIORI, J. L. (Des)ajuste global e modernização conservadora. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
Sorte que ela anda meio sumida dos editoriais da folha. Eu lembro do combo: Emir Sader e Tavares, era um festival de loucuras aquelas primeiras páginas. Aliás esse senhor mereceria um post só dele, junto com o Reinaldo Goncalves devem causar pesados danos nos alunos de economia da UFRJ.
ResponderExcluirVocê sabe me dizer se foi ela a economista que apareceu chorando quando o plano cruzado teve fim? Pura curiosidade mesmo
Foi ela mesma, Julio. Me lembro muito bem desse dia (a única vantagem de ficar velho é poder ser testemunha ocular da história já nem tão recente...). Ela estava dando uma entrevista sobre o Cruzado ao Joelmir Betting e, no meio, começaram a escorrer lágrimas dos olhos dela. Se os brutos também amam, o mesmo vale para velhas desbocadas com jeito de madrastas da Branca de Neve. E não é à toa que ela anda meio sumida dos editoriais da Folha. Com a continuidade da política econômica que ela acusou de "neoliberal" nos governos do PT, quanto mais ela escrever, mais gritante fica a contradição entre o antes e o depois. Além de cometer erros em série e se achar gênio da raça, ela não tem pudor em esquecer o que escreveu para continuar apoiando PT. Por fim, é verdade que o Emir Sader merece também um post. Mas acho que eu vou deixar passar essa porque nunca li nenhum livro dele, ao contrário do que no caso da Conceição e do Chico de Oliveira. Mas é certo que o Sader consegue ser ainda pior do que esses aí. A Conceição e o Chico pelo menos são críticos das ditaduras comunistas, mas o Sader já teve o desplante de dizer, numa entrevista, que o regime de Fidel Castro era, na verdade, democrático!! O jornalismo da Folha presta um grande desserviço aos debates públicos por ficar levantando a bola dessa gente autoritária, dogmática, muitas vezes desleal nas discussões e que passa a vida a defender ideologias fracassadas e teorias furadas!
ResponderExcluirErrata: "Esta Maria da Conceição Tavares é o Darcy Ribeiro da economia, uma vez que a ficção brasileira deste só criou mitos baseados em um 'racialismo' como premissa sociológica. Analogamente, Olavo de Carvalho, um pretenso conservador também exagera sobre nossa situação criando um mundo de infortúnio onde nada sobrará. E enquanto os cães ladram, a caravana passa."
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