Quando eu disse que Rolnik é um desses maus perdedores do planejamento urbano (ver aqui), faltou dar um exemplo de como ela reproduz o pensamento dogmático dos geógrafos urbanos e urbanistas inspirados pelo marxismo. Há uns bons anos, eu assisti a uma palestra dessa senhora em que ela afirmava que os problemas urbanos geralmente atribuídos à “falta de planejamento” eram, na verdade, resultados da aplicação de um determinado tipo de planejamento ligado aos interesses dominantes...
É como eu já afirmei: quando gente como ela não está no poder, tudo o que acontece é fruto de um plano deliberado das elites para ganhar dinheiro às custas dos mais pobres; mas, quando os marxistas chegam ao poder, suas teses radicais nunca viram realidade e a população não sente a menor falta disso. Aí, o único jeito é eles atribuírem a culpa de seus fracassos teóricos e práticos ao controle que as classes dominantes exerceriam sobre a mídia e o Estado, como mostrei no post em que comento um artigo de Silvana Pintaudi.
E pensam que Pintaudi e Rolnik são as únicas pessoas que argumentam desse jeito? Nada disso! É só ler alguns trabalhos de Ana F. A. Carlos, Arlete M. Rodrigues, Rainer Randolph e Marcelo L. de Souza para constatar que o recurso a teorias conspiratórias maniqueistas é o principal subterfúgio usado para justificar o fato de que as teorias urbanas anticapitalistas nunca vingam.
Esse modo de pensar explica também a razão de esses autores terem uma visão política visceralmente autoritária, manifesta em suas desqualificações da democracia representativa e na defesa de uma democracia participativa na qual organizações afinadas com o pensamento deles teriam poder para influir nas políticas públicas. Usemos de novo o exemplo de Rolnik, conforme relata Reinaldo Azevedo ao comentar a atuação dela no “caso Pinheirinho”:
Há mais coisas sobre a atuação de Rolnik que eventualmente ficam para o futuro. Ela foi, por exemplo, diretora de uma ONG chamada Instituto Pólis, que lida com questões urbanas, entre 1997 e 2002. Entre 2003 e 2007, foi secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, e o Pólis passou a ser um dos mais pressurosos prestadores de serviço — como ONG, claro! — do Ministério das Cidades, trabalhando justamente com Rolnik. Tudo deve ter sido de uma honestidade franciscana, eu sei. Mas eram trabalhos remunerados, e o procedimento é — como ficaria claro depois, quando a prática se generalizou, e o governo foi fatiado em ONGs —, como direi?, heterodoxo.
Portanto, mesmo quando a suposta democracia participativa que os radicais defendem não está em vigor, eles sempre dão um jeito de conferir o máximo de poder para as organizações políticas que lhes são próximas. E, como sugere Reinaldo Azevedo, esse procedimento pode levantar questionamentos éticos quando envolve remuneração. Ah, esses maus perdedores...
Então Diniz, isto não seria o tal "aparelhamento do estado" do qual eles são tão críticos em acusar? Se o estado é um tubarão a serviço das "classes dominantes", o que são estas ONGs da companheirada, senão rêmoras que navegam junto?
ResponderExcluirVocê foi direto ao ponto: aparelhamento ideológico de Estado, algo em que o PT é mestre e campeão. As propostas de democracia representativa são apenas estratégias para submeter as políticas públicas ao poder de ONGs, sindicatos e outras organizações ideologicamente próximas desses intelectuais que pregam teses radicais. O resultado disso é que o socialismo nunca chega e o capitalismo ganha mais elementos de cartorialismo e ineficiência, enquanto a democracia vai perdendo qualidade e transparência (inclusive quanto ao gasto de dinheiro público).
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