Respondi a um comentário articulado e bem informado ao texto Joelmir Beting e as raízes da desigualdade brasileira, e avaliei que essa discussão merecia ganhar destaque numa postagem própria. Vejamos o texto do comentário e, em seguida, a minha resposta.
A minha opiniao para explicar a alta desiguldade de renda no Brasil eh pelo fato dos pobres do Brasil estarem de fora do capitalismo enquanto os ricos estao dentro. A ideia vem de Hernando de Soto no livro The Mystery of Capital.
Capitalismo eh composto de livro comercio, estabilidade macro, burocracia e rule of law, e propriedade privada.
Rico tem acesso a comercio quando vai de aviao fazer compras no exterior. O pobre fica preso no protecionismo nacional.
Rico sofre menos impacto da inflacao alta (estabilidade macro) pois tem investimentos do que o pobre que sofre mais com inflacao nos gastos mensais.
Rico usa do jeitinho com amigos no alto escalao do governo e com despachantes para lidar com a burocacia e o rule of law. O pobre simplesmente parte para a ilegalidade e o alto risco de perder riqueza de tomar decisoes sem contrato coberto pelo rule of law.
Rico tem propriedade privada reconhecida pelo Estado que pode ser hipotecada como garantia de investimento (capital). Pobre mora em propriedade nao registrada portanto sem capacidade de gerar capital na sua vida pois nao pode hipotecar ou alugar com cobertura da justica.
Somado tudo isso temos uma sociedade em que existe capitalismo para os ricos e nada para os pobres que sao seduzidos pelo estatismo com a promessa de destruir o sistema que existe em permanente alta desiguldade.
Para o capitalismo englobar todos em uma sociedade ele exige poucas e boas leis sendo aplicadas no mundo real, burocracia e justica extremamente simples e de baixo custo, facilidade e liberdade em registrar e manipular a propriedade privada e excelente estabilidade macro.
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Também li esse livro do De Soto, e concordo com você. O capitalismo é bom para todos se as instituições que dão suporte ao funcionamento da economia de mercado oferecerem a todo mundo a capacidade de investir dinheiro para fazer mais dinheiro. Em países como o Brasil, o sistema institucional protege os ricos numa "redoma de vidro", para usar uma expressão desse autor, em que o capitalismo funciona plenamente, enquanto o restante da população, não podendo fazer dinheiro por sua própria conta, espera ajuda estatal.
Melhor para os políticos malandros, que enriquecem montados num Estado hipertrofiado que opera dando com uma mão e tirando com a outra. Foi bem isso o que se viu na história da correção monetária: a indexação generalizada visava proteger todo mundo da inflação sem prejudicar a capacidade do Estado gastar por conta, sendo que a justificativa para tanto era que o Estado precisava investir pesadamente para superar gargalos da estrutura econômica e melhorar a qualidade de vida (detalhes no post Sobre "Os párias do quatrilhão"). Na prática, a correção funcionou como um reforço à "redoma de vidro", pois protegeu profissionais liberais e empresários da inflação ascendente, enquanto os salários eram corroídos. Nesse sentido, a superindexação da economia é uma boa pista para explicar a razão de o Brasil ter figurado em pesquisas como o World Outlook com uma desigualdade de renda maior ainda do que a de outros países que padecem do mesmo problema institucional, conforme as pesquisas do De Soto.
Mas não quero simplificar o debate. Há um porém no texto de Beting que eu não comentei para não me estender demais. Assim, aproveito o seu comentário para dizer que, de acordo com o sociólogo Sérgio Abranches, essa informação de que o Brasil tinha a maior desigualdade do mundo era questionável. Segundo ele, as informações estatísticas brasileiras eram muito mais confiáveis do que a de outros países com nível de desenvolvimento menor ou semelhante ao nosso, nos quais os sistemas estatísticos muitas vezes excluem informações referentes à minorias étnicas cujo padrão de vida é bem inferior ao da maioria da população.
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