Recebi um e-mail de Ricken Patel, do Avaaz.org, com o título "Estão Perseguindo Nossa Equipe". O e-mail começava relatando alguns casos de espionagem, ameaças de morte e de intimidação policial - esta ocorrida no Egito - que atingiram integrantes da organização. Mais adiante, vinha um pedido de doação de dinheiro, e já com os links para os interessados fazerem as doações. Os valores sugeridos iam de R$ 5,00 a R$ 72,00, mas existe opção para doar qualquer valor que se queira. Bem profissionais, não?
O e-mail alega que é necessário triplicar os sistemas de segurança do Avaaz e promete que as doações só serão processadas se o valor arrecadado for "o suficiente para financiar integralmente um plano de segurança para proteger nossa equipe". Só que não há qualquer estimativa de quanto seria esse valor, já que se trata apenas de "um plano de segurança" qualquer, não de um plano que tenha sido especificado na mensagem! Se arrecadarem R$ 1 milhão, podem implementar um plano de segurança nesse valor; se arrecadarem R$ 100 milhões, eles usam o dinheiro para pagar um plano cem vezes melhor... É, acho que os doadores já podem ir dando tchauzinho para o dinheiro no mesmo instante em que clicarem num daqueles links.
E esses pedidos de dinheiro vêm acompanhados de apelos fortemente emocionais, que pintam a turma do Avaaz como um grupo de heróis da liberdade: "vamos apoiar esses corajosos ativistas que se atrevem a levar as vozes da nossa comunidade a quem está no poder" (negrito no original).
Ora, a expressão "vozes da nossa comunidade" sugere que o Avaaz existe para expressar uma pluralidade de opiniões que vai muito além dos pontos de vista dos integrantes da própria organização. Mas não é nada disso! Longe de se propor a ser um canal politicamente neutro de expressão de opiniões, o Avaaz.org é uma comunidade fechada e organizada que só dá voz àqueles que compartilham das mesmas ideologias e interesses políticos dos seus membros. O advogado Pedro Abramovay, petista que já foi secretário nacional de Justiça durante a gestão de Márcio Thomaz Bastos, deixou isso explícito numa entrevista ao Estadão:
A Avaaz deleta alguns abaixo-assinados, como um proposto em defesa do pastor Silas Malafaia. Qual o critério para deletar ou bloquear algumas petições?Abramovay - O critério mais utilizado, e foi o caso da petição do Malafaia, que se tornou um caso bastante conhecido, é quando alguém da comunidade reclama. Porque a gente vê a Avaaz como um movimento, não é uma rede social, não é um espaço neutro, ela é um movimento que tem princípios. Quando uma parte dessa comunidade diz que essa petição vai contra o princípios do movimento, a gente faz uma pesquisa entre os nossos membros, perguntando, para uma amostra aleatória e por critérios científicos, se isso representa a vontade dos membros. A gente tem três milhões de membros no Brasil, e pergunta: Vocês acham que essa petição deve continuar ou deve ser retirada? No caso do Malafaia, 77% das pessoas disseram que ela deveria ser retirada, e foi por isso que ela foi retirada.
Mas se a maioria decidisse que a petição teria que ficar, ela ficaria?
Fica (ver aqui).
O meu apreço pelas ideias de Malafaia é zero, mas não é por eu discordar dele que acho justo deletar uma petição em seu favor no Avaaz, sobretudo considerando que as petições contra ele são aceitas! Sendo assim, a propaganda usada pelo Avaaz para pedir dinheiro é enganosa, pois usa a expressão "nossa comunidade" sem avisar que essa expressão se refere somente aos integrantes do próprio Avaaz!
No caso brasileiro, o grupo que controla o Avaaz.org se alinha a ideologias de esquerda e aos interesses políticos e econômicos do PT, conforme se pode ler aqui! O resultado é que, embora uma ou outra petição possa não ser do interesse de petistas e aliados do partido - como petições contra Renan Calheiros -, o que predomina amplamente no Avaaz são as petições que passaram pelo filtro ideológico e partidário dessa "comunidade".
Um peso, duas medidas e muita grana
Quando esquerdistas e petralhas não controlam completamente um determinado espaço de comunicação, como a imprensa, exigem pluralismo de opiniões e isenção. E ainda acusam os que discordam deles de estarem a serviço de interesses escusos para ganhar dinheiro. Agora, quando a esquerda tem o controle de determinado espaço, como é o Avaaz.org, declara que não é neutra e, assim, recusa-se a aceitar o pluralismo de ideias. É o que acontece no sistema brasileiro de ensino, conforme se pode ler neste blog (ver o Marcador "Doutrinação"). A velha lógica de um peso e duas medidas.
Por fim, é o cúmulo da cara de pau uma entidade com a burra cheia de dinheiro e que não esclarece as fontes de seus recursos vir pedir doações, conforme explica Reinaldo Azevedo:
Ao Estadão, Abramovay diz que o site Avaaz, onde ele decreta quem vive e quem morre, é financiado por doações. Sei. De quem? Seja como for, trata-se de uma entidade que se orienta como empresa privada. Logo, um grupo de financiadores escolhe os seus alvos. E não é pouco dinheiro. Quem tem recursos para financiar pesquisas do Ibope está bem de caixa. Ele não diz quanto custou. A transparência tem um limite. Ele se quer a voz da sociedade, mas só conta uma parte (texto completo aqui).
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