sexta-feira, 16 de maio de 2014

Paulo Freire: pobreza intelectual, dogmatismo e amor assassino

Quando o jornalista José Maria e Silva publicou uma crítica contundente ao mal chamado "Método Paulo Freire", na Gazeta do Povo, esse jornal publicou também textos de freirianos para apresentar o famoso "outro lado da questão" - muito embora os freirianos não proponham apresentar visões de mundo diferentes aos seus alunos, conforme se vê pela leitura de Pedagogia do oprimido (Freire, 1987). 

Mas o que chama a atenção nessas respostas é que os seguidores de Freire, na verdade, não respondem! Primeiro, eles usam o argumento de autoridade, dizendo que Freire é o patrono da educação brasileira e que trabalhou nesta e naquela instituição de prestígio. Depois, repetem a velha cantilena de que o método de ensino que leva o nome dele teria tido resultados impressionantes, ignorando o fato de os críticos desse método, como Silva, alegarem que os resultados efetivos ficaram muito aquém da propaganda. Por fim, citam uma ou duas passagens da obra de Freire sobre a educação ser um "ato político" e sobre a importância de tornar o estudante "sujeito de si mesmo". E param por aí! Em nenhum momento eles procuram formular uma resposta específica para as críticas elaboradas contra o, vá lá, "pensamento" de Paulo Freire. Repetem a velha fórmula de propaganda do tal método como se esta já contivesse resposta para qualquer crítica, e está feito. 


Por que fogem do debate? Em parte, é claro, para tirar proveito do fato de que a imagem de Paulo Freire como grande educador e suposto inventor de um revolucionário método de alfabetização de adultos já está fortemente entranhada entre os professores e na opinião pública. Mas a razão oculta está no fato de que qualquer tentativa séria de defender as ideias freirianas implica ter de admitir que estas não têm nenhuma base científica e nem mesmo racional!

Em vez de ciência, fé ideológica

A melhor maneira de constatar isso é ler a obra freiriana, como os livros Pedagogia do oprimido e Pedagogia da autonomia, ambos já citados neste blog, que se caracterizam por um simplismo de ideias constrangedor. Mas quem quiser ganhar tempo e ir direto a um trabalho freiriano que deixa essa falta de fundamentação bem explícita pode recorrer ao livrinho O que é método Paulo Freire, comentado no post anterior. Após descrever os procedimentos que compõem o método de alfabetização de adultos aplicado por Freire e seus seguidores já em 1961, o autor, Carlos Rodrigues Brandão, escreve o seguinte:  
Às vezes é muito difícil falar sobre as ideias que deram origem ao Método Paulo Freire, porque elas são muito simples e algumas pessoas precisam complicá-las.
Na verdade Paulo Freire não tem sequer uma teoria pedagógica definitiva. Ele tem um afeto e a sua prática. Por isso fica difícil teorizar a seu respeito, sem viver a prática que é o sentido desse afeto. Por isso é fácil compreender o que ele tem falado e escrito, quando se parte da vivência da prática do compromisso que tem sido, mais do que sua teoria, a sua crença (Brandão, 1984, p. 102).
O que se vê nessa passagem da conclusão do livrinho é o reconhecimento de que Paulo Freire e seus seguidores não têm como justificar a suposta eficácia do tal método, já que os seus escritos consistem apenas em ideias simples embaladas por palavras atraentes, como "afeto". Nesse sentido, Brandão fornece a melhor comprovação da pertinência das críticas lançadas contra a pobreza intelectual de Paulo Freire. 

De fato, José Maria e Silva, no artigo citado, afirma que Pedagogia do oprimido não passa de um panfleto político e de um "manual de autoajuda marxista" exatamente por causa da pobreza das ideias ali expostas. De modo similar, Sol Stern afirma que essa obra nem ao menos pode ser considerada um trabalho sobre educação, já que ignora todos os temas importantes nessa área do conhecimento ao longo do século XX, tais como avaliações, padrão de ensino, currículo escolar, o papel dos pais na educação, entre outros, e se perde em "platitudes marxistas". E Brandão, ao reconhecer que não há mesmo nenhuma teoria ou argumento racional que fundamente esse ou qualquer outro trabalho de Freire, vê-se forçado a desqualificar críticas como essas da seguinte forma:
Como discutir com os termos complicados da ciência um educador cuja ideia-chave é o amor? Procure, leitor, folhear de alma limpa os escritos dele. Aos olhos ferozes dos tecnocratas do poder e da educação, pode ser que tudo aquilo não passe de uma espécie de poesia pedagógica, tão edificante quanto inviável. E aos seus olhos? (Brandão, 1984, p. 103).
Trata-se aí de uma óbvia desqualificação intelectual daqueles que acusam o simplismo dos escritos freirianos mediante a estratégia de associar os críticos ao rótulo odioso de "tecnocratas do poder e da educação". E, pior ainda, Brandão procura manipular as emoções de seus leitores ao enfeitar sua exposição com palavras bonitas, como "amor", e pedir-lhes que folheiem a obra de Freire com "alma limpa", pois assim dá a entender que uma obra edificada sobre o "amor" só pode ser compreendida por quem deixar a razão de lado e se entregar a uma apreciação igualmente emocional do que está lendo! 

As ideias de Paulo Freire são simplistas e dogmáticas, já que não têm justificativa racional, e só podem ser admiradas por quem não leu seus escritos ou por aqueles que leram esse material imbuídos das mesmas ideologias superficiais do autor e do seu mesmo ideal de fazer da educação um instrumento de doutrinação a serviço do socialismo. A quem duvidar disso, proponho que aprecie, de "alma limpa", a seguinte passagem de Pedagogia do oprimido, também citada por Silva, na qual o amoroso Paulo Freire elogia os fuzilamentos praticados pela revolução cubana.
A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida (Freire, 1987, localização 99).
Postagens relacionadas

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BRANDÃO, C. R. O que é método Paulo Freire. 7. ed., São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros Passos, v. 38), 1984.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed., Rio de Janeiro: Paz & Terra, (Coleção O Mundo, Hoje, v. 21), 1987.

3 comentários:

  1. Li Paulo Freire pela primeira vez na disciplina de Filosofia da Educação, na licenciatura em Ciências Sociais da UFRGS. Precisava elaborar o trabalho final da disciplina, sobre um dos livros sugeridos pelo professor, e escolhi Demagogia, digo, Pedagogia da Autonomia. O simplismo das ideias do autor é realmente impressionante. Há passagens do livro que, de tão ridículas, são constrangedoras, como a seguinte, da qual nunca me esqueci: "inconclusos somos nós, mulheres e homens, mas inconclusos são também as jabuticabeiras que enchem, na safra, o meu quintal de pássaros cantadores; inconclusos são estes pássaros como inconcluso é Eico, meu pastor alemão, que me 'saúda' contente no começo das manhãs" (FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.61).
    Fiz um trabalho apontando para o caráter messiânico, doutrinário, dogmático e autoritário do pensamento do autor. O professor se surpreendeu ao ler meu texto; disse que consegui aplicar o tal do "método crítico" ao próprio Paulo Freire, algo que, segundo o professor, nem os seguidores de Freire fazem.
    Impressiona-me que até hoje ainda há muitos pesquisadores presos a esse autor; dizem-se muito críticos e abertos ao diálogo, mas não suportam dialogar com alguém que questione os dogmas do pensamento "crítico", aos quais se aferram como se fosse uma religião. Aliás, não serão o Marxismo e o pensamento "crítico" uma forma de religião, um "ópio dos 'intelectuais'?
    Quanto ao "método" Paulo Freire, lembro-me da frase de uma professora, também da licenciatura: "se alguém diz que trabalha com o 'método Paulo Freire', desconfiem, pois ele não criou método algum!".

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    1. Excelente comentário, Jonathan!

      É interessante como as pessoas pensam que Freire inventou um "método crítico" que serve para analisar e questionar textos, quando, na verdade, qualquer pessoa pode fazer isso mediante o uso de habilidades cognitivas básicas, como descrever, analisar, avaliar, classificar, comparar, etc. E concordo com você que o marxismo e demais vertentes da teoria social crítica são como uma religião, pois se baseiam em dogmas. Tratei disso no livro POR UMA CRÍTICA DA GEOGRAFIA CRÍTICA.

      A propósito, você chegou a publicar algum texto baseado nesse trabalho que você fez sobre Freire? Eu tenho interesse em conhecer.

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    2. Olá, Luis!
      Não cheguei a publicar esse trabalho, até porque foi um texto feito para uma disciplina de graduação. No entanto, reli esse trabalho e estou pensando em burilá-lo e publicá-lo em alguma revista. O difícil será achar uma revista da Educação que seja efetivamente aberta ao diálogo e à crítica.
      No mais, parabenizo-te pelo blog. Fico feliz em saber que ainda há pensamento inteligente nas Ciências Humanas!

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