Recentemente, tive o prazer de orientar uma dissertação que reavaliou criticamente as ideias de Milton Santos sobre a globalização. Depois, eu e o orientando, Fernando Antonio Salomão Loch, escrevemos um artigo que acabou de ser publicado (Cf.: LOCH, F. A. S.; DINIZ FILHO, L. L. O Brasil na globalização: crítica à perspectiva de Milton Santos. Revista Geografar, v. 9, n. 1, p. 65-99, jun. 2014). Sendo assim, aqui vai um pequeno resumo.
O objetivo do texto é fazer uma análise epistemológica das teses de Milton Santos acerca da globalização e confrontá-las com um estudo de caso sobre o Brasil do final do século passado e início deste com o fim de reavaliar criticamente a contribuição desse autor ao tema. Depois de uma breve introdução sobre o conceito de globalização, vem a seção com o trabalho analítico, que consiste em identificar as fontes teóricas usadas por esse autor e o percurso argumentativo que ele trilhou para chegar às suas conclusões. Tal análise revela que as "teorias" do autor não tinham embasamento empírico e nem profundidade teórica, pois se resumiam à repetição de críticas seculares e superficiais à economia de mercado (de teor moral ou ideológico) sob diferentes formatos, sendo que os mais utilizados por Santos eram o determinismo geográfico e o fetichismo espacial.
As duas seções seguintes se dedicam ao estudo de caso. Primeiro, põe-se em foco a mudança de paradigma da economia brasileira nos anos 1990, quando o modelo de economia fechada é substituído por um de economia mais aberta, e seus impactos regionais. Depois, avaliam-se os impactos sociais dessa mudança. Os dados estatísticos apresentados mostram que a abertura comercial permitiu a queda da inflação, abrindo espaço para a desconcentração da renda e, por conta da chamada "Âncora Verde", melhorou a acessibilidade alimentar da parcela mais pobre da população brasileira. O artigo finaliza com uma seção de considerações finais, onde se demonstra que a incoerência do pensamento de Milton Santos pode ser explicada pela sua opção ideológica socialista.
De fato, Milton Santos afirmava que muito do que se escreveu no âmbito da geografia crítica tinha pouca elaboração teórica. Em suas palavras, "a crítica deveria suceder a análise, mas o que acontece, na maioria dos casos, é que a necessidade de ser crítico opera como se o analítico fosse dispensável". Todavia, o autor parece não ter percebido que seu diagnóstico se aplicava igualmente ao manifesto político que ele redigiu em prol de "uma outra globalização" e também às suas teses sobre a globalização realmente existente, fenômeno cuja suposta perversidade, atrelada à competição nos mercados, constituía um ponto de partida para os estudos dele sobre o espaço, quando deveria ser o ponto de chegada.
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Bacana o artigo, "apenas" demonstra a fragilidade da dita "Geografia Crítica", uma vez que ele é a dita "territorialidade instituída". Esclarece ainda mais a nossa (Eu e o orientador daqui) conclusão em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/geografar/article/view/25321 . Disse apenas, porque caso fosse em "algumas" revistas o artigo seria de origem ou critérios duvidosos para questionar o "honoris". Falo isso, porque infelizmente um colega meu, que passei a ele resumos das obras de Santos e ele confirmou em suas leituras, contou-me que fora recusado um artigo numa revista e evento, que prefiro não dizer o nome ainda.
ResponderExcluirÉ como disse ainda antes, o "Marxismo", direto-indireto-indireto e direto- continua a render cargos e salários nas instituições públicas.
Abraços.
Devido que as instituições públicas estarem cheias de marxistas. Isso acontece pelo fato de que nas universidades eles doutrinam os alunos através das ideias marxistas. Quando chega o tempo de essas pessoas ocuparem cargos públicos, elas não terão resistência e colocaram em prática aquilo que se foi aprendido nas universidades na ótica esquerdista. As universidades brasileiras estao cheias de marxistas.
Excluirhttps://www.facebook.com/CanalCurta/videos/vb.334259466672877/887260518039433/?type=2&theater
ResponderExcluirFoi bom você indicar onde o filme pode ser visto, Waldimiro. Para criticarmos, temos de conhecer.
ExcluirA propósito, eu já mostrei que esse vídeo passa uma imagem completamente falsa de Milton Santos, retratado como o "libertário" e humanista que ele nunca foi. Fiz isso no livro POR UMA CRÍTICA DA GEOGRAFIA CRÍTICA, mas abordei o tema, também, no post "A Mitificação de Milton Santos". O link segue abaixo:
http://tomatadas.blogspot.com/2011/09/poucos-intelectuais-brasileiros-foram.html
Muito bom, enfim achei um bom blog de Geografia.
ResponderExcluirEstudei muito Milton Santos em Geografia Humana e econômica, e na História do pensamento geográfico. Sempre achei algumas ideias dele um pouco vagas, mas nunca fui contra todas. Por exemplo, achei interessante como ele estrtura no espaço as firmas, as intituições e todo o resto.
Nem determinismo nem fetichismo espacial. O pensamento de Santos soa estranho tanto pra estudante como professor. Totalidade vazia e confusão entre paisagem e espaço vejo muito e de perto. Quem mais contribuiu em epistemologia e conceitos na disciplina nesses últimos anos foi ele: M. Santos. " A natureza do espaço" foi um salto de 25 anos.
ResponderExcluirSim, determinismo e fetichismo espacial eram vícios recorrentes no pensamento de Milton Santos. Justifico essa avaliação no artigo indicado e também no livro Por uma Crítica da Geografia Crítica. Já você afirma o contrário mas não justifica sua afirmação.
ExcluirSeu comentário revela que você não leu o artigo ao qual o post se refere. No artigo, são usados vários indicadores econômicos e sociais para demonstrar que o primeiro e maior erro de Milton Santos era afirmar que o livre mercado faz o Brasil e o mundo afundarem numa crise social sem fim e cada vez pior, quando, na verdade, a situação sócio-econômica brasileira melhora sem parar há década e as reformas modernizadoras dos anos 90 contribuíram para reduzir as desigualdades de renda e a pobreza.
ResponderExcluirA propósito, se já houve alguém que jamais foi às ruas para lutar politicamente, esse alguém era Milton Santos. Ele foi um legítimo "intelectual de gabinete" (o que, aliás, não é demérito nenhum).