segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Questão chave sobre 2018 não é o PSDB, mas o PMDB

O resultado das urnas nas eleições municipais mostra que os grandes derrotados foram Lula e o PT, enquanto Alckmin e o PSDB saíram vitoriosos. Então, o jornalismo político já avalia que o governador paulista tem grande chance de ser o candidato do PSDB em 2018 e especula se os tucanos vão conseguir superar suas brigas internas para se unir em torno dessa candidatura. Eu, porém, prefiro refletir como seria um eventual governo tucano que começasse em 2018 e, nesse caso, não há dúvida de que a grande questão é saber com que objetivo o PMDB poderia apoiar a candidatura e o governo de um tucano, seja ele quem for.

De fato, o PMDB é o maior partido do Brasil e, nestas eleições, elegeu mais prefeitos que qualquer outro - embora as cidades administradas por tucanos sejam mais populosas. Sem contar com o apoio do PMDB, será muito difícil vencer a eleição e, talvez até mais ainda, governar. O problema é que o PSDB já deixou de ser a opção preferencial do PMDB desde a metade do segundo mandato presidencial de Fernando Henrique. E por quê? Porque o projeto modernizador dos tucanos passa pelas privatizações e por aumento da eficiência do aparelho estatal, ao passo que o PMDB é uma agremiação sem ideologia, fisiológica e patrimonialista - o mesmo valendo para a grande maioria dos partidos brasileiros: PTB, PP, PRB, etc.

Nesse sentido, o PMDB só apoiou Fernando Henrique porque a crise inflacionária que se arrastava desde 1980 estava destruindo a economia e, sendo assim, a necessidade de um mínimo de reformas modernizadoras era incontornável. Entregaram os anéis para não perder os dedos. E o segundo mandato de FHC foi pobre em reformas (as privatizações pararam, por exemplo) justamente porque a base aliada entendeu que a estabilidade econômica tinha vindo para ficar e retirou seu apoio para as reformas. Em 2002, Sarney e outros caciques do PMDB e do antigo PFL, como o Toninho Malvadeza, apoiaram Lula porque o PT é mais conveniente para os interesses dos posseiros do Estado, na medida em que investe no agigantamento da máquina.

Portanto, avalio que o PMDB poderá apoiar um candidato tucano que se disponha a ser tão ou quase tão medíocre quanto Temer tem sido. Afinal, o fundo do poço da crise econômica aconteceu com Dilma e, agora, a tendência é ir melhorando devagar. Michel Temer - cujo mandato deveria ser cassado pelo TSE, se o dinheiro do petrolão irrigou a campanha da chapa Dilma/Temer - mostrou que pode fazer algumas mudanças positivas e importantes, como a reforma do ensino médio. Mas os cortes de gasto ficaram entre o insuficiente e o abaixo do ideal, as privatizações não vão acontecer - até porque a maioria dos eleitores é contra - e ninguém no governo fala em abertura da economia.

Temer, o PMDB e a maioria dos políticos brasileiros são uns parasitas do Estado, de sorte que reformas modernizadoras só acontecem de forma razoavelmente rápida quando a casa está caindo, o que não é o caso agora. Os tucanos podem até levar o próximo pleito presidencial (não arrisco palpite algum), mas me parece que um governo Alckmin ou Aécio só conseguiria ser, no máximo, menos ruim do que o governo Temer, o qual, por sua vez, tem sido só um pouco menos medíocre do que o governo Lula (que, não por acaso, Temer ajudou a eleger e reeleger...).

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2 comentários:

  1. Caro Professor!
    Gosto de acompanhar os artigos sobre geopolítica nacional aqui no blog, pois sempre são diferentes e lúcidos e pouco me arrisco a comentá-los por falta de conhecimento. No histórico do PMDB, desde sua criação em 1980 e a partir do Governo Sarney, nunca largou o poder. Em minha opinião, isto ocorreu devido ter ficado de lado durante o período dos militares. Derivado do MDB, como todos os partidos de esquerda, o PMDB nunca se definiu, sendo conveniente cair para um lado ou outro (o lado que está por cima), ora como partido diretamente governante, ora como articulador. Sendo assim, não inspira confiança. Num país tão divergente de ideias, O PMDB vai ser sempre diplomático e não chegará a tomar as decisões mais antipopulares, mesmo estas sendo soluções visíveis. Quanto ao PSDB, que derivou de alas menos radicais do MDB e mais liberais do PDS (nesta formação, muitos tucanos passaram pelo PFL), nem deveria fazer conjuntura com este tipo de política e fortalecer-se-ia muito mais se ficasse observando de longe Temer se autodestruir. Mas hoje, o PSDB é uma das últimas opções para quem pensa que abertura comercial é a saída para o desenvolvimento da nação.
    Abraços.

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    1. Possivelmente, nós não teríamos um partido fisiológico tão grande como o PMDB se não fosse a ditadura militar. Sei que não existe "se" quando se discute história, mas imagino que, se a ditadura não tivesse imposto o bipartidarismo na marra, Talvez nossos fisiológicos estivessem hoje mais distribuídos entre os diversos partidos, não havendo um que, sozinho, tivesse tanta força eleitoral quanto o PMDB.

      E creio que esse bipartidarismo forçado também ajuda a explicar essas características que você bem apontou no partido: boa parte do velho MDB era formado por forças democráticas de tendências diversas que se uniram contra a ditadura, mas havia também uma gama de politiqueiros fisiológicos, clientelistas e autoritários que ingressavam no MDB só para poderem disputar eleições contra algum cacique local adversário. Não era uma adesão ideológica, portanto, mas mera conveniência eleitoral.

      Depois, quando a redemocratização trouxe a possibilidade de instituição de novos partidos, os ideológicos saíram quase todos do PMDB - Requião é um dos poucos que ficaram, e é lixo esquerdista - sobrando quase que só os fisiológicos.

      Mas, ao fim e ao cabo, me parece certo que, dada a baixa escolaridade da população brasileira, estávamos fadados a ter um quadro político dominado por politiqueiros como Michel Temer, Sarney, Barbalho, et caterva.

      Abs

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