quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Doutrinação: professor Luan Pablo Rosa usa argumentos desonestos ao tratar do tema

O professor Luan Pablo Rosa fala grosso e se faz de defensor intransigente da liberdade de ensinar quando quer atacar o Projeto de Lei "Escola Sem Partido", mas fica mansinho e se posiciona de forma ambígua e contraditória quando se trata dos piqueteiros da UFPR, universidade em que ele estuda. É uma clara demonstração de hipocrisia. Não bastasse isso, seus argumentos contra a minha fala na audiência pública da Câmara que tratou do PL citado são intelectualmente desonestos.

Para quem ainda não sabe, esse Projeto de Lei nasceu da preocupação de informar aos estudantes que o professor não tem o direito de se aproveitar de uma plateia cativa, que são seus alunos, para induzi-los a ter as mesmas ideias políticas do professor. Daí a proposta de elaborar uma lista de Deveres do Professor relacionados ao respeito pela liberdade de aprender dos estudantes. Ao participar da última audiência pública da Câmara que discutiu o tema, fiz uma exposição com o objetivo de demonstrar que o problema da doutrinação existe e é muito sério.


Desonestidade

Então, o professor Luan usou o Grupo Geografia UFPR, do Facebook, para dizer que eu sou incoerente, afirmando ironicamente: "aprendam a ser professores, vejam nos professores universitários, livres em nossos posicionamentos, mas quando chegar nas escolas, NÃO debatam questões políticas, morais, sexuais, religiosas".

A desonestidade da crítica está no fato de que, como o professor Luan Pablo Rosa não deve ser burro, com certeza percebeu que toda a minha fala teve por objetivo mostrar que falta debate e pluralismo na discussão de temas políticos em nossas escolas! De fato, logo no início da exposição eu avisei que não iria tratar de educação sexual e moral e, em seguida, me pus a demonstrar que, embora professores e autores de livros didáticos afirmem que seu objetivo é mostrar visões diferentes da realidade para que o aluno se posicione autonomamente sobre estas, o que acontece é justamente o oposto, pois apenas uma visão é mostrada: a visão da geocrítica. Ao invés de impedir o debate, portanto, eu proponho que haja debate de verdade.

Depois, ele afirma:
Esta PL e suas ramificações são uma esculhambação da liberdade docente, e utilizar apenas um livro e assim generalizar o conteúdo dos demais, assim como a forma com que nós professores utilizamos os mesmos, creditando uma doutrinação que não é presente em sala é um absurdo.
O argumento é desonesto porque, logo que comecei a falar, mostrei um exemplar do meu livro Por uma crítica da geografia crítica (Editora da UEPG, 2013) para explicar justamente que as minhas afirmações estavam baseadas em pesquisas que serviram para a elaboração daquela obra. Logo, não houve generalização alguma, pois deixei bem claro que o livro de José W. Vesentini que utilizei durante a audiência era apenas um exemplo ilustrativo.

Além disso, se é verdade mesmo que aquele livro é um caso isolado de conteúdo doutrinador, então cabe ao professor Luan mostrar exemplos de livros didáticos que não são doutrinadores. Por que ele não citou passagens dos livros que ele usa em suas aulas para evidenciar isso, por exemplo? 

Mais evidências

Vê-se que o professor Luan reconhece que o conteúdo daquele livro de Vesentini que eu citei é doutrinador, mas procura descartar minhas conclusões dizendo que a forma como os professores trabalham os conteúdos dos livros não pode ser generalizada. É um argumento com o qual já estou acostumado.

De qualquer forma, no livro Por uma crítica da geografia crítica eu apresento os resultados de uma pesquisa que coordenei junto a 121 alunos do último ano do ensino médio em Curitiba, e as respostas dos estudantes ao questionário evidenciam que há uma elevada coerência entre o que eles afirmam sobre Geografia Geral e os conteúdos de livros didáticos. Portanto, a pesquisa indica que os professores confirmam o que está dito no livro e não apresentam nenhuma visão alternativa àquela. E vale acrescentar que, nesse mesmo livro, eu cito pesquisas que revelam o uso que os professores fazem da sala de aula como palanque para elogiar figuras como Lula, Hugo Chàvez, Che Guevara e outros com perfil esquerdista.

Argumento do caso isolado não faz sentido

O problema da doutrinação é generalizado no ensino brasileiro, mas o professor Luan não está sozinho ao usar o argumento de que as práticas doutrinadoras são casos isolados. Durante a mencionada audiência pública, houve mais de um questionamento nesse sentido. Contudo, o professor Bráulio Porto de Matos, que dividiu mesa comigo, rebateu muito bem esse argumento.

Como ele disse, elaborar uma lista de Deveres do Professor significa apenas estabelecer um código de ética profissional, e os códigos de ética se aplicam a todos os casos. Teria algum cabimento alegar que os médicos  não precisam de um código de ética porque a grande maioria deles não faz nada de errado?

Mordaça

Já no final do seu post, o professor Luan Pablo Rosa repete a mentira de que eu faço generalizações com base num único livro e acrescenta que me valho da suposta generalização para "justificar um posicionamento vago". Fico desconfiado de que o professor não sabe o que significa a expressão "posicionamento vago", posto que, se a minha exposição tivesse sido vaga, ou seja, superficial e pouco clara, então ele teria tido alguma dificuldade para entender exatamente quais eram as minhas conclusões e demonstraria o porquê dessa dificuldade em sua crítica. No entanto, tudo o que ele escreveu mostra que meu posicionamento é tão claro que despertou nele a indignação própria dos mais convictos defensores da liberdade docente.

A verdade é que posicionamento vago foi o do professor Luan Pablo Rosa diante dos piquetes que aconteceram na UFPR no ano passado, muito embora essa seja a mais inequívoca violação da liberdade de ensinar que possa existir.  

Para encerrar, pergunto, sem nenhuma intenção de generalizar: quantos professores não são até piores do que o senhor Luan Pablo Rosa, já que se dizem defensores da liberdade de ensinar quando atacam o Escola Sem Partido, mas não têm o menor pudor de apoiar invasões de escolas e de universidades quando acham que isso pode servir para impor suas ideias políticas aos demais professores e ao conjunto da sociedade?

3 comentários:

  1. Diniz, uma dúvida. Quantos anos de experiência em sala de aula no ensino básico você tem?

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  2. Ah, então você não se contentou em comentar o post desonesto do Luan lá no Face e veio aqui discutir, não é? OK, vamos lá.

    1. Sua pergunta, assim como o comentário que você fez lá, mostra que você pretende usar o manjado argumento de autoridade. Os professores brasileiros de ensino fundamental e médio sempre usam esse argumento contra qualquer crítica. Tratei disso no post “Arrogância dos Professores” Leia esse post para eu não ter que me repetir aqui.

    2. Se o argumento de autoridade já é um truque retórico desonesto por si mesmo, pior ainda é quando quem o utiliza não se dá conta de que o argumento nem sequer se aplica ao caso em pauta. De fato, ter experiência no ensino básico seria útil naquela audiência se eu tratasse de métodos de ensino nesse nível, mas minha fala não teve nada a ver com método; tratei só de conteúdo. E ninguém precisa dar aula no ensino fundamental ou médio para verificar se os conteúdos ensinados são unilaterais ou pluralistas. As pesquisas que fiz provam que são unilaterais.

    3. Agora, se você acha que os resultados dessas pesquisas estão errados, apresente seus argumentos. Mostre evidências de que o ensino de geografia atual não é doutrinador.

    4. Por fim, é minha vez de tirar dúvidas. Qual foi a sua posição diante das invasões de escolas e de universidades no ano passado? Você fez piquete? Se acaso não fez, foi por avaliar que o piquete é uma violação do direito de ensinar? E se fez, não acha que é hipócrita ser contra o Escola Sem Partido e, ao mesmo tempo, apoiar e/ou praticar invasões e piquetes?

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    1. O link do post que eu citei não saiu. É este: http://tomatadas.blogspot.com/2013/04/arrogancia-dos-professores.html

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