domingo, 13 de novembro de 2011

Marcelo Lopes de Souza é como qualquer militante primitivo de esquerda

Na palestra Da “arqueologia” à “genealogia”: balanço e perspectivas dos vínculos entre a geografia e o pensamento libertário, Marcelo Lopes de Souza (2009) passou mais de uma hora a repetir chavões da geografia crítica (embora diga que não pertence a tal linha de pensamento). Sempre preocupado em se mostrar um intelectual sofisticado e politicamente progressista, definiu o tal "pensamento libertário" como uma tradição intelectual que se propõem a fazer a crítica tanto do capitalismo quanto do socialismo burocrático, abrangendo autores como Foucault e Castoriadis, entre muitos outros. 

Na sessão de perguntas que se seguiu à palestra, Souza afirmou, entre muitas outras coisas, que o intelectual deve ter espírito crítico, o que significa estar pronto para criticar mesmo os setores politicamente progressistas da sociedade. Para ilustrar essa ideia, ele afirmou que é preciso averiguar se não há problemas de racismo ou machismo no MST e em outros "movimentos sociais"... 

Parecia até piada! Afinal, quando se avalia essa fala à luz da política brasileira e internacional, fica cristalino que o elogio de Souza ao espírito crítico não passa de uma hipocrisia que disfarça um dogmatismo e um maniqueísmo incompatíveis com a natureza do trabalho científico.

Realmente, é possível que haja preconceitos de raça e de gênero entre militantes dos ditos "movimentos sociais" (já há muitos estudos sobre relações de gênero nos assentamentos de reforma agrária, por exemplo), uma vez que os integrantes das organizações assim denominadas são pessoas como quaisquer outras. Contudo, existe uma grande abundância de fatos a evidenciar que o preconceito é o menor dos problemas relacionados aos discursos e práticas desses "movimentos". Vejamos a avaliação que José de Souza Martins (2005) fez com base no recente escândalo do "mensalão": 
Contra o eventual pedido de impedimento do presidente Luiz Inácio, o atual presidente do PT anuncia que os movimentos sociais serão convocados para defender-lhe o mandato. Justamente aí está um dos aspectos mais problemáticos da história do Partido dos Trabalhadores: a cooptação dos movimentos sociais, como se constituíssem o departamento de agitação social do partido, chamados às ruas por decisão administrativa. [...] A convocação dos movimentos sociais, para supostamente defender o presidente, muda a agenda desses movimentos, que estavam planejando manifestação contra a corrupção. Esse é um sinal de que os movimentos sociais já não existem a não ser como associações de interesses partidários. 
Bem ao contrário do que sugerem as críticas de Marcelo Lopes de Souza ao Estado, baseadas em teorias "libertárias" de inspiração anarquista, os ditos "movimentos sociais" vivem de tungar o Estado e, por isso mesmo, são facilmente cooptáveis por partidos como o PT, que age de forma patrimonialista, fisiológica e corporativista.

Incapaz de encarar os fatos que destroem seus pressupostos teóricos e ideológicos, Souza fala como se ter espírito crítico fosse apenas avaliar as organizações de esquerda com o mesmo crivo politicamente correto que elas utilizam para atacar e, não raro, caluniar seus adversários. Assim, ao dizer que é preciso investigar se há preconceito nos "movimentos sociais", ele acaba desviando a atenção dos verdadeiros vícios e perversidades das organizações políticas assim denominadas. Souza tenta afetar sofisticação teórica e espírito crítico, mas a experiência histórica recente revela que ele é tão maniqueísta, dogmático e unilateral quanto os militantes esquerdistas mais simplórios. 

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MARTINS, J. S. Entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, 14 ago. 2005.

SOUZA, M. L. Da "arqueologia" à "genealogia": balanço e perspectivas dos vínculos entre a geografia e o pensamento libertário. Palestra proferida durante a V Semana Acadêmica de Geografia. Curitiba: UFPR, 19 out. 2009.

8 comentários:

  1. Diniz,

    A malandragem é essa mesmo, que tu bem detectou. Agora, imagine se cobrássemos desses movimentos como o MST algo como uma prestação de contas: "Êi, vocês disseram que queriam terra para produzir, que a especulação de terras e bla-bla-bla, a ditadura do grande capital e bla-bla-bla os impedia de produzir... Pois bem, agora que ganharam terra e DINHEIRO [pois, ao contrário do que muitos pensam, a reforma agrária desde os tempos de FHC não se resume à mera distribuição de terras], o que vocês definitivamente produziram?" Sabe o que o Marcelo Lopes de Souza e outros com a mesma mentalidade incrustados em sinecuras estatais nos diriam? "Isto não é justo para com os movimentos sociais, pois é uma cobrança e avaliação típicas da mentalidade neoliberal, que só sabe cobrar resultados..." Ou algo tão patético assim seria alegado, pode crer. O que eles esquecem, no entanto, é que não se trata de cobrar uma "racionalidade neoliberal", mas de cobrar uma racionalidade sequer, o que a leitura de filósofos anarquistas nunca soube responder.

    Só responderam com sonhos a guisa de guias para o fracasso.

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  2. É isso aí, Diniz; distribuindo tomatadas! Marcelo Lopes de Souza merece!

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  3. Até parece que não vivem no mundo real. Que leitura ridícula de um dos principais movimentos de nosso país. Ridículos.

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    1. Como você usou os verbos no plural, creio que se refere a mim e aos outros que comentaram esse texto como "ridículos". Todavia, é fato que os assentados do MST não produzem praticamente nada e, assim como outros ditos "movimentos sociais", essa organização atua a serviço do projeto de poder de um partido, o PT, quando convocada para isso. Você, anônimo, não usa fato algum para justificar sua desqualificação.

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  4. Bem, fica difícil avaliar tanto o sr. blogueiro quanto o Dr. Marcelo, simplesmente porque não assisti a conferência, então essa discussão fica sem base material e baseada apenas na visão unilateral do blog. Alguém aí assistiu ou teve acesso a essa conferência?

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    1. A palestra foi assistida por outros professores do Departamento de Geografia da UFPR, tais como Wolf-Dietrich Zahr e Leonardo José Cordeiro Santos, além de dezenas de alunos do curso.

      Mas há um meio de checar a crítica que eu fiz a Marcelo Lopes de Souza. É só ler o que ele já publicou a respeito do capitalismo e dessas organizações políticas que se autodenominam, com aval de intelectuais "libertários" como ele, "movimentos sociais".

      Ora, as ideias de Souza sobre o capitalismo consistem em estabelecer relações de causa e efeito tão simplistas quanto as que podem ser lidas nos panfletos do PSTU. E sobre os "movimentos sociais"? Se houver textos de Souza anteriores à conferência nos quais ele tenha avaliado os tais "movimentos" segundo algum outro critério que não seja alguma pergunta superficial do tipo "será que tem machismo e racismo no MST?", então poderemos concluir que ele apenas teve um momento infeliz naquela noite. Mas, se ele se exime de fazer uma avaliação crítica dos projetos e práticas dos tais "movimentos", então ficará claro que, naquela conferência, ele estava só fingindo ter indenpendência intelectual, quando na verdade age como um militante de certas causas.

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  5. De onde tu tiraste que os assentamentos "nao produzem nada"...

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    1. GRAZIANO, X. O carma da terra no Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.

      DINIZ FILHO, L. L.; ZAFALON, R. O Pronaf como política de apoio aos assentados do Programa Nacional de Reforma Agrária. Revista da Anpege, v. 7, n. 8, 2011. Disponível em:

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