Os geógrafos rurais, reproduzindo os discursos dos movimentos de "luta pela terra", costumam afirmar que a concentração fundiária é a causa da violência no campo. Por conseguinte, inferem que as invasões de terra são inversamente proporcionais aos investimentos realizados no assentamento de famílias em projetos de reforma agrária. Para averiguar as conclusões a que essas ideias nos conduzem quando se observam as estatísticas de violência no campo, elaborei o gráfico abaixo. A fonte são os Relatórios da Ouvidoria Agrária, disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA.
Partindo-se do pressuposto de que a concentração fundiária e o montante dos investimentos na instalação de assentamentos explicam a violência no campo, as conclusões lógicas a extrair desses dados são:
- No período de 1995 a 1999, o governo FHC investiu tão pouco em reforma agrária que o resultado foi uma verdadeira explosão de violência, com as invasões saltando de 145 para 502.
- Esse governo reagiu ao problema de 2000 em diante, realizando investimentos tão elevados em reforma agrária que as invasões de terra despencaram para menos da metade já nesse ano, e continuaram caindo aceleradamente até atingir a marca de 103 invasões em 2002.
- Em 2003, primeiro ano do governo Lula, houve cortes muito grandes na Política Nacional de Reforma Agrária, o que provocou as 222 invasões de terra ocorridas nesse ano.
- Esse governo continuou ignorando o problema em 2004, o que fez as invasões saltarem para 327.
- De 2005 a 2010, o governo Lula expandiu em certa medida o assentamento de famílias realizado anualmente, o que fez o número de invasões oscilar na faixa de 173 a 298, sem tendência de queda.
- Observando-se os dezesseis anos da série, vê-se que a violência expressa nas invasões estava em vias de desaparecer no segundo mandato de FHC, mas voltou a ganhar força e estabilizou-se nos anos seguintes.
Alguém é capaz de dizer que tais interpretações não são as únicas que tornam as ideias dos geógrafos rurais coerentes com os dados do MDA? Realmente, a única maneira de explicar os fatos acima de outra maneira é abandonar a hipótese de que concentração fundiária produz violência rural e, por conseguinte, a inferência de que os casos de invasão de terra são inversamente proporcionais ao número de famílias assentadas. Essa explicação alternativa é bem simples e já saiu na imprensa várias vezes. Para quem não aprendeu sobre ela na faculdade ou na escola, conto em outro post.
Eh eh eh, este post é para dar nó na cabeça do "estudante-militante que gosta de aula de professor engajado".
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