Recebi outros três comentários que merecem um post. O primeiro, porque foge à regra, e os outros porque, bem ao contrário, estão perfeitamente de acordo com o padrão das intervenções de esquerdistas em sites de notícias e blogs. Comecemos pelo comentário, de um Anônimo, que foge ao padrão (ainda bem).
Também estudei em escola pública; entretanto, meu professor de Geografia, cuja base era extremamente marxista, não nos privava de um ensino holístico e multidisciplinar. Aprendemos a ter a visão crítica, mas sem precisar beber de apenas uma ideologia. Resumindo, conseguimos ver os dois lados da moeda. O que falte hoje talvez seja a vontade de se despir de sua ideologia e transferir o conhecimento crítico livre desta; senão, de que adianta ir contra o dito "sistema"? Se assim do mesmo modo cria-se replicantes ideológicos, que têm o mesmo potencial de senso comum que o resto da população.
Esse texto escapa do comum porque cita o caso de um professor de geografia marxista que não atua de forma doutrinadora, mas, ao invés de usar esse exemplo para negar o problema da doutrinação, admite que essa prática existe e que ela está em contradição com o interesse da teoria social crítica em opor-se ao capitalismo com base em conhecimentos científicos.
Fico feliz em saber que ainda há pelo menos um geógrafo marxista que mantém o necessário compromisso com a neutralidade. Sim, há intelectuais marxistas que, fiéis ao espírito racionalista e até cientificista da obra de Marx, afirmam a necessidade de o pesquisador pautar suas condutas pela "neutralidade ética". É o que defende o sociólogo marxista José de Souza Martins em seu livro Reforma agrária: o impossível diálogo (Edusp, 2004). O problema é que, conforme pesquisa empírica e levantamentos bibliográficos que já realizei, os geocríticos viraram as costas para o racionalismo e/ou simplificaram de tal modo a concepção de unidade entre teoria e práxis que acabaram convertendo a pesquisa em militância político-ideológica travestida de ciência. O mesmo se deu no ensino de geografia, que se tornou proselitismo ideológico com o nome de "conscientização".
Fico feliz em saber que ainda há pelo menos um geógrafo marxista que mantém o necessário compromisso com a neutralidade. Sim, há intelectuais marxistas que, fiéis ao espírito racionalista e até cientificista da obra de Marx, afirmam a necessidade de o pesquisador pautar suas condutas pela "neutralidade ética". É o que defende o sociólogo marxista José de Souza Martins em seu livro Reforma agrária: o impossível diálogo (Edusp, 2004). O problema é que, conforme pesquisa empírica e levantamentos bibliográficos que já realizei, os geocríticos viraram as costas para o racionalismo e/ou simplificaram de tal modo a concepção de unidade entre teoria e práxis que acabaram convertendo a pesquisa em militância político-ideológica travestida de ciência. O mesmo se deu no ensino de geografia, que se tornou proselitismo ideológico com o nome de "conscientização".
Ainda assim, fico sem saber, pelo breve comentário acima, como o professor fez para mostrar "os dois lados da moeda". Ele ensinou os rudimentos da teoria marxista do valor e teve o cuidado de fazer o mesmo com a teoria do valor marginal? Ensinou as críticas dos teóricos do subdesenvolvimento à teoria das vantagens comparativas, mas também fez uma introdução a esta última independente daquelas leituras críticas? Criticou o agronegócio sem esconder as estatísticas de produção agrícola? Se ele agiu assim, então fez o mesmo que eu procuro fazer nas aulas de Geografia Econômica e outras. Sem diversidade de conteúdo e compromisso com a verificação empírica não há como fugir do unilateralismo.
Passando agora ao segundo comentário, cabe dizer que foi escrito por um tal Baltazar Called, que afirma ser estudante de geografia, e que esse comentário eu não publiquei. E por quê? Porque jogar tomates, como eu já expliquei aqui, é debater ideias. Mas o Called me xingou no comentário, então não há motivo para o texto sair publicado no meu blog.
Não sei se ele é petista, mas é bem provável que seja, já que a maioria esmagadora dos geógrafos é simpatizante desse partido (como eu também fui, nos meus tempos de graduação). O comentário dele está perfeitamente de acordo com o jeito nazi-petista de fazer política, já que os militantes e simpatizantes desse partido acham inconcebível que alguém possa discordar deles sem ter alguma incapacidade intelectual e/ou algum desvio de caráter. Por isso, entopem as áreas de comentários de sites de notícias e de blogs com textos que, muitas vezes, só servem para desqualificar pessoas.
É certo que, frequentemente, o militante que faz isso age a soldo do partido, conforme já vem sendo fartamente citado na imprensa. Mas não creio que seja esse o caso do Called, pois há outros blogs com muito mais acessos do que o meu, não valendo a pena um desses "comentaristas" de aluguel aparecer por aqui. Deduzo que ele está naquele grupo de esquerdistas que, militantes de carteirinha ou não, são incapazes de debater sem desqualificar o outro apenas porque se julgam senhores de todas as verdades e de todas as virtudes. É o padrão, como provam os textos e declarações de figuras notórias como Milton Santos e Armen Mamigonian, a quem o Called imita na presunção de superioridade intelectual e/ou moral.
Por fim, o último comentário, que também é anônimo, diz o seguinte:
Que legal. Quando um professor que ninguém gosta fala mal do movimento estudantil, acaba atraindo a simpatia dos alunos para o próprio movimento estudantil... Continue assim!
A pior coisa que um professor pode fazer é ficar preocupado se os alunos "gostam" dele ou não. Via de regra, o professor mais apreciado é o amigo da garotada, que dá nota e não cobra nada... Não é o meu caso mesmo! E, como já escreveu Claudio de Moura Castro, "o primeiro dever [do intelectual] é a impopularidade".
Já se os meus textos sobre o dito "movimento" atraem mais simpatia para ele ou não, pouco me importa. Quem fica tentando avaliar o efeito político-ideológico de suas palavras antes de dizê-las é o militante, e eu não sou militante. Professores e pesquisadores devem dizer o que pensam sem se preocuparem com o efeito político disso, e ponto final.
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