domingo, 3 de junho de 2012

Salário dos professores é menor do que no tempo de FHC. Mas vou aplicar prova na segunda

Antes de o PT chegar ao poder, as universidades federais faziam, em média, uma greve a cada dois anos e meio. Assim me contou um professor que está entre os mais antigos no meu departamento. Em dez anos de governo petista, tivemos muito menos greves, e bem menos mobilizadas. É que o PT paga melhor? De jeito nenhum!  O economista Pierre Lucena deflacionou os valores do salário de um professor doutor da classe adjunto nível 1 e descobriu que, em 2012, essa categoria ganha 8,2% menos do que ganhava em 1998! O governo FHC pagava mais e o PT ainda implementou uma reforma da previdência que dá continuidade àquela realizada pelos tucanos, conforme já comentei em outro post. 


Portanto, a menor mobilização grevista na Era da Mediocridade - como diz Augusto Nunes - deve-se à simpatia ideológica de muitos professores pelo PT, ao aparelhamento dos sindicatos por partidos de esquerda e à interesses corporativos (apesar dos pesares, o PT retardou a reforma o quanto pôde).

A grande ironia nessa história é que eu fiz uma greve no segundo mandato de FHC, mas não estou fazendo agora. Naquela época, havia pouco tempo que eu tinha sido contratado e não queria fazer greve, mas a paralisação de professores e funcionários foi absoluta, não havendo como furar a greve. Desta vez, porém, houve vários professores do meu Departamento que continuaram o trabalho, e então resolvi continuar também.

Razão de ordem salarial para fazer greve agora existe, mas não acho que greves de professores de universidades estatais sejam eficazes. Se eu fosse petralha (palavra que já está dicionarizada), faria greve só para prejudicar o governo de turno. Mas é como dizem os super-heróis certinhos, feito o Super-Homem: temos de ser melhores do que eles. Portanto, continuo com as aulas e vou aplicar prova na segunda.

Epa, mas os alunos da UFPR decidiram em assembleia que também vão entrar em greve! Só que todo mundo está cansado de saber que as instâncias de representação estudantil são pouco representativas, já que a UNE e outras organizações do gênero são tão aparelhadas quanto os sindicatos. Daí que os meus alunos resolveram tomar sua própria decisão. A turma da noite fez uma votação e a maioria optou por fazer prova na segunda que vem. Se a maior parte tivesse decidido entrar em greve, eu suspenderia a prova. Mas não foi o caso. A turma da manhã nem entrou em contato comigo. Pelo visto, são unânimes em continuar o semestre normalmente.

Que lições tirar dessa história toda? Que os ditos "movimentos sociais" não expressam interesses gerais da sociedade, mas apenas seus próprios interesses particulares. Que, no Brasil, as organizações de trabalhadores e de estudantes não representam adequadamente nem mesmo os interesses das categorias que deveriam representar. Finalmente, que o PT vive no melhor dos mundos: quando é oposição, usa os sindicatos e outros "movimentos sociais" para infernizar a população e ganhar votos com o desgaste do governo de turno; quando é governo, recebe dos sindicatos um tratamento que nem a sua política salarial justifica e ainda se beneficia das atitudes daqueles que, como eu, preferem ser coerentes a agir como petralhas. Que  partido ordinário!

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Hoje, 04 de junho de 2012, recebi um e-mail de um aluno da turma da manhã me avisando de que, em votação, a turma resolveu aderir à greve. Como eu já tinha me programado a ir para a UFPR nesta quarta, me disponho a aplicar prova para os alunos que quiserem fazê-la. Mas, conforme eu disse antes, respeito a decisão da turma. Vou aplicar prova quando a greve acabar e os alunos que não comparecerem nesta quarta não terão qualquer tipo de perda. As entidades de representação são falhas, então é melhor agirmos com base em acordos informais em grupos menores.

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