quinta-feira, 5 de julho de 2012

Lula e Maluf ilustram como é patética a unidade entre teoria e práxis

Ao ler as notícias sobre o recente pacto firmado entre Lula e Maluf para as eleições municipais na capital de São Paulo, veio-me à lembrança, pela milésima vez, o que os meus amigos petistas lá de Sampa conversavam comigo na época em que eu morava lá. Para eles, o PT não só era o único partido de verdade existente no Brasil, já que o único a pautar-se realmente por uma ideologia, como era também o "partido da ética"... E  essa soma de coerência de ideias, projeto social transformador e ainda retidão moral se refletia na recusa do PT em fazer alianças com políticos "de direita", "reacionários", "fisiológicos", e assim por diante. Durante oito anos, FHC foi crucificado por esses geógrafos petistas que, repetindo a discurseira dos políticos do PT, acusavam-no de ter feito uma "aliança fisiológica" com partidos desse naipe. Por sua vez, Maluf era retratado por eles como a quintessência de tudo o que há de nefasto na política nacional.


Bem, Lula chegou à presidência com um aliança que incluiu as mesmas forças que antes apoiavam o governo FHC. Desde então, sempre que ele e o PT elogiam e apoiam  políticos "de direita", como Sarney, Collor e outros integrantes da "base alugada" do governo (uma divertida expressão de Augusto Nunes), rio ironicamente ao me lembrar do que os meus amigos petistas pensavam. E sem falar que, depois dos escândalos da CPEM (já lá nos anos 1990...), Waldomiro Diniz, mensalão, sanguessugas, "aloprados", cartões corporativos, Banco do Nordeste (um dos mais recentes), Cachoeira/Demóstenes/Agnelo, etc., a velha imagem de "partido da ética" tornou-se a coisa mais irônica e ridícula que eu já vi na vida! Afinal, o PT tem muito mais coisas a explicar do que todos os outros partidos que os políticos petistas sempre chamaram de "quadrilhas", entre outras coisas.

Por tudo isso, não há nada a estranhar neste casamento de Lula com Maluf. Não sei como pode ter gente tão alienada ou ingênua a ponto de manifestar desapontamento com uma atitude que é mais do que coerente com tudo o que Lula fez nos últimos dez anos, pelo menos. Mas chamo a atenção desse caso apenas para mostrar como o postulado da integração entre teoria e práxis, no contexto de profunda crise do marxismo e de outras vertentes da teoria social crítica, conduz os geógrafos e outros cientistas sociais a situações que são de dar pena, ou seja, patéticas. 

Vejam só: usei acima a expressão "geógrafos petistas". Trata-se quase de um pleonasmo, posto que a maioria esmagadora dos geógrafos é formada por simpatizantes ou militantes desse partido. (Acho que o mesmo ocorreria se eu dissesse "sociólogo petista", mas enfim...). Essa é a prova mais visível de que os geógrafos atuais são filhos diretos da geografia crítica. E, exatamente como os geocríticos de primeira geração, não exercitam a autocrítica e nem sentem vergonha de cair no ridículo ao se manterem fiéis ao PT. 

Quem quiser continuar de esquerda e radical sem enterrar o postulado da unidade entre teoria e práxis tem de mudar sua opção de voto para algum partido do tamanho do PSOL. É simples assim. Mas devo agradecer àquela grande maioria que continua incoerente e fala como se tudo estivesse no lugar: esses são os que me fazem rir mais.

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