O número mais recente da revista Estudos avançados, da USP, é a prova de que o atraso ideológico e os problemas éticos derivados da mistura de pesquisa científica com engajamento político não são males apenas da geografia, mas de toda a ciência social brasileira. Como relatam Leandro Narloch e Duda Teixeira, a edição 72 dessa revista traz o "Dossiê Cuba", uma coletânea de 15 "artigos sem nenhuma intenção científica e peças de propaganda escritas por pessoas ligadas ao governo cubano".
Isso, por si só, já chama a atenção para os problemas de ética científica que surgem quando se abandona o compromisso com a objetividade e a neutralidade das pesquisas. Por que ter a preocupação de dar voz ao contraditório na discussão de um tema polêmico se toda escolha é ideológica? O melhor é que os editores da revista façam sua opção e mostrem só o ponto de vista que lhes interessa em função da ideologia escolhida. Daí nem é preciso se preocupar se os textos selecionados são mesmo científicos. Afinal, qual a grande diferença entre um pesquisador e um militante de partido, ou mesmo um funcionário de governo, se a ideologia é tudo e a objetividade científica não existe?
E essa publicação suscita ainda um outro problema ético, o qual diz respeito ao mau uso do dinheiro público empregado na divulgação de conhecimentos que deveriam ser científicos. Como escrevem os autores citados:
A revista "Estudos Avançados" funciona com fundos do governo federal e da USP, que por sua vez ganha 5% de todo o ICMS de São Paulo. São cerca de R$ 3 bilhões por ano pagos por empresas capitalistas e por cidadãos de todas as classes sociais, que vivem numa democracia com liberdade de pensamento.Não é justo que parte desse dinheiro ajude a mascarar a mais longa ditadura do mundo atual.
Quem quiser conhecer alguns detalhes sobre as mentiras de caráter propagandístico dos artigos publicados nessa revista, pode ler o texto completo de Narloch e Teixeira, cujo título, muito apropriado e irônico, é Revista de estudos atrasados.
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